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Fé no Carnaval

Não é todo mundo que gosta de carnaval. Grande parte – e já teve pesquisa que apontou que é a maioria – prefere usar os dias de folga para descansar, viajar.
Pode parecer, então, que faz parte desse grupo, os que optam por participar de retiros no feriado. Mais um refúgio contra a folia… Mas olhando para a história dos encontros de massa de carnaval, chamados Rebanhão, sou levado a pensar que não.
Desde seu início, no começo dos anos 80, esses encontros são acompanhados de um só enredo: a alegria. Os que participavam iam tão festivos com suas mochilas e bíblias para Cruzeiro (SP), que quem os encontrava pensava: que fantasia é essa? A concentração no ginásio era à base da boa música do Mensagem Brasil e Comunidade Canção Nova, comandados pelos (mestres de bateria?) Nelsinho Corrêa e Eugênio Jorge. Canções sacras ganhavam ritmo e tudo parecia um grande salão.
E a comissão de frente? Padre Jonas Abib (fundador da Canção Nova) puxava o louvor, a ação de graças e entusiasmava com suas pregações. Entre as que oravam estava Luzia Santiago (co-fundadora da Comunidade Canção Nova). Experimentava-se ali um gozo tão grande que ficava estampado nos rostos dos participantes: eram outras as expressões, pareciam outras as mesmas pessoas, ainda que sem alegorias e adereços.
Pregações, orações, missas, canções religiosas… Quem olha de fora pode duvidar do conjunto e “torcer o nariz”. Pois agora, enquanto você lê, tem gente desfilando pelo país indo para um desses encontros (o pioneiro ainda acontece em Cruzeiro e em Cachoeira Paulista (SP) tem o Acampamento de Carnaval). Saem até do Rio de Janeiro, Salvador e Recife em busca dessa harmonia. Por quê? Porque gostam de carnaval e não querem perder a oportunidade de “carregar as baterias”, de começar o ano cheio de alegria.
Na busca de dias felizes, há quem só ache possível entrar na folia via álcool ou extravasando sensualidade. O tema deste ano do Acampamento de Carnaval na Canção Nova, “Vem Louvar”, é um convite a uma evolução para além de quatro ou cinco noites. Para quem quer carregar ano adentro uma alegria sem efeitos colaterais indesejados. Para quem não se conforma com o Carnaval só uma vez por ano.

*Jornalista responsável da Revista Canção Nova e autor do livro “Ternura de Deus”, lançamento da Editora Canção Nova