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Dia do Goleiro: Os irmãos que se consolidaram como goleiros profissionais

Douglas Friedrich e Ricardo Friedrich são exemplos de perseverança e superação no futebol

Tiago Mairo Garcia
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Douglas Friedrich escolheu ser goleiro sem planejar atuar na posição – Divulgação

Goleiro. A posição que abre a escalação de uma equipe de futebol pelo atleta responsável por evitar o gol. Uma função onde a cada jogo, seja se for profissional, amador ou na brincadeira entre amigos, pode se transformar em herói por uma grande defesa ou vilão por uma falha que determinou a vitória da equipe adversária. É o atleta que em boa parte do jogo vive solitário na sua área, mas sempre atento e a espera de um lance adversário para evitar o gol. Neste domingo, 26, é comemorado o dia do goleiro, data que surgiu em 1975 para homenagear o goleiro Hailton Corrêa Arruda, o Manga, ex-goleiro do Internacional e Seleção Brasileira e a todos aqueles que defendem as goleiras em uma partida de futebol.

Muitos que desejam serem jogadores de futebol sonham em atuar nas mais diversas posições de linha no campo, mas poucos têm o desejo de serem goleiros. Dentro desta minoria que transformaram o sonho de ser jogador de futebol em realidade como goleiros estão os irmãos Douglas Alan Schuck Friedrich e Ricardo Henrique Schuck Friedrich. Naturais de Candelária, os dois tinham na infância o apelido de Taffarel, pela semelhança física com o ex-goleiro da seleção brasileira, Claudio Taffarel e foram em busca do sonho de serem jogadores como goleiros, onde superaram as dificuldades e consolidaram carreiras de sucesso no futebol profissional.

Aos 31 anos, Douglas Friedrich está na sua terceira temporada defendendo o Bahia. O goleiro, já passou por Adap Maringá, Capivariano, Caxias, Bragantino, Corinthians, Grêmio e Avaí no Brasil e no futebol do Irã por duas temporadas no início da carreira. Sobre a escolha por ser goleiro, Douglas lembra que sentiu bem atuando na posição quando jogava pela escolinha do Juventude, de Candelária. “Foi uma oportunidade que eu tive sem planejar e que me mostrou que eu era capaz de jogar nesta posição”, lembra ele. Sobre a carreira, ele conta que superou um problema de saúde ao vencer um câncer de testículo e salientou que nada é impossível para alcançar os objetivos. “Ser goleiro é muito desafiador e me dá muito orgulho de seguir essa caminhada. Eu acreditei e fui em frente, sempre buscando vencer as dificuldades que aparecem e que nos trazem um aprendizado para a vida”, destacou.

Com relação à rotina de ser um goleiro profissional, ele destacou que os treinamentos diários são específicos, com muita força e intensidade orientados por um preparador de goleiros, além dos cuidados com alimentação e forma física. “Temos trabalhos específicos para a posição e uma rotina diária de intensidade, força e treinos técnicos com o grupo. É uma rotina com horários, planejamento e objetivos”, destacou. Além das vitórias e conquistas, uma das maiores alegrias de Douglas Friedrich é ter sido a inspiração para o seu irmão, Ricardo Friedrich ser goleiro. “Fico feliz pelo homem que ele tem se tornado. A carreira é passageira, mas a vida é longa e vencida por grandes homens. Me alegro pelas conquistas dele no futebol e também por ele se tornar exemplo de um bom atleta e cidadão. Isso me dá muito orgulho”, salientou o goleiro do Bahia.

Irmão mais novo, Ricardo Friedrich tem 27 anos e está na sua primeira temporada defendendo o Ankaragücü, da Turquia. O jogador iniciou a carreira nas categorias de base do Internacional e passou por Ituano e Esportivo, de Bento Gonçalves. Em 2015, se transferiu para a Europa onde jogou no RoPS, da Finlândia e Bodo/Glint, da Noruega até chegar ao clube turco.

Sobre o desejo de ser goleiro, Ricardo conta que acompanhava Douglas atuando nas escolinhas de futebol de Candelária e tomou gosto pela posição ao ver a dedicação dele nos treinos e jogos. “Ele sempre pedia para ajuda-lo a treinar. Por isso comecei desde pequeno no gol e não saí mais. Não tive essa história de não era bom na linha, vai para o gol, como muitos outros goleiros contam”, diz Ricardo. Sobre a carreira, Ricardo conta que passou por momentos difíceis, mas que nunca pensou em desistir. “Nada na vida vem com facilidade. Me orgulho de ter construído a minha própria trajetória. Vai ter momentos que você pensa em largar tudo e ir para casa, ficar perto da família, porque as coisas demoram para acontecer. É preciso amar a profissão e ter vontade de vencer. Somos os primeiros a ser culpados pelos gols e os últimos a serem lembrados nas vitórias”, salientou.

Com relação à rotina de um goleiro profissional, ele destacou que treina diariamente em dois turnos. Ele também salienta os trabalhos específicos e técnicos com o treinador de goleiros além de manter os cuidados com a alimentação e parte física. No clube turco, os atletas recebem folga sempre no segundo dia após as partidas para a recuperação física. “Ganhamos a folga geralmente no segundo dia após a partida uma vez que estudos mostraram que é o dia em que estamos no auge da fadiga muscular”, conta o goleiro. Sobre como vê o seu irmão mais velho como goleiro, Ricardo destaca que tem ele como um vencedor na vida. “Meu irmão começou do zero. Ele lutou muito para chegar onde chegou, de tudo que ele passou, não só no futebol, mas na vida. Ele teve câncer com 17 anos e superou. Jogou no Irã, um país distante e com cultura peculiar e no Brasil passou por divisões inferiores até chegar na elite do futebol brasileiro. Ele conquistou o espaço dele degrau por degrau e hoje me alegra de dizer que para mim ele é considerado um dos melhores goleiros do Brasil”, frisou.

Ricardo Friedrich escolheu ser goleiro por seguir os passos do irmão mais velho – Divulgação

Atletas seguem em isolamento devido ao coronavírus

No momento, os dois jogadores estão em isolamento devido à pandemia do novo coronavírus. Douglas está com a família na cidade de Camaçari, na região metropolitana de Salvador. Ele relata que na Bahia o comércio segue fechado com exceção dos serviços essenciais, semelhante ao que ocorre na maioria do país. Em isolamento social, Douglas destaca que tem mantido o condicionamento físico com orientações do preparador físico do clube na sua residência. “Moro em um condomínio fechado e consigo realizar os treinamentos em casa cinco vezes por semana para manter a forma física e a preparação”, destacou. Sobre a volta aos trabalhos, Douglas acredita que retornará aos treinos em maio. “Os clubes, a CBF e as autoridades devem chegar a um consenso em breve. Espero que se concretize e que a gente volte no início de maio”. Durante a parada, o goleiro do Bahia também mostrou o seu lado solidário e promoveu a doação de 130 cestas básicas para auxiliar famílias que passam por necessidades especiais em Candelária. “Tivemos essa preocupação em saber como estava a situação em Candelária. Eu e minha família decidimos ajudar no que era necessário e ficamos felizes em contribuir com a comunidade, sendo uma retribuição a todo o carinho e respeito que sempre tivemos na cidade”, frisou Douglas.

Ricardo Friedrich está em isolamento na cidade de Ankara, capital da Turquia. Ele conta que a situação está bem complicada com mais de 100 mil casos registrados na Turquia. “O governo fechou as escolas, restaurantes e pediu que as pessoas ficassem em casa. Em Ankara, que tem mais de 5 milhões de habitantes, o número de casos é baixo. O governo proibiu as pessoas de sairem de casa de quinta a domingo e quem sair deve pagar uma multa de 3 mil liras turcas (moeda local)”. Para manter o condicionamento físico, Ricardo está treinando em casa com alguns equipamentos e assiste a treinos online. Durante um treinamento na rua, o goleiro foi interceptado por policiais turcos. “Eu estava voltando quando vi a policia me esperando. Eles foram legais, conversaram tranquilamente e me disseram que era melhor ficar em casa. Quando justifiquei que precisava treinar por causa da profissão, eles me reconheceram e pediram para tirar fotos. Foram gentis e quase me escoltaram de volta para casa. Após isso não sai mais para correr, apenas para ir ai mercado”, destacou.

Com relação a retomada do futebol, Ricardo acredita que deverá ocorrer em maio, mas vai depender de como estará a situação do coronavírus no país. O goleiro acredita que a situação vai gerar mudanças profundas no futebol devido a recessão da economia causada pela pandemia. “Penso que teremos mudanças financeiras e de entretenimento. As pessoas que antes iam aos estádios irão pensar duas vezes em onde colocar o seu dinheiro devido a renda comprometida com a recessão econômica. Teremos que ter muita força e novas ideias para retomar as atividades e repensar o futebol e o nosso papel como cidadãos”, salientou.Sobre as lições que a sociedade poderá tirar desta crise, o goleiro salientou que esta situação está levando as pessoas a olharem mais para os outros. “Podemos nos tornar mais humanos, mais sensíveis para ajudar aos que necessitam e entender o lado do outro, deixando apenas de olhar para a nossa realidade. Que possamos tirar proveito desse momento difícil para despertar a humanidade dentro de cada um de nós que estava adormecida”, finalizou Ricardo.