Elas merecem uma homenagem mais do que especial. Foi com esse propósito que o Riovale Jornal trouxe em várias páginas menções à força da mulher no setor da Segurança Pública. Encerramos na edição de hoje os depoimentos que marcaram o Dia Internacional da Mulher e que trouxeram em sua essência o que representam elas nas forças de segurança. Parabéns, mulheres por serem tão determinadas e mostrarem que podemos, sim, fazer parte de todos os contextos da sociedade.
“A atuação das mulheres nas forças de segurança só faz aumentar a representatividade do gênero feminino”
“Nasci no Município de Candelária e morava com meus pais no interior. No ano de 2014, fui residir em Santa Maria para trabalhar e cursar faculdade. Tomei conhecimento do concurso para a Brigada Militar, estudei e ingressei nas fileiras da corporação no ano de 2016 e realizei o curso de formação de soldado no Município de Montenegro. Após a conclusão, fui lotada no 1º BPM de Porto Alegre onde trabalhei no policiamento ostensivo por cerca de um ano. Após esse período, fui selecionada para fazer parte da sessão de inteligência do referido batalhão, sendo, no ano de 2019, transferida para 23º BPM de Santa Cruz do Sul onde novamente fui incorporada à sessão de inteligência, a qual permaneço atualmente.
Existem muitos desafios que enfrentei na corporação. Trabalhar em uma cidade como Porto Alegre onde há uma demanda de ocorrência significativa, estar no meio das guerras entre as facções criminosas, perder colega em confronto armado, atender todos os tipos de ocorrências, e manter o equilíbrio emocional para resolver da melhor forma possível, com certeza é sempre um desafio, que não só eu, mas todos os colegas enfrentam.
Um momento que marcou minha carreira foi quando meu pai me viu fardada pela primeira vez. Os olhos dele se encheram de lágrimas. Percebi que havia se realizado o que eu mais queria, encher o meu pai de orgulho pela mulher que me tornei. Foi um momento único que vou me lembrar para sempre com muito carinho.
A atuação das mulheres nas forças de segurança só faz aumentar a representatividade do gênero feminino em estar em todos os lugares, é a essência feminina que incorpora determinação, garra e força para conquistar os objetivos e exercer com excelência o que é proposto. Essa presença cada vez mais atuante das policiais femininas nas forças de segurança é de suma importância para qualificar e fazer a diferença no trabalho para a comunidade.”
“Nós mulheres temos características que nos fazem capazes de desempenhar vários papéis”
“Me formei pela Academia da Polícia Civil no ano de 2003 e desde 2004 desempenho minhas funções em Santa Cruz do Sul, sendo desde 2006 na Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam).
Um dos maiores desafios em trabalhar diretamente com o atendimento às pessoas vítimas de violência é entender que cada indivíduo tem um comportamento distinto diante de situações semelhantes. Compreender as particularidades e necessidades de cada pessoa sem julgamentos e conseguir contribuir com meu trabalho para uma solução dos problemas que envolvem os casos de violência doméstica, prestando um bom atendimento, é realmente desafiador. Além disso, toda a parte emocional envolvida em casos de extrema violência, praticados no âmbito familiar, pela ação ou omissão dos agentes causadores, principalmente quando envolve indivíduos que não conseguem agir em defesa própria, como crianças ou idosos, tornam o trabalho mais desgastante.
Como exemplo, cito um momento que está marcado em minha memória. Em um atendimento a um caso de feminicídio ouvi o relato de uma criança de seis anos, que presenciou a mãe ser morta pelo namorado e permaneceu presa dentro de casa até ser socorrida. Um relato cheio de emoção e de preocupações que não deveriam fazer parte da vida de ninguém com essa idade.
Como qualquer indivíduo, nós mulheres temos aptidões, habilidade, competências e essas características nos fazem capazes de desempenhar vários papéis. As mulheres atuando nas forças de segurança mostram que o nosso lugar é onde queremos estar, que nossas escolhas dependem de onde queremos chegar. Tenho muito orgulho de fazer parte do quadro da Polícia Civil, para servir e proteger.”
“Ver a nossa garra e determinação me enche de orgulho”
“Minha história na Susepe iniciou em 2009, como agente Penitenciário, após o curso de formação. Fui lotada por algum tempo no anexo da Casa Prisional CAF Semi-aberto em Porto Alegre. Após seis meses, fui lotada no Presídio Estadual Feminino Madre Pelletier (PEFMP), também em Porto Alegre, onde estou há quase 12 anos. Quem já trabalhou lá sabe o quanto nós somos exigidos diariamente, por isso é uma casa prisional onde há muita rotatividade de profissionais, de certa forma me orgulha ainda fazer parte desse quadro de guerreiros. São muitos desafios enfrentados diariamente na nossa profissão. Nós lidamos com indivíduos que a sociedade não quer conviver, e tentar ressocializar essas pessoas é um dos nossos maiores desafios, se não o maior, fazer com que voltem ao convívio comum, que consigam novamente se integrar, ser aceito, é uma vitória que nem sempre dá certo.
O momento que mais marcou a minha carreira foi um incêndio em uma cela, causado por uma detenta. Eu era supervisora do dia, era domingo, dia de visita, tinha tudo para ser calmo o plantão e infelizmente aconteceu esse incidente. Trabalhamos em equipe, unidos, meus colegas foram essenciais na ação, conseguimos resolver a situação da melhor maneira possível. Me marcou muito saber que não estamos sós, que podemos contar com quem está ali contigo, é algo muito valioso. Na nossa profissão, aprendemos a controlar a nossa emoção, a ter reação diante do imprevisível de qualquer situação, fogo, motin, tudo é muito desafiador e ao mesmo tempo prazeroso conseguir cumprir a missão sendo o mais profissional possível na tomada de uma decisão, porque qualquer movimento pode ser fatal.
Eu me sinto privilegiada por fazer parte da Susepe, atuar nas forças de segurança, pensar no empoderamento feminino. Ver a nossa garra, nossa determinação me enche de orgulho, conquistamos o nosso espaço”.
“As mulheres precisam acreditar que podem tudo e têm muita força com elas”
“Sou natural do Rio de Janeiro, da Baixada Fluminense. Comecei a estudar para o concurso da Escola de Sargentos das Armas (ESA) em 2017. Fui aprovada em 2018 e no ano de 2019 passei para o período básico no Rio de Janeiro e, após, em 2020 passei para a qualificação na Escola de Sargentos de Logística (EsSlog). Veio a pandemia e fiquei um bom tempo direto na escola, ficamos em quarentena. No final do ano de 2020, fui designada para vir para o 7º Batalhão de Infantaria Blindado (BIB), Regimento Gomes Carneiro, em Santa Cruz do Sul. Até então não conhecia a cidade. Me interessei muito pela parte dos blindados que é o diferencial do quartel. Uma área não comum para as mulheres, mas, que atualmente, está entrando o efetivo feminino para a área de material bélico. Considero esta parte muito interessante.
Tenho 23 anos e no início fiquei com um pouco de receio. Não confiava em mim mesma, mas, através da confiança que depositaram em meu trabalho, fui ganhando forças e mesmo sendo jovem foi muito importante. Somos entre 11 mulheres no 7º BIB e a maioria delas é inspiração para mim. Quando tenho alguma dúvida elas me auxiliam bastante.
O que marcou a minha vivência aqui em Santa Cruz foi a parte de auxiliar nas questões do combate à Covid-19. Em 2021, tivemos alguns desafios com a formação dos recrutas, mas a interação foi essencial entre todos. Sou da sessão da Saúde, técnica de Enfermagem. Tivemos a parceria com a Secretaria de Saúde de Santa Cruz do Sul durante a vacinação. Foi bem marcante para mim.
É a realização de um sonho. Meu pai era militar, e cresci vendo o trabalho dele. Todos os dias penso o que já vivi. Minha família continua no Rio de Janeiro, só vejo eles na chamada de vídeo e nas férias. Eles já vieram me ver, mas é complicado viver longe, a saudade aperta. Essa foi a primeira vez que saí de casa. Minha irmã também é militar da Aeronáutica, somos o orgulho de nossos pais. Um dia vinha caminhando em frente à escola, próximo ao 7º BIB, e via nos olhares o orgulho em ver uma mulher no Exército. Me vi como inspiração, ninguém me trata diferente por ser mulher. O primeiro ano foi difícil para mim pelas diferenças culturais e por nunca ter saído do Rio de Janeiro. Mas, estou amando o que faço. Em fevereiro, fez um ano que estou aqui e me sinto orgulhosa demais. Amei Santa Cruz. Organizada e limpa.
As mulheres precisam acreditar que podem tudo. Demorei a acreditar que eu poderia conseguir e ter capacidade para exercer meu trabalho. Ninguém nos segura e somos fortes”.
“Trabalhar na área da segurança não é uma simples escolha, é uma vocação”
“Ingressei na carreira policial no dia 1º de dezembro de 1997, como soldado da Brigada Militar, tendo trabalhado em Caxias do Sul e Santo Ângelo. Na Polícia Civil, ingressei no ano de 2007 como inspetora de Polícia, na cidade de Santa Maria. Em 2010, após aprovação no concurso, tornei-me delegada de Polícia, vindo a atuar nas cidades de Entre-Ijuís, Tupanciretã e Santa Cruz do Sul.
Ser delegada é um desafio constante, mas como já disse alguém: o que não te desafia, não te transforma. Aliás, ser mulher já é um desafio diante de uma sociedade na qual ainda existe muito machismo, por um enraizamento cultural de que a mulher é subserviente ao homem.
Com certeza encontramos algumas dificuldades na carreira, e isso não é exclusivo das mulheres, os homens também as sentem, lidamos com o pior, com dores humanas, mas as adversidades servem de aprendizado e de degraus para superar os obstáculos. Por vezes, chegamos a nos sentir impotentes diante dos problemas que a sociedade enfrenta, mas não podemos desanimar, temos que dar sempre nosso melhor.
Ao longo da minha carreira policial, tanto na PM ou como policial civil, muitos casos ficaram presentes na memória, difícil mencionar apenas um momento marcante, todas as contendas com as quais nos deparamos trazem consigo novidade e certa dose de complexidade, na nossa carreira nunca é “mais do mesmo”. São histórias de vidas, pessoas em situação de dor, precisamos agir, tendo um olhar amigável, humanizado, mas sem fraquejar e sem introjetar a dor alheia.
A mulher carrega um estereótipo, associado à fragilidade, mas sem dúvida são capazes e preparadas para assumir qualquer função. Na Segurança Pública, como em qualquer carreira, precisam estar aptas física e psicologicamente para lidar com as adversidades.
Trabalhar na área da segurança não é uma simples escolha, é uma vocação, tem que ter muita coragem, e as mulheres têm isso e muito mais, elas possuem um papel essencial dentro da esfera da Segurança Pública, tem uma sensibilidade diferenciada e são capazes de resolver demandas que homens por vezes não conseguem.”