Como conceito e como conjunto de práticas, a democracia não supõe um estado natural e dado. Ela está constantemente ameaçada, especialmente em tempos de crise. É por isso que o sistema educacional tem como objetivo primordial o desenvolvimento de ideias, atitudes e ações voltadas à defesa da democracia.
Assegurar o envolvimento dos cidadãos na vida social promove o estabelecimento de um sistema de escrutínio crítico de tipos de autoridade, de contestação racional de “dados” injustos, bem como o reconhecimento desse status como um direito inalienável. O cultivo dessa capacidade reflexiva desmantela interpretações subjetivistas sobre questões sociais, tomando por base a compreensão do funcionamento de processos mentais e de mecanismos inconscientes, suscitando a ação e as representações de sujeitos sociais atentos.
Esse cultivo é substancial, sobretudo em épocas em que são fortalecidas as intenções partidárias que pretendem inviabilizar a prática argumentativa supracitada, por meio de métodos de persuasão “psicológica” e mecanismos de projeção que constroem representações fantásticas de “eu” e “outro”. Para seus defensores, esses métodos e mecanismos agem contra posturas ideológicas oportunistas. Já para os observadores mais zelosos, sua execução culmina na formação de posturas equivalentes. Uma incongruência clássica.
Isso acontece, por exemplo, com certos ataques unilaterais à educação democrática (taxada de “tendenciosa” politicamente etc.). Além de enfraquecer as bases da própria democracia – tautologia que precisa ser dita –, a insistência nessas atitudes arbitrárias pode fazer eclodir a reprodução de supostos “lugares comuns”, indiscriminadamente pró-autoritários.
Se for consensualmente preferível elevar o conceito de cidadão de uma categoria jurídica para uma política, cujos membros têm efetiva participação no discurso público, com posicionamentos contundentes contra condições sistêmicas potencialmente opressoras, então é necessário encontrar alternativas à coexistência e à solidariedade, restaurando a questão crucial de abordar as dimensões sociais, culturais e econômicas com a devida propriedade.
Para tanto, se realmente se quer promover a consciência social esclarecida, é fundamental investir em um núcleo de ideias não fechadas. Nesse viés, o instrumento ideal é, sem dúvida, o diálogo.