Ao conversar com colegas professores de diversas escolas em nossa cidade, pude perceber, através deles, que a grande parte de seus alunos do Ensino Médio tem se mostrado bastante interessada sobre o atual cenário político brasileiro. Creio que isso esteja ocorrendo em escolas por todo o país. A campanha presidencial parece ser o principal tema dos debates em aula. Ainda que marcado por muitas crenças e aparências, o interesse por esse tema é bastante salutar, na medida em que professores e pais podem encontrar nele uma excelente oportunidade de instigar a consciência política e a ética democrática entre os adolescentes.
Nesse sentido, para um início de conversa, seria útil lembrá-los de que todos os candidatos em campanha têm por motivação essencial reivindicar melhorias na vida das pessoas, ainda que por métodos ou meios radicalmente distintos. E para ilustrar um pouco essas distinções, por que não discutir com eles a constituição histórica das bases políticas que formam a “esquerda” e a “direita”, sem insistir nas digladiações ideológicas entre seus partidos, sobretudo as caricaturais? De que modo? Senão vejamos.
Em poucas palavras: para a direita, a iniciativa individual é a força motriz da sociedade. É ela quem deve ser encorajada e a quem deve ser dado os meios para sua florescência. As motivações individuais de sucesso, enriquecimento e projeção social são reconhecidas como “vícios privados” que impulsionam virtudes públicas. Os mecanismos são conhecidos: a vontade de vencer provoca a necessidade de educar, inovar, criar empresas, o que resulta em crescimento, oferta de emprego e, em geral, riqueza. Essa lógica, para dar certo, requer o mínimo de intervenção do Estado na economia, ou seja, um terreno mais amplo para a maior autonomia de iniciativa das empresas privadas.
Para a esquerda, contudo, o limite desse raciocínio é que ele não funciona tão bem quanto o esperado. A riqueza criada pelo crescimento beneficia apenas uma mínima parcela da população, o que leva a uma explosão de desigualdades entre as classes altas e as mais baixas. Por isso, é necessário mais regulamentação/controle estatal para uma distribuição mais justa de bens capitais e de serviços básicos para a subsistência. Em suma, a esquerda defende o argumento de que nem todos entram na vida com as mesmas armas e que, portanto, o mecanismo proposto pela direita só pode funcionar se todos começarem com a mesma bagagem e com condições circunstanciais, de capital inicial financeiro, cultural e simbólico, aproximadamente equivalentes. E é essa dimensão de equivalência que ela pretende promover para garantir a justiça social.
Muitos críticos alertam, contudo, de que ambas as visões carregam naturalmente alguma verdade e algum exagero. Nada é suficiente a ponto de ser um sucesso categórico. Nossos adolescentes devem estar cientes disso. Isso não os impede de se inclinar para um lado ou para o outro. O importante é entender os termos do debate e participar dele. Mas para que o mesmo seja lúcido, é crucial compreender que fomentar um imaginário de passionalidades, anestesiadas por boas doses de desumanização da esquerda e da direita, não corroboram a seriedade que deve conduzir quaisquer motivações políticas.