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Estou fora do grupo de risco, devo me preocupar?

Jovens também podem precisar de internação, mas nem por isso precisam temer a doença

Grasiel Grasel
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Mesmo com os decretos de calamidade e orientações de organizações de saúde internacionais para que as pessoas fiquem em casa, muitas delas fora do grupo de risco têm subestimado a pandemia. Embora a possibilidade de que alguém abaixo dos 60 anos morra em decorrência do Covid-19 seja baixa, uma eventual superlotação de hospitais e UTI pode aumentar as estatísticas, pois diversos dados mostram que uma porção significativa de infectados acaba precisando de atendimento. No entanto, especialistas da infectologia afirmam que não há motivo para pânico.
Segundo uma divulgação da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a estimativa é de que, a cada 100 pessoas infectadas pelo coronavírus, cerca de 15 precisam de internação hospitalar e cinco de tratamento intensivo. Este número pode parecer baixo, mas quando analisamos o número de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) no Brasil, ele mostra que é necessário ter precaução.
De acordo com um levantamento feito pela agência de jornalismo “Pública”, cerca de 80% das regiões de saúde do país não possuem o número mínimo de UTI’s recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), uma a cada 10 mil habitantes. No norte e nordeste do país está a maioria das regiões que não atende o requisito, onde mais de 50% delas poderiam não conseguir lidar com a pandemia.

ESPANHA ACOMPANHA CASOS
Para entender o novo vírus e controlar seus efeitos, muitos países e organizações de saúde têm acompanhado de perto os dados e estatísticas coletados a cada novo caso. Ao analisar as informações obtidas, governos e autoridades tomam suas decisões a respeito dos rumos que o combate ao Covid-19 pode tomar, no entanto, são poucos que estão conseguindo realizar este trabalho para além do número de infectados e mortos, o que dificulta a tentativa de mostrar os reais perigos do vírus.
A Espanha é um dos países que está realizando um dos melhores acompanhamentos de dados, coletando mais do que apenas o número de casos confirmados e mortes. Informações a respeito de condições de saúde dos pacientes e necessidades de atendimento também estão sendo divulgados.
Utilizando essa vasta gama de dados levantados pelo sistema de saúde da Espanha, o portal de notícias americano “Vox” realizou um levantamento nessa segunda-feira, 23, que mostra indícios de que a pandemia leva perigo não somente para os mais velhos, mas para todas as faixas etárias em algum nível:
0 a 9 anos – 129 casos confirmados, 34 (26%) precisaram de atendimento hospitalar, um teve que ser internado em UTI, nenhum óbito registrado até o momento.
10 a 19 anos – 221 casos de Covid-19, 15 (7%) receberam internação hospitalar, nenhum precisou de tratamento intensivo, mas um dos pacientes faleceu.
20 a 29 anos – 1.285 casos confirmados, 183 (14%) precisou de atendimento hospitalar, oito (0,6%) de internação em UTI e quatro morreram.
30 a 49 anos – 5.127 casos de pessoas com o novo coronavírus, 1.028 (20%) precisaram de atendimento em hospitais, 55 (1,1%) de tratamento intensivo e 12 acabaram morrendo.
50 a 69 anos – 6.045 casos confirmados, 2.166 (36%) precisaram de internação hospitalar, 221 (3,7%) acabaram parando na UTI e 83 vieram a óbito.
Acima de 70 anos – 6.152 pessoas infectadas, 3.388 (55%) deram entrada em hospitais, 199 (3,2%) precisaram de tratamento intensivo e 705 (11,4%) morreram, ou seja, muitos nem chegaram a entrar na UTI.
No Brasil, segundo dados divulgados na quinta-feira, 26, dos quase 3 mil casos registrados no país, 205 estavam hospitalizados em enfermarias e 194 internados em UTI, mas não se sabe qual é sua faixa etária ou condições de saúde preexistentes deste grupo. As informações foram compiladas pelo Ministério da Saúde, com estatísticas enviadas por secretarias de saúde estaduais e municipais.

EUA TAMBÉM PREOCUPA
Outro país que tenta manter um registro maior de seus pacientes é os Estados Unidos que, no entanto, ainda tem muitas dificuldades para padronizar seus dados e, portanto, em uma parcela considerável dos casos não se sabe se houve hospitalização ou internação em UTI. No dia 18 de março, quando o país registrava 9.197 casos de Covid-19 confirmados, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgou informações sobre hospitalizações de infectados que mostram uma proporção considerável de pessoas abaixo dos 60 anos precisando de atendimento.
Segundo o CDC, a cada 10 hospitalizações no país, 4 são de jovens e adultos, com idades entre 20 e 54 anos. O estudo também aponta que, dos 2,5 mil casos analisados, 508 foram levados a hospitais com sintomas mais graves, com quadro de febre alta, tosse e dificuldade de respirar. A letalidade, no entanto, permanece sendo mais alta apenas entre os mais velhos.

Nos EUA não existe um sistema de saúde pública universal, que cubra todos os custos relacionados com internações, e ter acesso a tratamentos no país é bastante caro. Muitas pessoas, inclusive, deixam de buscar um hospital por medo de não conseguirem pagar as taxas e custos envolvidos com os procedimentos ambulatoriais.

NÃO É MOTIVO PARA PÂNICO
Embora a situação seja de prevenção e preocupação principalmente com pessoas do grupo de risco, o médico infectologista do Hospital Santa Cruz, Marcelo Carneiro, afirma que a realidade de cada país é diferente e pessoas mais jovens e saudáveis não precisam ter medo, porque em algum momento a maioria já terá sido infectada pelo vírus e provavelmente terá sintomas leves. No entanto, ele explica é necessário garantir que isso aconteça de forma lenta, evitando que todos os grupos precisem de atendimento ao mesmo tempo.
De acordo com o médico, assim como todas as pandemias, a do Covid-19 terá um início, meio e fim. A doença não é classificável como uma “gripezinha”, como muitos têm feito, mas não justifica um pavor exacerbado. “A probabilidade de complicação para pessoas fora do grupo de risco é menor. Elas terão uma doença leve, auto controlável e limitada. No ano que vem já estaremos adaptados”, garante.
Carneiro também vê a possibilidade de um retorno gradual das atividades, mantendo em isolamento somente o grupo de risco e infectados. Segundo ele, o isolamento horizontal ou “lockdown” é mais recomendável para países com capacidade para realizarem um número muito grande de testes, como tem acontecido com a Coréia do Sul e a Alemanha.
Já o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, é um pouco mais radical e reforça a necessidade de cuidados entre os mais jovens. “Tenho uma mensagem para os mais jovens: vocês não são invencíveis. O vírus pode colocá-los no hospital por semanas ou até matá-los. Mesmo se vocês não ficarem doentes, as escolhas que vocês fazem sobre aonde vão podem significar a diferença entre a vida e a morte para outra pessoa”, disse em conferência virtual na semana passada, dia 21.

HOSPITALIZAÇÕES EM SANTA CRUZ
Três pessoas seguiam internadas com suspeita de Covid-19 nessa sexta, 27. O primeiro é morador de Rio Pardo. Tem 53 anos, apresentou febre, tosse, dor de garganta, desconforto respiratório e alterações no exame de imagem feito no pulmão. Ele tem histórico de hipertensão. Está internado no hospital Ana Nery, com quadro de saúde estável. O segundo é morador de Candelária e tem 4 anos. Ele apresentou febre, tosse, desconforto respiratório e, por causa de uma pneumonia, foi transferido do hospital do município para o Hospital Santa Cruz. Está na UTI pediátrica. E o terceiro é morador de Santa Cruz do Sul e tem 51 anos. Apresentou alterações nos exames de sangue e de imagem. Está internado no Hospital Ana Nery e o quadro de saúde é estável.