Guilherme Athayde
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Após pouco mais de oito meses de o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef (PT) ter sido aprovado no Senado, em 31 de agosto de 2016, o país volta a passar por um episódio envolvendo denúncias contra o governo federal e que será fato relevante nos livros de história.
O jornal “O Globo”, através do colunista Lauro Jardim, noticiou em sua página de internet na quarta-feira, 17, que Joesley e Wesley Batista, donos da empresa JBS, uma das maiores indústrias de alimentos do planeta, teriam posse de um documento em áudio onde o presidente Michel Temer (PMDB) aprova o pagamento de propina ao deputado federal cassado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em troca de seu silêncio nas investigações da Operação Lava Jato.
A gravação teria sido entregue à Procuradoria Geral da República (PGR) em março deste ano, em delação premiada. Os donos da JBS afirmam que Temer indicou o deputado do PMDB do Paraná, Rodrigo Rocha Loures, para receber o repasse de R$ 500 mil por semana, em um total de R$ 480 milhões, para administrar questões da empresa J&F, que controla os interesses da JBS no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do governo que investiga assuntos e toma decisões acerca da livre concorrência comercial.
A propina repassada ao governo seria de 5%, segundo a denúncia do jornal “O Globo”.
O deputado Rodrigo Loures teria sido também flagrado em imagens recebendo uma mala com R$ 500 mil em dinheiro, enviada pelos donos da JBS. Segundo o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições presidenciais em 2014, a JBS doou legalmente mais de R$ 287 milhões aos grandes partidos como PMDB, PT, PSDB, PP e PR.
Nessa quinta-feira, 18, diversos partidos da base de Temer afirmaram que iriam analisar a permanência no governo. O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), foi o primeiro a abandonar o cargo, durante a tarde. PTB e PR se manifestaram durante a noite, dizendo que seguem apoiando o governo Temer. O líder do PTB na Câmara, o deputado goiano Jovair Arantes, afirmou que “é necessário aguardar o resultado das apurações”.
Temer: “Tem que manter isso, viu?”
O presidente da república, Michel Temer, teria sido flagrado ainda em outra gravação, também em março deste ano, ordenando a manutenção do pagamento de uma “mesada” ao ex-deputado Eduardo Cunha, hoje na cadeia, comprando o seu silêncio: “Tem que manter isso, viu?”, teria dito Temer, para que Cunha não o delatasse nem a seus pares do governo.
Em pronunciamento de TV na tarde de quinta-feira, 18, Michel Temer afirmou que não renunciaria ao cargo. Ele negou estar envolvido em qualquer processo de corrupção e reclamou do fato de as gravações utilizadas nas denúncias terem sido captadas ilegalmente.
O presidente disse também que as acusações contra ele “Trouxeram de volta o fantasma de crise política no país”, completando que “O esforço de tirar o país da recessão pode ter sido inútil”.
O STF autorizou a abertura de inquérito para investigar Temer, após o pedido do ministro Edson Fachin. Pela Constituição, o presidente só pode ser investigado por atos cometidos durante o seu mandato e apenas após autorização do Supremo.
Sete pedidos de impeachment em 24 horas
Até o início da noite de quinta-feira, 18, deputados de oposição dos partidos PSOL, PDT, PC do B, PT e Rede, além de pessoas da sociedade civil haviam protocolado sete pedidos de impeachment para o presidente Michel Temer, apenas nas 24 horas após a publicação das denúncias de corrupção no jornal “O Globo”.
O líder do PSOL na Câmara, Glauber Rocha, afirmou que os partidos defendem também a aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que pede a realização de uma eleição direta caso o cargo de presidente fique vago. Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), que é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, prometeu que a proposta será analisada na próxima terça-feira, dia 23.
Aécio Neves pediu R$ 2 milhões à JBS
O senador do PSDB mineiro, Aécio Neves, ex-candidato à presidência da República nas últimas eleições, tendo disputado o segundo turno com grandes chances de vencer o confronto contra Dilma Roussef (PT) em 2014, pediu R$ 2 milhões à empresa JBS, que seriam utilizados para pagar a defesa de Aécio nas acusações da Lava Jato.
A denúncia também foi feita pelos donos da JBS. A irmã de Aécio, Andrea Neves, foi presa na manhã de quinta-feira, 18. Ela tinha mandado de prisão expedido pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, relator da Lava Jato. A irmã de Aécio foi levada para o Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo Horizonte.
O senador tucano pediu afastamento do cargo de presidente nacional do PSDB, alegando que a partir de agora irá se dedicar exclusivamente à sua defesa. “Me dedicarei diuturnamente a provar a minha inocência e de meus familiares para resgatar a honra e a dignidade que construí ao longo de meus mais de 30 anos de vida dedicada à política e aos mineiros, em especial”, disse o senador através de comunicado para a imprensa nesta quinta-feira, 18.
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou o afastamento de Aécio do cargo de senador, bem como do deputado federal Rodrigo Rocha Loures, citado nas denúncias contra Temer como o homem de confiança do presidente para receber dinheiro oriundo da propina que a empresa JBS pagaria ao governo do PMDB.