Guilherme Athayde
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O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2024 começou no último domingo, 3, para mais de 4 milhões de inscritos em todo o Brasil. Mais de dez mil locais receberam os estudantes para o primeiro dia de provas, que contou com questões sobre Ciências Humanas e Linguagens e Códigos, e também a redação. No próximo domingo, 10 de novembro, ocorre o segundo e último dia do exame, com questões nas áreas da Matemática e Ciências Humanas e Ciências da Natureza.
Dos 5.700 inscritos para a prova em Santa Cruz do Sul, 3.420 estudantes compareceram ao local do exame, uma abstenção de 39%.
Criado em 1998 como forma de avaliação das escolas e transformado processo seletivo em 2004, o ENEM é uma das formas de ingressar em uma universidade pública ou privada, e de participar de processos como ProUni (Programa Universidade Para Todos), que distribui bolsas de estudo parciais ou integrais para estudantes de baixa renda, do Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) e do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que seleciona estudantes para universidades públicas.
Para além da escravidão
Luiz Ricardo Pinho de Moura, coordenador da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE), com sede em Santa Cruz do Sul, considerou muito boa a temática da redação aplicada aos milhões de estudantes que fizeram a prova do ENEM no último domingo.
Moura destaca que o assunto da herança africana e o debate antirracista já é bastante aplicado nas salas de aula da rede pública estadual, e serve para lembrar a participação do povo negro na construção do Brasil
“Somos um povo brasileiro, totalmente heterogêneo, formado pelo branco, pelo negro, pelo índio, e todos tiveram sua importância. Até pouco tempo a gente olhava muito essa questão e tinha eles como lembrança de um trabalho árduo, de um trabalho escravo, mas muito eles contribuíram para a grandeza desse país. Muito ainda se deixa de destacar algumas pessoas negras tão importantes para a história desse país, seja na área da saúde, da educação, da pesquisa, da música, da dança, das artes. Eu vejo (o tema) como bem prudente, e acredito que cada vez mais temos que resgatar e estudar a fundo todos que contribuíram”.
Ampliar a visão da herança africana
Vice-Diretor Geral do Colégio Marista São Luís, de Santa Cruz do Sul, o Mestre em Educação pela UNISC, Anderson Roberto dos Santos, destaca o reconhecimento e a valorização da comunidade negra em relação ao tema escolhido pelo Ministério da Educação (MEC) para a redação do ENEM.
O educador lembra que em novembro é comemorado o mês da consciência negra no Brasil, e pela primeira vez, após a aprovação do projeto de Lei no dia 29 de novembro de 2023, a data foi consagrada com um feriado nacional. O tema da prova, segundo Anderson, é uma possibilidade de evidenciar a pluralidade da herança do continente africano na formação da nação brasileira.
“Pensar a herança africana presente no Brasil remonta a possibilidade da gente, como sociedade, olhar para todos estes aspectos da herança que os povos africanos trouxeram, e que vão ser, de alguma forma, compositores da nossa cultura”, pontua o Vice-Diretor do Colégio Marista São Luís.
“A gente costuma olhar isso de alguns aspectos mais tradicionais, dentro da cultura e do folclore, mas é importante a gente olhar para essa herança africana de maneira mais ampla. Cada vez que a gente consegue olhar pra essa herança e ver como que ela é constituidora da narrativa de identidade que a gente tem como país, ela fortalece um pouco a maneira como essa identidade se torna mais própria e mais próxima de todas as pessoas”, completa.
O próprio entendimento sobre a África e sua grande abrangência cultural, que influenciou fortemente o desenvolvimento da sociedade brasileira, é um dos aspectos positivos de se discutir o continente africano em um exame nacional do Ensino Médio, revela o educador.
“Olhar para esta herança é bem importante, ela passa, no meu entender, por abrir essa possibilidade de a gente conhecer cada vez mais o continente africano, suas culturas e potencialidades, para a gente identificar no nosso dia-a-dia quais são as heranças, pois elas estão aqui, basta a gente identificar e fazer a narrativa delas como a gente narra tanto as outras heranças de outros povos, trazendo uma pluralidade, pensando nessa multiplicidade que é o continente africano”, finaliza.