Para quem gosta de futebol e rádio, um dos programas prediletos certamente é o “Sala de Redação”, da Rádio Gaúcha. A primeira vez que eu o ouvi, foi em 1993, ano em que completei meu décimo-terceiro aniversário. Na época, o “Sala” era composto por Ruy Carlos Ostermann, Paulo Sant’Ana, Lauro Quadros, Kenny Braga, Cláudio Cabral e Pedro Ernesto. Lembro, na época, de um momento interessante entre Kenny e Cabral, ambos colorados, durante uma edição do programa.
O “problema” em questão era o célebre título gaúcho do Grêmio em 1977. A conquista tricolor foi um tanto traumatizante para a torcida colorada, pois o Inter era octacampeão gaúcho consecutivo (1969 a 1976) e sonhava com o nono título estadual em sequência. No Estádio Olímpico, em 1977, o centroavante André Catimba fez o único gol do Gre-Nal que deu, ao Tricolor, o ansiado campeonato que não era conquistado pelo clube desde 1968.
O campeonato do Grêmio representou uma das consagrações na carreira do técnico Telê Santana. Entre outras conquistas, Telê é um caso raro de treinador que foi campeão estadual nos quatro maiores centros do futebol brasileiro: foi campeão paulista (pelo São Paulo), carioca (pelo Fluminense), mineiro (pelo Atlético) e gaúcho (pelo Grêmio).
Além de quebrar a sequência de títulos do Internacional, o Campeonato Gaúcho de 1977 representou o início de uma grande fase do Grêmio, que culminou com o título mundial em 1983.
Em um “Sala de Redação” transmitido em 1993 ou 1994, não lembro bem o ano, Kenny Braga se lamentava devido ao título perdido pelo Inter em 1977. Cláudio Cabral respondeu para ele logo em seguida: “Mas, Kenny, o Inter foi campeão gaúcho em 1978”. O Cabral meio que estava “puxando a brasa para seu assado”, pois ele, Cláudio Cabral, foi diretor de futebol do Colorado em 1978.
Independentemente da questão pessoal do Cabral, o comentário dele sintetiza bem como é a relação entre Grêmio e Internacional: um tentando superar o outro, sempre. Um constrói o Olímpico, o outro faz o Beira-Rio; um constrói a Arena, o outro cria um novo Beira-Rio. Um é tricampeão brasileiro; o outro é campeão mundial; e depois, quem não era campeão mundial, acaba chegando lá também.
Conheço um colorado que se lamentava por um título gaúcho que o Inter havia perdido para o Grêmio em 2010. Eu disse a ele: “Calma, o Inter foi campeão gaúcho em 2011. Sem falar que, no mesmíssimo 2010, foi bicampeão da Libertadores”. Enfim, muitas vezes, as perdas nos enganam e parecem ter mais valor que os ganhos. Tire a sua própria conclusão.