A pesquisa que rastreia a Covid-19 na população gaúcha mostra que a prevalência do coronavírus dobrou no intervalo de um mês no Rio Grande do Sul. Os números da sexta etapa do estudo, divulgados nesta quarta-feira, 29, pelo governo do Estado e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em transmissão ao vivo em redes sociais, apontam que há um infectado a cada 104 habitantes. Os dados estimam que mais de 108 mil pessoas (de 78.774 a 146.196, pela margem de erro da pesquisa) já adquiriram anticorpos para a doença na população gaúcha.
“Além de nos apresentar a prevalência do coronavírus entre a população, de mostrar como o vírus está se comportando, o estudo é muito importante porque, quando são testadas, as pessoas respondem a um questionário. Utilizamos essas informações para nossas projeções, e isso é de muita relevância para o Estado”, explicou a coordenadora do Comitê de Dados, Leany Lemos.
De acordo com o resultado dos testes aplicados nesta etapa, estima-se que haja 108.716 pessoas já com anticorpos no Estado, equivalente a 0,96% da população. Na rodada anterior, no final de junho, as projeções eram de 53.094 pessoas infectadas pelo vírus (0,47% da população).
Os novos dados estimam que haja um infectado a cada 104 gaúchos – na testagem anterior, havia um caso positivo a cada 214 pessoas; na quarta, um a cada 562 pessoas; na terceira, um a cada 454 pessoas; na segunda, um a cada 769 e na rodada inicial, um a cada 2 mil.
Para cada 1 milhão de habitantes do Rio Grande do Sul, estima-se que existam 9.556 infectados reais e 5.254 notificações. Para cada caso notificado, portanto, existem cerca de dois casos não notificados.
A sexta etapa do estudo Epidemiologia da Covid-19 no RS (Epicovid19-RS) é a segunda da nova fase de aplicação de testes rápidos que estabeleceu um intervalo maior entre uma rodada e outra. Porém, a pesquisa segue com a mesma metodologia das etapas anteriores. O resultado da quinta etapa, realizada entre os dias 26 a 28 de junho, foi divulgado em 1° de julho. Entre os dias 24 e 26 de julho, foram testadas 4,5 mil pessoas nas nove cidades selecionadas: Pelotas, Porto Alegre, Canoas, Santa Maria, Uruguaiana, Santa Cruz do Sul, Ijuí, Passo Fundo e Caxias do Sul.
Dos 4,5 mil testes, 43 tiveram resultado positivo para coronavírus: 18 em Porto Alegre; 9 em Canoas; 7 em Passo Fundo; 2 em Caxias, Santa Cruz do Sul e Santa Maria; e 1 caso positivo detectado em Ijuí, Uruguaiana e Pelotas. Na etapa anterior, foram 21 resultados positivos, o que indica que o número mais que dobrou neste intervalo.
Ao comentar o aumento da prevalência, o epidemiologista e professor emérito da UFPel Fernando Barros, responsável por apresentar os resultados, ponderou que a UFPel e a equipe de pesquisadores não têm uma receita prescritiva. “No momento em que existe aceleração da infecção, quanto mais fizermos distanciamento social, melhor é. Se o município resolve que vai fazer uma espécie de lockdown dois ou três dias, é melhor do que não fazer. Se puder fazer mais, melhor ainda, mas são decisões municipais com base no quadro de infecções e mortes que cada município apresenta”, comentou.
Uma vez que a sexta rodada mostrou prevalência de 0,96%, o governo do Estado e a UFPel decidiram antecipar a próxima rodada em uma semana. A sétima rodada, portanto, será entre os dias 15 e 17 de agosto. Essa antecipação estava prevista no termo de parceria sempre que o percentual se aproximasse ou superasse 1%. A oitava está prevista para ocorrer entre os dias 12 e 14 de setembro.
Letalidade
A letalidade baseada no total de casos é de 1,4%, com uma relação de 1.570 mortes para cada 108.716 casos. Isso porque a pesquisa considera que haja dois casos para cada notificação – ou seja, o Rio Grande do Sul não teria cerca de 59 mil casos confirmados, mas acima de 118 mil.
No entanto, se os dados considerados forem os casos confirmados, a letalidade é 2,6%, com 1.570 mortes para 59.779 casos.
“Se nos basearmos nas estimativas do estudo, o percentual de letalidade cai, mas é alto de qualquer modo. Estamos nos referindo a quem desenvolve a infecção pelo coronavírus, e não somente quem tem anticorpos, porque há casos assintomáticos. A ideia é que 1,4% das pessoas que desenvolvem a Covid-19% podem vir a morrer, e é uma taxa elevada”, alertou Barros.
Sintomas mais comuns
Os sintomas mais relatados pelas 43 pessoas que testaram positivo para o coronavírus foram tosse (51,2%), alterações no olfato/paladar (44,2%) e diarreia (37,2%). Dor de garganta (34,9%), febre (30,2%) e dificuldade para respirar (9,3%) também foram relatados. Essa foi a quarta vez que o estudo Epicovid19 divulgou resultados sobre os sintomas.