As forças de extrema direita mostraram-se mais explicitamente no contexto das eleições de 2014 do que em qualquer eleição recente. Vozes anti-governo, anti-PT e anti-Dilma passaram muito além da linha da oposição democrática.
Corrupção, desordem e anti-comunismo foram a pauta predileta dos grupos extremistas – militares da reserva, grupos policiais, neonazistas, setores empresariais, setores da classe média e de estudantes, saudosistas do regime militar e outros mais. Seus principais porta-vozes nas eleições presidenciais foram Levy Fidelix e Pastor Everaldo; no Legislativo, os deputados Jair Bolsonaro, Flavio Bolsonaro (eleito), Marco Feliciano e Silas Malafaia. No segundo turno, como se sabe, todos emprestaram seu apoio a Aecio Neves. A direita dita moderada aceitou sem pestanejar o apoio da extrema direita.
O PSDB e a oposição ora rejeitam, ora flertam com esses grupos. A impressão que ficou das eleições é que um “vale tudo” contra Dilma aproximou a centro direita e a extrema direita. Aí mora o perigo. O que preocupa não são propriamente os grupos extremistas e seus candidatos, por terem uma envergadura ainda modesta, e sim a aliança dos moderados com a extrema direita. Os extremistas estão conseguindo mais apoiadores ao difundir com êxito uma cultura anti-esquerda, cujo impulso é dado pela grande mídia (revista Veja, Globo, jornal Estado de São Paulo e outros veículos de linha mais liberal).
O avanço da extrema direita também tem a contribuição de intelectuais, jornalistas e artistas, incluindo personagens como Olavo de Carvalho, Arnaldo Jabor, Rodrigo Constantino e Lobão. A consistência teórica e estética deles pode ser discutida, mas não há dúvida de que emprestam um certo ar de “profundidade” a palavras de ordem que parecem tiradas do baú da Guerra Fria, como a suposta ameaça comunista ao país em razão da aproximação brasileira com Cuba e Venezuela e outros argumentos esdrúxulos.
Passadas as eleições, a tentativa de deslegitimar a vitória da Presidente Dilma levou essas forças às ruas, mesclando defensores do impeachment “legal” e de um novo golpe militar. Da caserna, mensagens de militares da reserva pregam sublevação e guerra civil. No Judiciário e no Ministério Público, algumas posturas dão a impressão de conivência com tais arroubos golpistas, por inação (salvo uma ou outra exceção) sendo exemplar o fato de “deixar por isso mesmo”(ou seja, apenas com um direito de resposta ao PT publicado de forma maquiada) a escandalosa tentativa de manipulação da revista Veja às vésperas da eleição.
Não é bom para a democracia que se deixe sem reação as manifestações da extrema direita. A reincidência de movimentos de rua das hostes direitistas precisa ser respondida com mobilização muito maior dos democratas. Não se trata só de defender o governo, legitimamente eleito. É preciso defender o respeito às regras democráticas. Essa luta deve ser a luta de todos, à esquerda e à direita. Nessa hora, quando “a onça for beber água”, será possível ver quem é democrata e quem é golpista. Talvez essa hora não chegue, mas é bom estar com os olhos bem abertos.