Guilherme Athayde
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A noite da última sexta-feira, 15, foi marcada por uma denúncia de corrupção contra o governo municipal.
A ex-funcionária pública Adriane Gass, que ocupou um cargo de confiança (cc) na Prefeitura de Santa Cruz do Sul até agosto do ano passado, utilizou a rede social Facebook para divulgar um vídeo de cerca de nove minutos de duração, onde a ex-servidora denuncia um suposto esquema de corrupção no governo municipal, em que os cc´s seriam obrigados a entregar 5% do salário mensal para o gabinete do prefeito.
No vídeo, uma mulher identificada como Aleci Azeredo, mãe do então chefe de gabinete do prefeito Telmo, Edson Azeredo, aparece coletando dinheiro da denunciante, cerca de R$ 120,00 que eram pagos mensalmente, segundo a denúncia.
De acordo com Adriane Gass, a coleta do dinheiro ocorreu mensalmente enquanto ela ocupava o cargo na Prefeitura, entre janeiro de 2013 e agosto de 2015. Além de Aleci, outra pessoa, identificada pela denunciante como Ivone Kist, seria encarregada por fazer a coleta do dinheiro. Uma terceira pessoa, que também seria responsável por receber o dinheiro, identificada apenas como “Sirlene”, é citada no vídeo.
Também segundo a acusação, a prática ocorria com todos os cargos de confiança do governo. Atualmente, segundo a Prefeitura, são 77 cc’s atuando em diferentes setores do governo municipal.
Adriane, que foi chamada para fazer a denúncia ao Ministério Público na tarde de ontem, 19, disse não ter conhecimento da cobrança até iniciar o trabalho junto à Secretaria da Saúde, na Central de Marcação de Consultas e Exames (Casa). “Quando eu recebi meu primeiro salário foi quando eu fiquei sabendo. Antes disso ninguém me disse que eu tinha que devolver um percentual ao prefeito. Eu sabia que ia ocorrer, e que ocorre em todos os governos, era a contribuição partidária”, disse em entrevista ao ‘Riovale’ na manhã de terça-feira, 19.
Adriane já esteve presente em outra polêmica recente envolvendo o atual governo municipal. Em junho, o Ministério Público recebeu documentos sobre irregularidades na marcação de exames de saúde via Sistema Único de Saúde. Ela havia denunciado que em alguns casos, os exames deveriam ser autorizados sem o parecer de um médico responsável. A situação está sendo investigada.
Em virtude desse episódio, segundo Adriane, ela foi deslocada da Casa para a Unidade Municipal de Referência em Saúde do Trabalhador – Umrest, onde as imagens do vídeo divulgado na última sexta-feira foram captadas. “A princípio a ordem era pra me exonerar. Foi a primeira denúncia. Os pedidos vinham dentro dos envelopes, que eram segundo a dona Aleci, do gabinete do prefeito e tudo o que estava ali dentro deveria ser marcado sem questionamento porque era ordem do prefeito. Eu me neguei a continuar fazendo”, lembra a ex-servidora municipal. Adriane diz também que, em virtude do menor movimento de pessoas na Umrest, os vídeos puderam ser gravados, já que ela teria tentado coletar as provas do esquema quando ainda trabalhava na Central de Marcação de Exames e Consultas. “Eu já tentava fazer as imagens há tempos, mas em função do grande movimento na Casa, às vezes eu não conseguia boas imagens ou o áudio ficava comprometido”, justifica, ressaltando que o episódio não tem a ver com o período eleitoral.
“Até nas férias a gente contribuía. Botava as contribuições de julho e agosto num envelope, e deixava lá no gabinete do prefeito aos cuidados do Edson Azeredo (chefe de gabinete Telmo, que foi afastado na última segunda-feira, 18).” A acusação inclusive revela que os atrasos de pagamento eram punidos com exoneração. “A Aleci disse assim: ‘olha, o prefeito não tolera atrasos, o máximo é dois meses. No terceiro coloca tudo em dia ou é mandado embora’”, conta Adriane”.
Apesar de o prefeito Telmo Kirst ter concedido entrevista a uma rádio local, a Prefeitura preferiu não falar com o ‘Riovale Jornal’. Em contato com a assessoria de imprensa do governo, a informação repassada foi que só haverá nova manifestação do prefeito após as apurações do Ministério Público. Na entrevista que concedeu sobre o assunto, Telmo revelou que deverá processar Adriane Gass, e que o chefe de gabinete Edson Azeredo, que pediu exoneração do cargo, sempre foi uma pessoa de confiança, mas o assunto deverá ser apurado.
Vereador citado no vídeo se diz tranquilo sobre a situação
As acusações da ex-servidora Adriane Gass atingem também o vereador do PP, Hildo Ney Caspary. Nas cenas, a pessoa que recolhe o dinheiro menciona o nome do parlamentar, dizendo que parte do valor arrecadado com a contribuição de 5% do salário mensal dos cc´s, seria para pagar doações do vereador para a campanha de Telmo, e a outra parte teria como destino a campanha eleitoral deste ano.
“Isso é uma grande inverdade. Me admira a ´trucagem’ que fizeram para envolver o meu nome”, disse o vereador em conversa por telefone na tarde dessa terça-feira, 19. Caspary disse que a acusação tem claros objetivos políticos, e que sempre antes das eleições em que concorreu foi alvo de boatos e inverdades. “Já me colocaram no poste, em jornalzinho, enfim, eu estou muito sereno em virtude disso, pois sei que no final das contas o povo se importa é com quem trabalha, quem mostra serviço”. Hildo Ney considerou como uma “irresponsabilidade” a denúncia da servidora.
O vereador, líder do governo na Câmara até o fim do ano passado, também comentou que o caso deve fazer com que o atual prefeito tenha ainda mais vontade de concorrer ao próximo pleito. “Acho que agora ele quer ainda mais”. O Partido Progressista tem se manifestado com cautela sobre a próxima eleição, ressaltando que por enquanto, o prefeito Telmo prefere se ater às questões da Prefeitura, e deixar a campanha para depois das convenções partidárias, no início do próximo mês.