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Falta foco? (I)

Você traçou uma meta para a sua vida, mas tem dificuldade em manter o foco nela? Bem-vindo(a) ao clube! A falta de foco é realmente um mal-estar moderno. Aliás, o psicanalista francês Charles Melman afirma que os adolescentes, sobretudo, sofrem desse mal, pois apresentam dificuldades imensas em detectar seu desejo; muitos, inclusive, são diagnosticados como sujeitos sem qualquer desejo.
Nessa condição desalentadora, os especialistas nos orientam para o seguinte: (I) é de crucial importância que toda a energia individual seja direcionada à questão “o que quero para o meu futuro?”; (II). Após obtida a resposta, o próximo passo é definir estratégias para a realização do fim almejado, sem desfocar a energia.
O problema, contudo, está no modo como a energia é direcionada. Ora, sua direção pressupõe dois caminhos. Vejamos a ambos, no quesito “como garantir uma vaga na Universidade”: existe um caminho ruim, ancorado no princípio do prazer, que pode ser entendido, grosso modo, pelas seguintes características comportamentais: (a) falta de organização nos estudos; (b) dificuldade em manter a atenção; (c) sobre a rotina de cálculos, leituras e redações, prevalece a rotina de seções de videogames, filmes, acesso ao ciberespaço, festas e horas excessivas entregues ao sono.
Já o segundo caminho, do princípio da realidade, é de todo diferente, pois incita o indivíduo a treinar sua consciência para manter a energia voltada ao fim que se propõe atingir, mas sedimentada em solo realista. Isso não significa que a rotina de lazer supracitada seja amputada, mas que deva vir em segundo plano e com limites bem definidos.
Trata-se de dois princípios conceituados por Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Em suma, afirmou ele, os indivíduos entregues ao princípio do prazer são muito dados às pulsões inconscientes, as quais desorientam a vontade frente aos eventos não prazerosos, levando o sujeito à fadiga físico-mental (à melancolia). Afirmou também, por outro lado, que o deixar-se levar pelo princípio da realidade faz prevalecer sobre o comportamento a regulação das pulsões, no sentido da economia e do reto direcionamento das energias psíquico-físicas.
Enfim, o princípio da realidade é por excelência o princípio que estabelece o fio condutor para as metas, mas também que regula a aceitação individual frente às circunstâncias externas. Senão vejamos: os sujeitos orientados pelo princípio da realidade ressignificam as frases (a) “é chato estudar” por “com ou sem chatice, é preciso estudar”; (b) “é um ‘saco’ isso tudo” por “sendo isso tudo um ‘saco’ ou não, é preciso seguir em frente”; (c) “é extremamente difícil ganhar” por “um dia a gente perde, no outro a gente ganha” (ou melhor – mais de acordo com os tempos atuais –, como diz a música: “um dia a gente perde, no outro a gente APANHA; e nem por isso a gente vai fugir da luta”).
Ou seja, é por este segundo princípio que aprendemos a aceitar melhor muitas das condições mundanas que nos limitam; é o que nos permite agir de forma mais orientada e manter o foco com maestria.