Lucca Herzog
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A Semana do Meio Ambiente de Santa Cruz do Sul começou, e a atenção da comunidade está voltada para um dos maiores bens da cidade, que a diferencia de muitas outras pelo país. “Poucas cidades no Brasil têm essa riqueza. Não a 10, 20, 30 km do centro, mas aqui, ao lado”, ressalta Cesar Cechinato, secretário municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, e presidente da ACI (Associação Comercial e Industrial).
Cesar refere-se ao Cinturão Verde, patrimônio natural e essencial para a sustentabilidade da vida dos santa-cruzenses. Durante a manhã de segunda-feira (29), o painel de abertura da Semana iniciou os debates sobre o tema “O nosso cinturão verde e a qualidade de vida”. Na sede da idealizadora ACI (Rua Venâncio Aires, 633), autoridades, especialistas e entusiastas reuniram-se para discutir sobre esse único assunto, que não por isso deixa de ser complexo e abrangente. “Trata-se de um recurso natural, e isso remete a muitas coisas”, explica Débora Leonhardt da Silva, Embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB) de Santa Cruz.
Na ocasião, estiveram presentes algumas figuras de destaque na área ambiental da região, como a arquiteta Patricia Assmann, representando a Secretaria Municipal de Planejamento e Governança do município. Em sua fala, Patricia destacou que a área do Cinturão não é uma UPP (Unidade de Preservação Permanente), nem uma UPA (Unidade de Preservação Ambiental), mas uma Zona de Ocupação Controlada, com critérios de ocupação mais restritivos em relação às outras zonas da cidade. Para ela, esse formato de distribuição não é consenso, o que torna ainda mais importantes os espaços para a discussão sobre a temática. Além disso, outro ponto esclarecido é o fato de que a maioria dessas áreas não é pública, sendo que apenas algumas foram doadas ao Governo.
Outro painelista que contribuiu para a reflexão foi o geólogo José Alberto Wenzel, analista ambiental na Fepam e ex-prefeito de Santa Cruz entre 2005 e 2008. Wenzel defendeu a transformação da área em uma Unidade de Conservação. Para ele, a melhor alternativa é pensar no futuro, por meio de um diálogo consciente entre todas as partes interessadas: proprietários, Secretarias, Ministério Público, pesquisadores e, principalmente, a comunidade no geral. “Sem conhecer, não vamos cuidar. Formar, informar e comunicar. Temos que manter um canal de comunicação permanente e continuado com a população”. O geólogo sugeriu uma visão integradora da cidade, do Cinturão e de todas as riquezas naturais do município, o que, entre outros benefícios, incentivaria o turismo na região, produzindo emprego e renda. Propôs também a criação de um “Fundo Cinturão Verde”, a isenção de IPTU para proprietários na área e uma iniciativa educativa e mais enfática de remarcação do perímetro.
Já o pesquisador Patrik Gustavo Wiesel, doutorando em Tecnologia Ambiental na UNISC, fez um panorama da biodiversidade do local, que, entre outras diversas funções, atua na regulação climática e no sequestro de carbono. Wiesel explicou que o Cinturão faz parte da Mata Atlântica, e que algumas extensões do local foram já utilizadas para uso agrícola e de criação. Hoje, muito já está recuperado, mas o cientista levantou alguns dos desafios atuais para a preservação do bioma. Entre eles: a proximidade de residências e construções urbanas, o contato entre animais silvestres e domésticos e a introdução de espécies botânicas exóticas na mata, o que desequilibra o ecossistema como um todo. Ressaltou, por fim, que esses problemas podem ser resolvidos com um “bom plano de manejo de arborização urbana, e com o trabalho sobre a biodiversidade nas escolas”.
Na oportunidade, também houve o lançamento de um e-book sobre o Cinturão de Santa Cruz, que contém a localização, os recursos hídricos, a história, a biodiversidade e outras informações relevantes desse ecossistema. Esta novidade, junto com as falas dos palestrantes, pode ser conferida nas plataformas do Youtube e Facebook da ACI.
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Ao longo da Semana do Meio Ambiente, mais de 30 ações serão desenvolvidas sobre temas como reciclagem e sustentabilidade.
Débora da Silva, coordenadora do evento, ressaltou que a programação foi organizada de forma colaborativa, envolvendo entidades, empresas, universidade e setor público. Este ano, a Semana do Meio Ambiente acontece de 29 de maio a 5 de junho. “Fazer com que a população realmente conheça uma das maiores riquezas naturais da cidade, entenda a sua importância e desenvolva o senso de pertencimento ao cinturão verde, auxiliando na sua preservação, é um dos objetivos desta inciativa”, afirma Débora.
Conforme a diretora de Gestão Ambiental e Sustentabilidade da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade (Semass), Josiane Frantz, a programação de 2023 está focada em atividades que causem maior interatividade e impacto para a população. “Mesmo com currículos interdisciplinares nas escolas que estão direcionando para a Educação Ambiental, a repercussão na realidade é muito pequena. Para mudar este cenário, buscamos novas formas de pensar que enfatizem a inter-relação entre sociedade, economia e meio ambiente”, salienta.
Apostando na educação e na formação da população para superar os desafios da preservação ambiental, a programação também investiu em uma série de atividades em escolas públicas e privadas, como concurso de desenho, plantio simbólico de árvores nativas e palestras. “Ao atingir o público infantil, a gente impacta a família inteira. As crianças nos cobram muito para que a gente faça as coisas certas”, afirma Débora da Silva.