Tenho uma breve teoria de que diante de tudo que passou, o brasileiro é um herói de ter chegado até aqui. Só com heroísmo para passar por tudo aquilo que vivemos nos últimos dois anos. Uma pandemia, um presidente e um País em ruínas. Desemprego, fome, miséria, pobreza. Gente na fila do osso. Gente desempregada. Gente com burnout. Gente que perdeu gente por conta da pandemia, do negacionismo e a falta da vacina. 2021 não foi difícil, ainda que 2020 tenha sido tão difícil quanto. Nesse ponto, eu me pergunto: há o que comemorar? O que comemoramos quando chegamos em frangalhos em uma época do ano onde a esperança deveria preencher os nossos corações?
A outra teoria que compartilho aqui com o leitor é de que vivemos uma sociedade adoecida e experimentando um luto coletivo. Afinal, foram 600 mil vidas perdidas. Tantos outros ficaram debilitados pelo vírus. Além disso, é claro, de todas as famílias despedaçadas pela perda de seus entes queridos. Por isso, a vida merece ser celebrada. E é por isso também que tanto me incomodam algumas coisas que se tornaram sinônimo do Natal.
O período de final de ano é recheado de consumismo, expectativas, nostalgia e sentimentalismo barato. Momento propício para propagandas de banco com animais, crianças, idosos, famílias sorrindo. Trazendo consigo as ideias e valores que não são aplicáveis aos bancos. Faz sucesso? Faz, é claro. Nesta época, todo mundo está esperando um pouco de amor ou ao menos um final de ano tranquilo.
Além disso, não há quem passe batido por um amigo secreto, confraternização de final de ano ou então a necessidade de dar um presentinho que seja. Dezembro inicia e qualquer trabalhador do comércio já pensa que vai ter que aguentar cliente chegando nos últimos 10 minutos em que a loja está fechando. Não é fácil lidar com gente. Agora, lidar com gente neste período do ano, precisando comprar algo bem específico em um curto espaço de tempo, aí sim que a tarefa se torna mais difícil.
Já a nostalgia é algo inerente ao ser humano. As redes sociais e TVs fazem retrospectivas, todo mundo lembra do furacão que aconteceu, das tristezas e desgraças que foram vividas, além dos fatos inesperados e surpreendentes. As retrospectivas dão um tom sentimental, como se o mundo avançasse rumo ao novo normal. No entanto, eu me recuso a acreditar na normalidade de um planeta que anda a passos largos para a sua destruição.
Por isso, mais do que os presentes, mais do que as propagandas sentimentais de bancos e grandes empresas, o que me toca de verdade é a vida. Estar vivo e vivendo um dia de cada vez, quando até isso foi negado como direito básico e elementar do ser humano por conta de governantes sem escrúpulos.
Então é Natal, não quero presentes. Quero poder viver a alegria que nos é contada somente neste período do ano, como se estar vivo e desfrutar do que é a vida só fosse permitido agora. Por um Natal que celebre a vida, Feliz Natal!