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Educação do Campo e Desenvolvimento Regional

A discussão em torno da Educação do Campo está voltada à importância da escola na reelaboração dos saberes da vida no campo, referência básica para a socialização e para a compreensão do meio onde se vive. Enfatiza a importância da afirmação de direitos populares na construção e implementação de políticas públicas, em que a educação é um dos pilares fundamentais.

O Brasil é um país de dimensões continentais que traz na gênese da sua estrutura fundiária a marca das capitanias hereditárias e das sesmarias, hoje configurados nos latifúndios, como expressão maior da concentração da terra no país.

Nas regiões coloniais do sul do Brasil, entretanto, surge uma estrutura fundiária que se diferencia da existente no restante do país, caracterizada por pequenas propriedades familiares, voltadas à produção para a subsistência do grupo familiar e para a venda de excedentes no mercado.

Nessas colônias, até meados do século XX, as escolas tinham um papel relevante. Eram Escolas Comunitárias, nas quais a docência era exercida por uma pessoa da comunidade, em geral aquele considerado mais apto à função, que recebia em troca, como pagamento, mantimentos produzidos pelos pais das crianças que frequentavam a escola.

O que particularizava aquelas escolas era o vínculo com as comunidades em que estavam inseridas, que se desfez a partir da década de 1950/60, quando várias foram extintas ou transformadas em escolas públicas municipais e/ou estaduais. Com essa mudança radical, a escola passou a ser um “elemento estranho” no contexto dessas comunidades rurais, tendo em vista que o professor vinha “de fora” e os conteúdos ensinados não tinham mais relação com a realidade das comunidades.

Que escola era essa? Uma escola planejada para “moldar” a população a partir de uma única compreensão de mundo: o mundo urbano industrial que começava a se desenvolver no país e que necessitava de mão de obra abundante e barata para “tocar” o chão de fábrica nas cidades. Esse processo explica o intenso êxodo rural na segunda metade do século XX, levando inúmeros jovens e famílias inteiras para as cidades, atraídas por empregos que garantiam salário no final do mês e por promessas de uma vida mais fácil.

Não há dúvidas de que essa escola cumpriu e continua cumprindo o seu papel!

Somente na virada do milênio, período em que o país começa a reconhecer a importância da Agricultura Familiar enquanto produtora de alimentos e, portanto, fundamental no processo de construção da soberania alimentar, é que uma nova concepção de escola começa a surgir no meio rural do sul do país. Trata-se da Escola Família Agrícola, cuja primeira unidade na região inicia suas atividades em 2009, no município de Santa Cruz do Sul, recebendo jovens de toda a região do Vale do Rio Pardo.

Tendo como eixo central de sua proposta a Pedagogia da Alternância, a Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc) coloca em destaque a força que provém da interação entre a Escola, a Família e a Comunidade, quando estas se colocam a serviço da qualificação dos jovens, filhos e filhas de agricultores familiares da região, para atuarem com autonomia e responsabilidade na produção de alimentos de forma sustentável, visando garantir qualidade de vida no meio rural.

Em 2015, essa rica experiência já estava multiplicada por quatro no Rio Grande do Sul, com a criação da Escola Família Agrícola de Vale do Sol (Efasol), da Escola Família Agrícola da Caxias do Sul (Efaserra) e da Escola Família Agrícola de Canguçu (Efasul).

A partir do exposto entende-se que o desenvolvimento das regiões em que a Agricultura Familiar se destaca, passa necessariamente pela ressignificação do papel da escola, referenciada na Pedagogia da Alternância, com a participação das famílias dos estudantes e de suas respectivas comunidades, alternada com a formação construída no ambiente escolar, visando promover a formação integral do jovem agricultor em técnico agrícola. É nesse contexto que os jovens do meio rural estão redescobrindo a possibilidade de construírem uma vida digna no meio em que vivem, disseminando qualidade de vida no meio rural e preparando o futuro das gerações que virão.

É nesse contexto que a Unisc, por meio do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, oferece um Curso de Especialização em Educação do Campo e Desenvolvimento Regional (www.unisc.br/pos), direcionado a docentes de escolas do campo, entre elas, as escolas agrícolas, as escolas fundamentais localizadas no meio rural e as escolas de ensino fundamental e médio dos municípios pequenos, extensionistas rurais e demais profissionais que trabalham com educação no campo. O curso, que se inicia em junho e ainda recebe inscrições, vem se somar aos esforços voltados à qualificação do processo ensino-aprendizagem, por meio da formação de docentes para atuarem nas Escolas do Campo e das Cidades da região.

Virginia Elisabeta Etges,
Professora da Unisc