A continuidade da agricultura familiar e a modernização das lavouras dependem da criação de estratégias para fomentar a permanência dos jovens no campo. São eles que estão mais abertos às mudanças, às tecnologias e às novas formas de trabalhar e, por isso, serão os futuros responsáveis pela produção de alimentos e outros insumos para abastecer as cidades. Nesse processo, a educação tem se mostrado uma grande aliada, como no projeto desenvolvido pelo programa Alcançando a Redução do Trabalho Infantil Pelo Suporte à Educação (ARISE) junto à Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (EFASC), no interior do Rio Grande do Sul.
Educação profissional voltada ao campo
Um dos pilares de atuação do ARISE é a atuação nas políticas públicas ligadas à educação. No caso da Lei das Cotas de Aprendizagem (10.097/2010) – que obriga as empresas a ofertarem até 15% de suas vagas para jovens aprendizes de 14 a 24 anos – era preciso encontrar uma solução para os jovens do campo, levando-se em conta que os adolescentes são uma parcela da população bastante vulnerável ao trabalho infantil, pois não possuem o acesso a políticas públicas de transporte, merenda e outras facilidades para a permanência na escola. Além disso sentem-se mais empoderados fisicamente, facilitando a sua inserção precoce no mundo do trabalho.
O primeiro passo foi possibilitar o cadastramento da Associação Gaúcha Pró-Escolas Famílias Agrícolas (AGEFA) como instituição qualificadora para a ocupação de Técnico Agrícola, adaptando o seu currículo às necessidades de qualificação para estar alinhado à Lei de Aprendizagem. Dessa forma, tornou-se possível a admissão de aprendizes por meio do mecanismo legal das Cotas Sociais. Com isso, qualquer empresa pode adequar-se aos termos da Lei da Aprendizagem realizando apoio ao desenvolvimento dos jovens, sem a necessidade de hospedar os aprendizes dentro da empresa. Esse é o grande diferencial da inciativa.
Com essa adequação, o ARISE deu início a um projeto-piloto com a EFASC, que passou a oferecer o programa Jovem Aprendiz Rural. Funciona assim: adolescentes estudantes do campo em vulnerabilidade social recebem meio salário mínimo de empresas com dificuldades práticas para alocar aprendizes em suas instalações, seja por causa da característica das atividades desenvolvidas ou pelas limitações do local de trabalho. Mas os jovens não ficam nessas empresas. Eles trocam o expediente por aulas dentro do curso técnico.
Além das horas de formação na escola, em que o conteúdo programático já está adaptado à realidade do jovem do campo, há as horas de aplicação do conhecimento nas propriedades. Dessa forma, os estudantes alteram tempo e espaço escolar e tempo e espaço família/comunidade, de acordo com a proposta metodológica da Pedagogia da Alternância. Ao final do curso, eles recebem certificado de qualificação profissional e podem atuar em projetos produtivos que contribuam e fortaleçam a agricultura familiar e permanência no campo.
“Por meio de ações que promovem mudanças socias e nas políticas públicas, o ARISE tem conseguido contornar a evasão escolar, combater o trabalho infantil e formar uma nova geração de agricultores qualificados e preparados para lidar com os desafios do campo. Da observação dos desafios dos jovens no campo, nasceu uma iniciativa pioneira entre setor público, setor privado e sociedade civil”, diz Flavio Goulart, diretor de Assuntos Corporativos e Comunicação da JTI, empresa mantenedora do ARISE.
O ARISE também auxiliou a EFASC na compra de equipamentos e na melhoria de suas instalações, mudanças necessárias para garantir a qualidade do ensino. “Essa iniciativa é uma das alternativas diretas para o combate ao trabalho infantil no meio rural, pois ela garante a permanência dos jovens nas escolas enquanto têm a oportunidade de relacionar os estudos na escola com a vivência protegida e supervisionada no ambiente socioprofissional, que ocorre na propriedade da família ou na comunidade”, afirma Goulart.
Investimento em educação sempre dá resultados
Catiucia Luisa Neitzke, 19 anos, e Felipe Antônio de Moraes Lopes, 18 anos, são dois jovens beneficiados pelo projeto viabilizado pelo ARISE. Há três anos, quando entraram na escola, os dois filhos de agricultores só conseguiam ver uma possibilidade de futuro na cidade. “Meus planos não eram continuar na lavoura, pois sempre diziam que não ia valer a pena e que não havia perspectivas. Mas quando eu entrei na escola, minha visão mudou, eu comecei a olhar com mais atenção ao meu dia a dia, ao que eu faço e passei a dar valor ao que eu tenho”, conta Catiucia.
Felipe vai na mesma linha e afirma que a possibilidade de fazer uma produção natural modificou suas perspectivas. “Eu nunca tinha visto a propriedade ir para frente e, por isso, eu sempre queria sair dela. Aí depois que eu comecei a estudar aqui, foi me abrindo os olhos e os caminhos. Aprendi muito sobre cultivos orgânicos e vi que não era preciso gastar com insumos químicos, que é possível produzir quase tudo que preciso para continuar o cultivo”, afirma.
“Antigamente, havia a ideia de que para ser agricultor não era necessário estudar. Aqui, a gente pensa justamente ao contrário: essas duas atividades precisam andar juntas. Não vai existir um futuro na agricultura sem a educação”, afirma o membro da coordenação da EFASC, Adair Pozzebon, ressaltando a importância da interlocução entre o saber popular e o saber científico no processo educativo da instituição.
Na propriedade de Catiucia, um dos maiores aprendizados que ela teve foi a implementação de novas práticas conservacionistas. “Além do que a gente já conhecia com a experiência dos meus pais, a gente vem aprendendo muito mais. Além de começar a focar mais na produção de orgânicos, apliquei a “técnica de curva de nível para evitar a erosão do solo”, conta. Já uma das mudanças mais significativas para Felipe foi o aprendizado que teve sobre as sementes crioulas. “Elas são sementes que não podem ser encontradas em qualquer lugar. Muitas vezes, vêm há gerações sendo cultivadas em uma família e são parte de sua tradição”, explica.
Durante seus estudos, Felipe descobriu que a família de sua mãe produziu durante muito tempo arroz-crioulo. Porém, eles haviam perdido esse costume e não possuíam mais as sementes. Foi então que ele as conseguiu nos encontros de semente crioulas realizados em Sinimbu e Passo do Sobrado, duas cidades do interior do Rio Grande do Sul. Com elas em mãos, seu avô o ensinou a cultivar e agora ele pode seguir com a história da família. “Eu não sabia o que era isso e ano passado eu produzi arroz orgânico, feijão e milho de sementes crioulas. Se eu tivesse ficado em uma outra escola, eu não tinha conhecido nada disso”, afirma.
Com o investimento do ARISE em educação, diversos jovens, como Catiucia e Felipe, têm tido a oportunidade de estudar sem se preocupar com a questão financeira e sem a necessidade de trabalhar, além de passarem a ver nas propriedades rurais uma possibilidade de futuro. “Meus planos são continuar na agricultura. Com a análise que eu fiz até agora, eu teria capacidade de investir na piscicultura e ampliar meu conhecimento sobre produção de milho para silagem e para venda. Porém, ainda estou construindo o meu projeto e avaliando qual a melhor oportunidade”, afirma Catiucia. Já Felipe tem o desejo de investir cada vez mais na produção orgânica e ter um cultivo sustentável, além de, depois de se formar, começar um curso de graduação.
Impactos do Programa de Aprendizagem Rural viabilizado pelo ARISE
• 49 aprendizes da região em situação de vulnerabilidade social ou baixa renda foram beneficiados desde 2018.
• 12 jovens aprendizes foram efetivados pelas empresas parceiras do programa.
• 89,8% dos egressos da escola mantêm vínculo com o campo.
• 3 Escolas Família Agrícola do Estado do Rio Grande do Sul possuem cadastro ativo junto ao CNAP – Cadastro Nacional de Aprendizagem Profissional para ofertar cursos de Aprendizagem Profissional Rural.
• 126 vagas ofertadas em 2020 para o Programa de Aprendizagem Rural na EFASC e na Escola Família Agrícola de Vale do Sol (EFASOL)
Minidocumentário
Aproveitando o Dia Internacional da Educação, o ARISE lança nesse dia 28 de abril, em sua página na rede social Facebook, o minidocumentário “Futuro no campo com aprendizagem rural”. Nele, podemos acompanhar a história de dois jovens, filhos de agricultores, que tiveram suas histórias transformadas pelo estudo na EFASC. O vídeo também apresenta o modelo de aprendizagem, viabilizado pelo ARISE, na Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul.
Sobre a JTI
A Japan Tobacco International (JTI) é uma empresa internacional líder em tabaco e vaping, com operações em mais de 130 países. É proprietária global de Winston, segunda marca mais vendida do mundo, e de Camel fora dos EUA. Outras marcas globais incluem Mevius e LD. Também um dos principais players no mercado internacional de vaping e tabaco aquecido com as marcas Logic e Ploom. Com sede em Genebra, na Suíça, emprega mais de 45 mil pessoas e foi premiada com o Global Top Employer por cinco anos consecutivos. A JTI é membro do Japan Tobacco Group of Companies.
No Brasil, são mais de mil colaboradores em 10 Estados além do Distrito Federal. A operação contempla a produção de tabaco – por meio de 11 mil produtores integrados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – compra, processamento e exportação de tabaco, fabricação, venda e distribuição de cigarros em 16 Estados do Brasil. As marcas comercializadas são Winston e Camel, essa última também exportada para a Bolívia. Em 2018, 2019 e 2020, a JTI foi reconhecida como Top Employer Brasil.