A data alusiva às mulheres, Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, na verdade é uma referência para que elas sejam valorizadas todos os dias. Cada vez mais conquistam espaços e se integram à sociedade. A busca por igualdade é constante, mas elas carregam em si uma grande força. Na edição de hoje do Riovale Jornal, daremos sequência aos depoimentos delas nas forças de segurança.
“A atuação da mulher nas forças de segurança vai além do empoderamento que isso representa”
“Há 21 anos que iniciei minha trajetória na Guarda Municipal de Santa Cruz do Sul, aos 30 anos, em 1º de março de 2001. Fui a primeira guarda feminina a ingressar na corporação, sendo também a primeira colocada naquele certame, considerando que não havia cotas femininas nessa época, quando foram chamados, inicialmente, apenas 10 aprovados. Somente em alguns meses mais adiante, do mesmo ano, foi chamada a segunda guarda feminina, permanecendo assim até 2015, quando ingressaram mais duas colegas. E hoje, em um efetivo de 68 guardas, somos apenas quatro guardas femininas. Realidade que está prestes a mudar, quando devem ingressar novas profissionais aprovadas no último concurso, que previa uma cota de 20% para suprir essa necessidade.
Nesses anos todos, já atuei em vários dos postos do quadro operacional da Guarda Municipal e no setor administrativo. Também já estive à frente da Ouvidoria da GM, e em duas ocasiões respondendo interinamente pela Corregedoria da mesma. No ano de 2014, concluí o curso de graduação em Tecnologia de Segurança Pública, pela Unisul. Atualmente, estou de volta ao setor administrativo onde também atuo como sindicante junto à Corregedoria, e de suplente junto à Comissão de Processos Administrativos Disciplinares da Prefeitura (PAD). Sempre participei das principais formações e capacitações pelas quais a Guarda Municipal se fez evoluir, nos seus quase 26 anos de criação, que irão se completar no próximo 14 de maio do corrente ano.
O maior desafio que encontrei na profissão, talvez, foi o de me manter em um nível de respeito e aceitação no grupo, o que sempre me fiz valer. O resultado dessa conquista é a convivência em um ambiente de igualdade e respeito mútuo.
Houve vários momentos que marcaram a minha carreira, mas os mais relevantes e positivos foram os de participar ativamente como um grupo nas primeiras e importantes conquistas para categoria, como a formação da corporação junto à Acadepol e de sermos a primeira equipe no Brasil a qualificar-se com a Academia Nacional de Polícia Federal, nos capacitando assim ao porte de arma de fogo. E entre outras tantas, também na aquisição das primeiras viaturas compradas e destinadas à Guarda Municipal. E junto à corporação vivenciar, infelizmente, algumas derrotas e perdas, inclusive humanas, que tivemos ao longo desses anos.
Para mim, a atuação da mulher nas forças de segurança vai além do empoderamento que isso representa, frente à visão de fragilidade muitas vezes atribuída a ela. É a demonstração da nossa capacidade em exercer igualmente qualquer profissão e atribuição que nos deleguem, fazendo crescer a atuação feminina em todas as áreas e trazendo junto todas as particularidades e o olhar que faz a diferença na hora de agir”.
“Missão desenvolvida de maneira eficaz e extremamente positiva”
“Entrei na Brigada Militar em 14 dezembro de 1998, com 20 anos. Me formei soldado em Porto Alegre, na Academia de Polícia Militar, e fui designada para a cidade de Venâncio Aires. Após nove meses, consegui transferência para Candelária, onde fui a primeira policial feminina a servir naquela cidade, onde residia na época com minha família, no ano de 2000. Em 2004, fui para a Escola de Sargentos na cidade de Caxias do Sul, vindo a me formar em 2005 na cidade de Pelotas. Trabalhei em várias unidades, como Vera Cruz, Pelotas, Imbé, Rio Grande, Cassino e São Lourenço do Sul. Em 2018, novamente fui para Porto Alegre, na Academia de Polícia Militar, e me formei no Curso Básico de Administração, sendo promovida a 1ª tenente. Então formada, fui para São Lourenço do Sul e posterior, em 2019, assumi o comando da Brigada Militar de Vale do Sol.
Costumo dizer que ser policial militar é um sacerdócio. Temos que ter vocação para o bom desenvolvimento dessa missão que é árdua, mas recompensadora, pois nela temos a oportunidade de vivenciarmos momentos ímpares e desenvolvermos nossa missão maior que é ajudar nosso semelhante, contribuir positivamente em determinado momento na vida de alguém. Isso sempre nos causa satisfação e sentimento de cumprimento do dever.
Chegarmos nas forças de segurança foi uma evolução, uma conquista de toda a sociedade, onde a mulher tem seu lugar de destaque e importância, pois essa missão é desenvolvida pela mulher de maneira eficaz e extremamente positiva para o seu desenvolvimento”.
“A mulher está presente em todas as profissões e não poderia deixar de atuar nas forças de segurança”
“Ingressei na Polícia Federal em 2003, tendo tomado posse na cidade de Foz do Iguaçu/PR. No ano de 2004, vim para o Estado do Rio Grande do Sul, tendo aqui trabalhado nas cidades de Santana do Livramento, Santa Cruz do Sul e Porto Alegre.
Uma coisa que podemos afirmar quando trabalhamos na segurança pública é que não existe rotina. Cada cidade tem suas peculiaridades, índices maiores ou menores de criminalidade, cabendo ao policial se aproximar da comunidade para conhecer seus problemas. A constante transformação da sociedade e a necessidade de adaptação das polícias me parece ser o maior desafio da atividade na atualidade. A rápida evolução tecnológica que testemunhamos nas últimas décadas impactou na atividade, demandando constante treinamento e capacitação dos policiais. A valorização e qualificação dos policiais são pontos chave para que tenhamos sucesso no combate à criminalidade.
Trabalhar na linha de frente de investigações, as primeiras operações policiais, é marcante para todo o policial. E comigo não foi diferente. Desde que ingressei na polícia, durante muitos anos conduzi investigações policiais. Atualmente, estou em uma atividade de gestão no órgão. É desafiador, mas todo o caminho e experiência que adquiri na atividade policial me ajudam muito nas funções de corregedora.
Um dos momentos especiais na minha carreira foi participar da implantação e inauguração da delegacia em Santa Cruz do Sul, no ano de 2007, chefiada na época pelo delegado Canabarro. Santa Cruz do Sul era um ponto estratégico para a Polícia Federal, em razão da importância do Município para o Estado. Trazer a Polícia Federal para atuar como mais um integrante do sistema de justiça.
A mulher está presente em todas as profissões e não poderia deixar de atuar nas forças de segurança. Muitas vezes, há pontos de vista diferentes com a presença feminina, o que é importante para a instituição e para a sociedade.”
Ana Souza
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