Uma conhecida expressão brasileira apregoa que, às vezes, estamos mais preocupados em quebrar o termômetro do que em socorrer o paciente. É comum encontrar esse tipo de atitude errônea na política. Muitos justificam os problemas do País devido ao nosso sistema presidencialista, asseverando que a mudança para o parlamentarismo seria nossa tábua de salvação.
No entanto, já tivemos duas vezes esse modelo: no Império e após a renúncia do presidente Jânio Quadros. O primeiro período durou de 1847 a 1889 e o segundo, de setembro de 1961 a janeiro de 1963. Não deu certo! A Itália está quebrada e vive um parlamentarismo instável, cujo resultado é um governo a cada 11 meses nos últimos tempos.
Na realidade, independentemente do sistema político, temos uma distorcida crença universal de que o endividamento do governo aumenta a riqueza do povo, supondo que os burocratas assalariados gastam mais corretamente do que os donos do próprio dinheiro.
É o que constatei no Reino Hachemita da Jordânia, que caminha pela mesma bússola da parlamentarista Grécia, com os seus gastos públicos crescendo de modo muito mais rápido do que a inflação. O seu orçamento subiu de dois bilhões de dinares, em 2000, para mais de nove bilhões, em 2018. É o mesmo sol da gastança pública que nasce no Ocidente e está se pondo no Oriente Médio.
Ou seja, a Jordânia, como já vinha ocorrendo na Grécia, está vivendo às custas de seus filhos. Sim, toda criança nascida hoje herda uma parte da dívida gerada pelo Estado. O déficit público é uma tremenda injustiça intergeracional, pois se trata, a rigor, de um empréstimo das gerações futuras para a atual. É fácil justificar a presente dívida para pagar os projetos que acreditamos sejam necessários, investindo nos segmentos que os gestores do erário consideram pertinentes.
Mas, pergunto, é justo reduzir a capacidade das gerações futuras de pagar por seus programas para que possam financiar nossos desejos atuais? O resultado é que os habitantes do amanhã terão menos recursos para realizar seus próprios empreendimentos, sejam quais forem, incluindo a meta de cuidar dos pobres e necessitados. Você e eu não podemos corrigir eventuais injustiças cometidas pelos nossos antepassados, mas deveríamos interromper o ciclo que prejudicará nossos filhos e netos.
Ou seja, temos de exigir que os políticos parem de gastar um dinheiro que eles não têm, ou pior, recursos que pertencem aos nossos descendentes. O gasto governamental é surdo e mudo, não importando as intenções daqueles que formulam o orçamento público, mas ele é real e será implacável com os jovens que herdarão as dívidas. Jamais devemos esquecer que todo déficit público, seja de um presidente, de um primeiro-ministro ou de um rei, é um roubo ao futuro de nossos filhos.
Thomas Jefferson, o principal autor da Declaração de Independência dos Estados Unidos e terceiro presidente do país, tendo governado de 1801 a 1809, já dizia, há mais de dois séculos, que, “a fim de preservar nossa independência, não devemos permitir que nos sobrecarreguem com a dívida pública (…). Temos de fazer nossa opção entre economia e liberdade ou confusão e servidão”. Pois bem, não podemos cercear o direito das futuras gerações de brasileiros de viverem numa nação sem os ônus de imensa dívida pública, desenvolvida e, portanto, verdadeiramente livre.
Antônio Cabrera Mano Filho, médico veterinário, é empresário do setor Rural. Foi ministro da Agricultura do Brasil (1990-1992).