Início Colunas Falto foco? (II)

Falto foco? (II)

Na coluna anterior, escrevi sobre o conceito freudiano do “princípio do prazer”, que se coloca à existência humana como um princípio das pulsões inconscientes, que prescrevem o sofrimento por meio de uma vida de distrações.
Nesse viés, defendi a falta de foco como um efeito desse princípio e como um mal moderno que atinge principalmente os adolescentes, por estarem mais à mercê do gigantesco aparato tecnológico/recreativo, o qual permite de modo fácil e confortante “fugir” da realidade pela via da distração – realidade que soa para muitos deles como coisa “chata”, “cheia de exigências”: a exigência do vestibular, a exigência do diploma, de uma vida bem sucedida profissionalmente, do domínio de no mínimo duas línguas, da multifuncionalidade, multi-informação etc..
Ou seja, uma realidade que eles a têm como vilã. Esse sentimento melancólico para com uma vida repleta de compromissos, de responsabilidades frente às exigências que se colocam, acaba por desorienta-los no relacionamento consigo mesmos, o que culmina no baixo desempenho nos estudos, no trabalho, na vida amorosa, familiar, entre outros.
A famosa expressão latina carpe diem (aproveite o dia), que antes podia ser entendida como “aproveite o seu dia para moldar a sua existência de acordo com os SEUS sonhos”, em virtude dessa realidade “chata” passa a ser entendida por simplesmente “aproveite o tempo livre para distrair-se/desprender-se”, o que de todo não é ruim, quando em equilíbrio. O ruim está na necessidade constante de distrair-se/desprender-se. Ora, desprender-se do que? Do caminho cheio de desafios e obstáculos que levam à realização dos sonhos?
Na grande maioria dos casos, trata-se do único caminho existente; e trilhá-lo não é fácil, é cheio de dor, de cansaço físico e mental. O que é certo é que ele necessariamente aponta para o fim desejado – e, verdade seja dita, nada supera o prazer de atingir o fim almejado, principalmente quando é um fim que predica de forma autêntica o sujeito desejante.
Entenda-se, portanto, que o caminho é inevitavelmente sofrimento, mas um sofrimento que, quando bem compreendido, bem ressignificado e/ou aceito, atravessa o indivíduo de forma saudável. Por outro lado, quando é entendido como um sofrimento fora da normalidade da vida, e que deve ser combatido ou então (mais usualmente) desviado pela via da distração, faz perder as rédeas da própria vontade (entenda-se “perder a vontade”), e o resultado é um sofrimento muito mais devastador.
O psicanalista francês Jacques Lacan chamou a isso de “gozo perverso”, um prazer desviante que leva a arrependimentos futuros e que destroça a vida lentamente. Tal gozo perverso atinge tão drasticamente a população, que Lacan chegou a afirmar que a lógica da modernidade é o “mais-gozar” (num trocadilho com a expressão marxista da “mais-valia”).
Em suma, a questão toda pode ser resumida assim: quanto aos objetivos que traçamos, existe um meio rápido e/ou fácil de atingi-los? Uma resposta idônea: por vias normais e lícitas, não! Por via da paciência, da prudência e da persistência, é bem possível!