Ana Souza
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A hora do parto é um dos momentos mais emocionantes para os pais e toda a família. Ao longo da gestação muitas dúvidas surgem e também algumas inseguranças e é neste ponto que entra o trabalho de uma doula. É a assistência na hora do nascimento do bebê, com acompanhamento da gestante durante o período da gestação até os primeiros meses após o parto, com foco no bem-estar da mulher. Este apoio emocional é exercido pela enfermeira Carmen Lúcia Kappel, de Santa Cruz do Sul. Ela está começando e já teve um parto normal com muito sucesso no dia 18 de julho, no qual viu que seu caminho está certo – acompanha mais três parturientes.
Após concluir o curso de Enfermagem na Unisc, em 2021, Carmen despertou o interesse em fazer algo para ressignificar a sua vida depois de perder a filha Marciele. “Trabalhei por muitos anos na área da saúde. Comecei a procurar mais informações sobre cursos e aperfeiçoamentos, onde me inclinei para a profissão de doula, que na realidade é muito antiga”, revela.
De origem grega, a doula foi utilizada pela primeira vez na década de 1970 para designar as mulheres que oferecem apoio físico, emocional e suporte cognitivo a grávidas e sua parentela. “Fiz o curso de Educadora Perinatal pela 3 Marias, um curso de formação de doulas, e de Educadora Perinatal pela Matriusca de Brasília. Era uma cooperativa de doulas, onde tive muita sorte de ganhar uma bolsa 100%. Foi aí que me apaixonei pela qualidade do atendimento e humanização com as pacientes.”
O apoio profissional recebido durante o trabalho de parto e pós-parto aumenta as sensações de bem-estar da mãe e ajuda no combate à depressão. “O papel da doula é oferecer suporte emocional através da presença contínua ao lado da parturiente, fornecendo encorajamento e tranquilidade, carinho e palavras de apoio, favorecendo a manutenção de um ambiente tranquilo e acolhedor, com silêncio e privacidade”, explica Carmen. “A doula oferece medidas de conforto físico através de massagens, relaxamentos, técnicas de respiração, banhos e sugestão de posições e movimentações que auxiliem o progresso do trabalho de parto e diminuição da dor e desconforto, além de suporte informativo explicando os termos médicos e os procedimentos hospitalares.”
Antes do parto, a doula orienta o casal sobre o que esperar do parto e pós-parto. Explica os procedimentos comuns e ajuda a mulher a se preparar física e emocionalmente para o grande dia. Também atua como uma ponte de comunicação entre a mulher, sua família e a equipe de atendimento, fazendo os contatos que a mamãe desejar. “É importante deixar claro que a doula se faz importante até mesmo num parto cesárea, no qual continua dando apoio, conforto e ajudando a mulher a relaxar e se tranquilizar durante a cirurgia”, reforça Carmen.
A doula não realiza qualquer procedimento médico ou clínico, como aferir pressão, toques vaginais, monitoração de batimentos cardíacos fetais ou administração de medicamentos. Não é sua função discutir procedimentos com a equipe ou questionar decisões. “Nós somente substituímos o acompanhante escolhido pela parturiente se esse for o desejo dela. Fora isso, orientamos o acompanhante a ter uma participação mais ativa no processo, sugerindo formas de prestar apoio e dar conforto à mulher”, enfatiza.
Carmen orienta contratar uma doula assim que a gravidez é descoberta. “Ela pode ser contratada em qualquer período da gestação, mas o quanto antes melhor, pois precisa haver empatia entre ela e a gestante para que exista confiança e cumplicidade no momento do parto. Cada doula tem um jeito de trabalhar e você deve escolher a que melhor se adequa às suas necessidades”, explica.
A dificuldade em buscar emprego foi um dos fatores apontados por Carmen para escolher a profissão de doula. E ela acredita que acertou, pois a função se tornou uma paixão. “Creio que cada parto e família são únicos. Abraçar a família e vivenciar intensamente esse ritual sagrado da preparação, parto e nascimento. Saí do meu primeiro parto quebrada, mas feliz por ter contribuído para a chegada daquele bebê, para a vida que surge depois de tamanho esforço e entrega. Cada história será um momento de superação para nós, mulheres. Espero que outros profissionais se aperfeiçoem nessa causa.”
MOMENTOS MARCANTES
Um momento muito importante e inesquecível para Carmen foi o pré-parto e nascimento de Lorenzo. “A Cátia e o Douglas estavam muito bem informados de tudo, então foi muito lindo. Ver toda a natureza da mulher ali na sua frente é algo incrível, entender que tudo tem seu momento e que tudo se movimenta na hora certa. Me vi ali no lugar dela, pensando o quanto é importante ter alguém par te explicar e segurar a mão no momento certo. Às vezes a falta de informação faz as mulheres desistirem de um momento que só nos podemos ter.”
Um desafio, para ela, foi estar fora do trabalho em hospital. “É muito difícil ficar fora do ambiente de trabalho quando você faz por muitos anos. Assim como ajudar a gestante em possíveis casos de intervenções sem tomar decisão por ela. Você vai entender como pequenos ajustes nas informações passadas para gestantes fazem elas se sentirem mais seguras para tomarem as melhores decisões, e que nem todas intervenções são necessárias, saber o limite de cada intervenção e quando é indicada”, finalizou.
Autoridades veem benefícios na profissão
De acordo com o Ministério da Saúde, a presença da doula durante a gestação e o parto é algo acolhedor. O apoio emocional dado por essas profissionais é bom não somente para a gestante, mas também a seus familiares. E outros resultados são atribuídos à contribuição da doula, além das melhorias na qualidade do atendimento às parturientes. Há evidências científicas que comprovam os benefícios do acompanhamento à grávida.
O apoio durante o trabalho de parto promove as seguintes vantagens: trabalhos de parto em menos tempo; experiência de parto mais positiva e satisfatória; partos menos dolorosos; menos cesáreas desnecessárias; menor risco de parto com fórceps; recém-nascidos com menos dificuldades respiratórias; menor risco de depressão pós-parto; início mais imediato da amamentação.
“Muitas pessoas acham que doula não acompanha cesárea. Sim, nós acompanhamos. A doula não se resume somente ao parto, ela exerce um papel importante durante a gestação e também no pós-parto. E a doula se encontra disponível para ser o apoio da mulher, esclarecer todas as dúvidas que surgirem, para explicar como ocorre a cesariana, para explicar todos os eventos fisiológicos que estão acontecendo em seu corpo e toda mudança emocional que pode ocorrer. Doula é informação e empoderamento para mulher nesse momento tão transformador. No pós-parto, está presente para garantir uma conexão melhor do bebê com a mãe, auxiliar no possível com a amamentação para que seja um momento prazeroso, e diminua as chances de depressão pós-parto. Afinal, só por esse resumo já deu para entender como a doula não se resume somente no momento do parto.”
Para se tornar uma doula, não é necessário ser uma profissional da saúde, mas precisa ter uma formação específica na área da doulagem, explica Carmen. “Uma dica importante é buscar cursos de formação desenvolvidos com base nas últimas evidências científicas, pois, apesar de não precisar ser profissional da saúde para ser doula, é necessário se atualizar constantemente, seguindo fontes de informação confiáveis. Lembre-se de que você irá lidar com vidas, emoções e sonhos, então precisa estar preparada tanto no âmbito teórico quanto no prático. E principalmente perceber que tem vocação para isso, precisamos de doulas qualificadas para continuar ajudando na missão de resinificar o parto e ajudar mulheres a se empoderarem e reassumirem seu protagonismo”.