LUÍSA ZIEMANN
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Amanhã é comemorado o dia de uma das profissões mais antigas da história: é o Dia do Metalúrgico. Celebrado anualmente no dia 21 de abril, o trabalho realizado por esses profissionais é mais antigo do que se pode imaginar. A descoberta e o manuseio do ferro ficaram marcados como uma revolução durante a Idade dos Metais. Isso aconteceu no quinto milênio antes de Cristo, no período em que se iniciou a fabricação de ferramentas e armas de metal e em que o ser humano passou a dominar de maneira ainda rudimentar a técnica da fundição.
Milhares de anos após o primeiro contato com o metal, hoje o profissional metalúrgico pode atuar em diferentes segmentos de mercado, como nas indústrias siderúrgicas, aeronáuticas, automobilísticas, navais e nos setores de mineração. Além disso, atualmente o metalúrgico se divide entre os diversos ramos da metalurgia, de acordo com seu nível de conhecimento, podendo ter uma formação técnica ou então ensino superior.
O de formação técnica e especializada atua no chamado “chão de fábrica”, dando forma e acabamento aos diversos produtos derivados dos metais. Já o de formação superior e científica, denominado engenheiro metalúrgico, se ocupa da extração de minérios, da sua transformação em metais e ligas metálicas e da sua utilização na produção de máquinas, estruturas metálicas ou peças.
Ao longo da história, o trabalho dos metalúrgicos é fortemente marcado pelas lutas sindicais. Este pleito, inclusive, deu origem ao Partido dos Trabalhadores (PT), em 1979, e a Central Única dos Trabalhadores, fundada em agosto de 1983. No País, um nome que ganhou destaque na luta pelos direitos dos metalúrgicos foi o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula, que dedicou parte da sua vida à profissão de torneiro-mecânico, foi também fundador e primeiro presidente do PT, abraçando a causa do sindicalismo.
A HISTÓRIA
No início da metalurgia, sumérios e egípcios fundiam prata e ouro. Foi somente em 1730, na Inglaterra, que ocorreu a fundição do zinco e, através do inglês Benjamim Huntiman, dez anos depois, a do aço. No Brasil, a metalurgia foi impulsionada a partir de 1930 pela queda da economia cafeeira. Como a produção passou a ser em série e em larga escala, muitos trabalhadores deixaram a lida no campo e partiram rumo às cidades em busca de emprego. Profissões como o de operário industrial, operador de máquinas e encarregado de produção foram se destacando e estes deram origem ao metalúrgico que conhecemos atualmente.
Metalúrgicos são protagonistas nas lutas sindicais brasileiras
Assim que portugueses aportaram em terras brasileiras já se iniciaram as buscas a fim de descobrir ferro, prata e ouro. Era este um dos objetivos das navegações exploradoras do século 15. Como nosso País era fonte de riquezas em abundância, a colonização do Brasil foi de exploração e não de povoamento. Com o passar do tempo, conforme surgiam novos povoados na colônia, começavam a se destacar os pequenos trabalhadores e, entre eles, os artesãos. Foi aí que homens que conheciam a arte de fundir o ferro passaram a criar materiais para serem usados como ferramentas ou utensílios domésticos.
A primeira fábrica de ferro brasileira surgiu em 1590, onde hoje fica Sorocaba, no interior do estado de São Paulo. Seu fundador foi Afonso Sardinha, que descobriu o minério magnético (magnetita) e passou a produzir ferro a partir de sua redução. Mas, na época, mesmo com a demanda em alta, graças ao crescimento da indústria canavieira, Portugal proibia o Brasil de possuir indústrias, para que não houvesse produtos que concorressem com os que eram importados da metrópole.
Sobrevivendo às pressões e proibições de Portugal, estas forjas precárias prevaleceram no Brasil até 1808, com a chegada da corte portuguesa. Um pouco antes disto, em 1795, uma fábrica de ferro já fora liberada para se estabelecer em São Paulo e, em seguida, em Minas Gerais, dado seu enorme potencial para usinas de ferro e aço. A ligação do Brasil com a metalurgia seguiu se solidificando. Quando os trabalhadores começaram a se organizar em sindicatos e movimentos trabalhistas, a categoria metalúrgica ganhou destaque na luta por mais direitos aos trabalhadores, contra as injustiças sociais e a favor da democracia e igualdade. Em chão brasileiro, as lutas empreendidas pelos metalúrgicos ao longo dos últimos 150 são históricas.
Eles estiveram no pleito por mais direitos nas décadas de 1920 e 1930, na luta pela criação da carteira de trabalho e todos os direitos que ela trouxe na década de 1940, apoiaram a política desenvolvimentista do governo JK nos anos 50 e ainda resistiram à ditadura e lutaram pela democracia nas décadas de 1960 e 1970. Nos anos 80, os metalúrgicos lutaram contra as hiperinflações e arrochos salariais da década, e também resistiram à política neoliberal da década de 1990.
Em meio a lutas sindicais e manifestos, o mercado metalúrgico brasileiro foi ganhando força mundialmente. Em 1950, o grande processo de industrialização ocorrido no Brasil foi marcado pela redução nas importações de materiais da indústria metalúrgica. Com um aumento significativo da produção no setor, principalmente na siderurgia, e graças à inovação tecnológica, em 1970, o País alcançou posição de destaque, sendo considerado um dos dez maiores produtores de aço no mundo.
Segundo a Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais, o Brasil produz, por ano, mais de 24 milhões de toneladas de aço bruto. Além deste, nosso País é também um grande produtor e exportador de ferroligas: produz mais de um milhão de toneladas por ano, ocupando a terceira colocação no ranking mundial, atrás apenas da África do Sul e da França. Considerada como indústria de base, a metalurgia é responsável por uma parcela importante dos lucros brasileiros, principalmente na siderurgia, na produção de aço bruto.
SindiMetal busca saúde, moradia e boas condições de trabalho para os metalúrgicos
Em Santa Cruz do Sul, o Sindicato dos Metalúrgicos (SindiMetal) foi fundado no dia 9 de abril de 1938, com o objetivo de intensificar a luta da classe trabalhadora pelos seus direitos. De acordo com o presidente da entidade, Gilberto Saraiva, o município conta atualmente com cerca de 120 empresas de pequeno, médio e grande porte no setor. No sindicato, já são quase 1,5 mil associados. Entre os pilares da entidade está saúde, a moradia e as condições de trabalho.
Reconhecido no Estado por realizar ações voltadas, sobretudo, à área da saúde, o Sindicato dos Metalúrgicos participou ativamente da criação do Conselho Municipal de Saúde de Santa Cruz, em 23 de setembro de 1991. Desde então, a instituição tem representação dentro do Conselho e participa ativamente do pleito por melhores condições à população de maneira geral.
Antes disso, em 1990, o Sindicato dos Metalúrgicos já havia sido responsável pela criação da primeira Associação de Moradores de Bairro de Santa Cruz do Sul, no Belvedere. E, ainda, junto com a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) fundou a União das Associações de Moradores de Bairros. Feitos estes que provam como a classe metalúrgica sempre esteve ligada às causas sindicalistas e, principalmente, à busca por melhores condições de trabalho e de vida.
Conforme Saraiva, que é metalúrgico desde 1975, cada sindicato possui uma linha de atuação específica e as diretrizes escolhidas pelo SindiMetal – saúde, moradia e condições de trabalho – condizem com o que os trabalhadores esperam da entidade que os representa. “A saúde e a moradia devem estar diretamente ligadas aos direitos dos trabalhadores”, salienta. “De nada adianta a empresa oferecer boas condições de trabalho, se no seu bairro o trabalhador não tiver um posto de saúde, ou tiver um esgoto a céu aberto. São coisas que precisam caminhar juntas.”
Pensando nisso, o sindicato participa ativamente do Conselho Municipal de Saúde e também busca estar presente nas ações ligadas aos bairros do município. “Para o metalúrgico oferecer um trabalho de qualidade, estar satisfeito em seu ambiente de trabalho, ele precisar ter boas condições de moradia, ter acesso à saúde, ao saneamento básico”, exemplifica. O presidente da entidade recorda que, até 2019, o setor metalúrgico da região atendida pelo SindiMetal estava em pleno crescimento, chegando a alcançar até três mil empregos diretos, e nem mesmo a crise ocasionada pela pandemia do coronavírus diminuiu a representatividade do setor na economia local.
“Seguimos as medidas impostas pela pandemia, fizemos acordos para reduzir as jornadas de trabalho e salários, graças a isso, tivemos um baixo impacto nas demissões, não chegou a 10%”, conta Saraiva. Sobre o futuro, o presidente frisou que acredita na retomada gradual do setor, já com contratações previstas para os próximos meses. “Em maio e em junho já começam a ser preenchidas as vagas para o período de safra, o que alavanca o número de empregados no setor”, lembra. Atualmente, a metalurgia emprega diretamente quase 4 mil pessoas nas cidades abrangidas pelo sindicato – Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, Rio Pardo e Candelária.