Pa. Glorinha Reneia Dexheimer Quinot
Era uma vez um homem cego que morava com sua irmã numa pequena aldeia. Costumava ficar sentado à porta de sua casa conversando com quem passava. Ouvia as pessoas e, quando necessário, oferecia bons conselhos. E como suas orientações sempre eram corretas, as pessoas perguntavam: “Como você consegue saber tanta coisa, sem enxergar?” E o cego respondia: “Eu enxergo com os ouvidos”.
Certo dia sua irmã se casou com um caçador de outra aldeia e esse também veio morar na mesma casinha. Mas o caçador não tinha paciência com o cunhado. Vivia dizendo: “Para que serve um homem cego? O que pode saber alguém que vive na escuridão?” E a mulher em defesa do irmão sempre dizia: “Meu irmão sabe mais coisas do mundo do que muitas pessoas que enxergam”.
Diariamente o caçador ia para a floresta colocar armadilhas. E depois de muito insistir, um dia o caçador enfim concordou em levar o cunhado. Assim, numa manhã, os dois seguiram para a floresta, o caçador carregando seus alçapões e conduzindo o cego pela mão. De repente, o cego parou: “Psss, um leão!” O caçador olhou ao redor e não viu nada. “Está tudo bem. Ele está dormindo. Não vai nos fazer mal”. Continuaram e de fato encontraram um leão dormindo à sombra de uma árvore. Então o caçador perguntou: “Como você sabia do leão?” “É que eu enxergo com os ouvidos”, respondeu o cego.
Andaram por mais algum tempo e novamente o cego pediu silêncio: “Psss, um elefante! Ele está dentro de uma poça d’água e não vai nos fazer mal”. Continuaram e de fato encontraram um elefante imenso, esguichando lama nas próprias costas. E mais uma vez o caçador perguntou: “Como você sabia do elefante?” “É que eu enxergo com os ouvidos”, repetiu o cego.
Num lugar apropriado, o caçador armou um alçapão e ensinou o cunhado a armar o seu.
Na manhã seguinte, foram cedo conferir as armadilhas. Mais uma vez o caçador se ofereceu para guiar o cego, mas esse disse: “Não precisa, agora já conheço o caminho”. E assim foram, com o homem cego andando na frente. Ao se aproximarem do local, de longe, o caçador viu que havia um pássaro preso em cada alçapão. Porém, o pássaro preso em seu alçapão era pequeno e feio. Já o pássaro no alçapão do cunhado era grande e bonito. Pediu então para que o cego aguardasse enquanto retiraria as aves das armadilhas. Retirou as aves e as trocou dando ao cego o pequeno pássaro feio, afinal “um homem que não enxerga nunca vai perceber a troca”, pensou ele.
O cego pegou o pássaro pequeno e feio. Enquanto retornavam para casa o caçador perguntou: “Já que você é tão inteligente e enxerga com os ouvidos, responda uma coisa: Por que há tanta desavença, ódio e guerra neste mundo?” E o cego respondeu: “Porque este mundo está cheio de gente como você, que pega o que não é seu”. O caçador se encheu de vergonha, devolveu o pássaro grande e bonito ao cunhado e pedindo-lhe desculpas. Depois de longo silêncio o caçador mais uma vez perguntou: “Já que você é tão inteligente e enxerga com os ouvidos, responda outra coisa: “Por que neste mundo percebemos também tantos sinais de amor, bondade e conciliação?” E o cego respondeu: “Porque este mundo está cheio de gente como você, que aprende com seus próprios erros e se dispõem a fazer o que é certo”.
E, a partir daquele dia, quando alguém perguntava ao cego: “Como é que você consegue saber tanta coisa, sem enxergar? Era o caçador que respondia: “É que ele enxerga com os ouvidos…” “E ouve com o coração”. (De: Hugh Lupton. In: Histórias de Sabedoria e Encantamento).
Que Deus nos oriente a ver mais com os ouvidos e sempre ouvir com o coração. Amém.
Cultos:
18.02: 19h30 – G. Adolfo, SC; 19.02: 9h15 – B. Pastor, SC; 9h30 – Centro, SC.