Não há no mundo uma só mulher e um só homem que não tome partido por algo. E não estou falando de partidarismos políticos. Falo da vida, e ela sempre nos impõe uma posição. Até por que posicionar-se é uma questão de honestidade frente ao outro. A neutralidade nunca deixará de ser uma atitude covarde, e também de posição.
Sim, estamos passando por um período difícil aqui no Brasil. Momento em que professores são agredidos, desmoralizados e afastados por conta de hipóteses vis de quem nunca esteve lá, nas salas de aula. Graduações, mestrados, doutorados, especializações, estar acima da média de leitura de qualquer País desenvolvido… Nada disso importa ou nos habilita quando a história retorna para os desavisados que nunca puseram os pés em nenhum educandário ou, sequer, verificam as lições nos cadernos dos seus. Contudo, doutrinados por um líder “maior”, essa mesma gente aparece bradando impropérios caso algum mestre resolva castrar símbolos ustristas, violentos e, por que não dizer, doutrinários, tudo já ‘mentalizado’ e trazido de suas próprias casas – o que é a forma mais acrítica, desumanizante e perigosa de tomar partido.
Semelhante à Coreia do Norte atual, na Alemanha, durante o período nazista, crianças também eram instruídas a entregarem seus professores e até mesmo seus pais ao regime, caso falassem mal do Führer. O que assusta muito, uma vez que é isso que a “Escola sem Partido” pretende disseminar.
De acordo com Paulo Freire, o intelectual mais detestado da nova direita tupiniquim: “O compromisso, próprio da existência humana, só existe no engajamento com a realidade, de cujas “águas” os homens verdadeiramente comprometidos ficam “molhados”, ensopados. Somente assim o compromisso é verdadeiro. Ao experienciá-lo, num ato que necessariamente é corajoso, decidido e consciente, os homens já não se dizem neutros. A neutralidade frente ao mundo, frente ao histórico, frente aos valores, reflete apenas o medo que se tem de revelar o compromisso. Este medo quase sempre resulta de um “compromisso” contra os homens, contra sua humanização, por parte dos que se dizem neutros.”
Freire foi exilado durante a ditadura de 64-85. Pablo Neruda, por defender os mineiros chilenos, também. Pois estamos retornando a um tempo onde o oprimido sonha ser opressor e, através da desonestidade jornalística e descompromissada, recebem voz e vão, com isso, tirando o pão da mesa dos mestres e ateando violência ao som de fofocas conspiratórias e doutrinadas/domadas pelas esquinas do ódio.