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“Deixe falar a voz do coração”

Fotos: Divulgação/RJ
Clipe e música gravados em português e inglês: ampliando o alcance da mensagem

João Carlos Kipper Trinks, 54 anos, coordenador de Impactos da Atividade na Mercur S/A, em Santa Cruz do Sul. Grande amigo, desde o tempo em que trabalhou na equipe do Riovale Jornal. Com persistência e resiliência, está há algum tempo buscando parcerias, para tocar adiante seu projeto nada fácil, de composições de músicas e letras autorais. Participou de processo seletivo em 2019 com a música “A Voz do Irmão”, no 12º Festival – O Rio Grande Canta o Cooperativismo. Já colaborou também com um trabalho na Campanha da Juju. E mais recentemente, lançou um belo clipe, com a música Afeganistão (Afghanistan), gravada em português e inglês. Para desta maneira atingir um maior púbico e assim tocar a consciência e coração das pessoas pelo mundo afora, sobre o problema vivido naquele país.

Normalmente não escrevo, mas fiz questão de elaborar e produzir esta entrevista. Pela amizade e respeito, e por conhecer um pouco da trajetória do João.

Como e quando se desenvolveu a tua ligação com a música e como se deu a descoberta do processo criativo?
A ligação com a música, acredito que seja desde criança. Sempre gostei de percussão. Gostava de estar próximo, sempre que alguém estivesse tocando algum instrumento. Procurava acompanhar, fazendo algum tipo de marcação. A descoberta do processo criativo tem ligação com aquilo que vivo. Tenho o prazer de trabalhar numa empresa que instiga a nos colocar a serviço de melhorar o mundo que vivemos. A forma que encontrei de expressar este sentimento, além do meu trabalho diário, foi através da escrita. Sempre apreciei bandas e compositores que trazem mensagens importantes. Um dia, resolvi que também queria deixar minhas impressões sobre o mundo. A primeira música que fiz, se chama Brincando de Deus. Acho que levei um ano para finalizar. Achei muito difícil. Porém, quando a finalizei, me questionei! E agora o que faço? Pensei, vou fazer outra. Esta não demorou mais que 20 minutos. Daí em diante, não consegui parar, virou uma rotina em minha vida. Gosto de acordar bem cedo, principalmente nos sábados e domingos para escrever.

João na Boca de Sons, sua primeira experiência num estúdio

Tu tens alguma inspiração, baseada em trabalhos de outros artistas? Acho que vale falar do trabalho em Décimas Octossilábicas, se é assim que se refere…
Penso que somos influenciados, por tudo o que vemos e ouvimos. E, tem muita gente legal, mas se fosse falar de alguém em específico, falaria de Jorge Drexler. Artista, cantor e compositor uruguaio, radicado na Espanha, ganhou Oscar pela canção “Al otro lado del río”. Fala fluentemente português e compõe como ninguém. É embaixador Íbero-Americano para a Cultura. Se define como um “andarilho e estendedor de pontes”. Também fui influenciado por ele ao compor em Décimas Espinelas. São treze canções que tenho com esta técnica, onde ele é grande incentivador. São músicas que contêm 10 estrofes e versos com 8 sílabas, onde as rimas acontecem de forma que o primeiro verso rime com o quarto e o quinto, o segundo com o terceiro, o sexto com o nono e o décimo e o sétimo com o oitavo. Esta técnica foi criada pelo poeta espanhol Vicente Espinel, em 1591 e se popularizou principalmente na América Espanhola.

Lucas e Mariluci: família fazendo parte e apoiando o trabalho

Em geral, o trabalho autoral é mais difícil e exige uma busca constante de parcerias. Quem são teus parceiros na música “Afeganistão” e onde foi gravado?
Entrei em contato com o Estúdio Boca de Sons, onde o Alison Knak captou a ideia e fez os arranjos com baixo e violão. Ele tem muita sensibilidade, escuta a música de uma forma que me agrada muito. Na verdade, é o que todo compositor busca. É o cara que fecha os olhos e escuta. Com certeza é o primeiro trabalho que fiz com ele, de muitos que virão. Minha esposa Mariluci cantou o refrão em português. O que para mim foi um grande prazer, jogar para o universo nossa voz com uma intenção verdadeira. Não posso deixar de falar do vídeo, que o Lucas, meu filho mais novo atuou. Fazer as coisas em família foi um sonho para mim. Também contei com o talento do Eduardo Bitencort que gravou e editou os clipes e conseguiu traduzir em imagens aquilo que eu estava tentando expressar. Os agradecimentos também vão para a Escola de Idiomas Schütz & Kanomata, que me ajudou a encontrar as melhores palavras em inglês, atendendo as métricas da música em português. Também à Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul, por autorizar a gravação no Parque da Gruta dos Índios. Locação que ao meu ver, foi ideal para dar vida ao clipe.

Em específico, no caso da tua mais recente música, fale sobre a intenção com este trabalho. Foi tua primeira gravação?
O impacto das imagens que eu vi foi muito forte. O poder foi conquistado à força. Havia desespero instalado no Afeganistão. Não tive dúvidas. De alguma forma, queria contribuir. Penso que a arte traz luz às questões que precisam ser tratadas. Tem o poder de transformar. Quando existir um problema, precisamos falar sobre ele, do contrário, pode cair no esquecimento e este processo pode levar gerações.
No meu canal no Youtube fiz uma gravação caseira na música Girassol Amarelo – usando a técnica das Décimas Espinelas. Mas em estúdio profissional, é a minha primeira experiência.
Conforme já noticiamos aqui no Riovale tu fizeste a composição para a campanha da Juju. Como foi esta experiência, de poder ajudar através da música?
Tratou-se de uma motivação semelhante. Sempre fui otimista em relação à Juju. A mobilização e a vontade de vencer da comunidade gerou uma energia tão grande que fez com que o universo conspirasse para a causa. Era março de 2020, me coloquei no lugar dos pais. O confinamento por causa da pandemia deixaria tudo mais difícil, e os recursos ficariam mais escassos. Havia ainda o problema do tempo. Fiquei muito feliz com o resultado. Foi a forma que encontrei para ajudar.

Sei que grande parte do teu trabalho está registrada (inclusive em mais de um idioma), em função dos direitos autorais. Quantas composições já tens e quantas estão registradas na Biblioteca Nacional?
Na verdade, enviei para registro 29 músicas em português, 11 em inglês e outras 11 em espanhol.
As músicas Afeganistão e Afghanistan, fiz o registro direto na UBC, União Brasileira de Compositores, o que representou um sonho, pois são as minhas primeiras obras com ISRC – International Standard Recording Code. Na tradução para o português significa Código de Gravação Padrão Internacional.Tenho aproximadamente 100 obras nestes quatro anos de trabalho.

Quais são teus planos e projetos, no campo da música?
Considero importante que as parcerias aconteçam. Temos excelentes músicos em Santa Cruz do Sul e acredito que há material e talento suficiente para levar cultura e nossa opinião para todos os cantos. O que acontece no mundo não pode estar dissociado da arte e para mim é fundamental que nossas percepções sejam colocadas e possam gerar interesse, principalmente quando a mensagem tem intenções nobres. Sonho com um teatro lotado, com pessoas impactadas, saindo de um show, com vontade de viver, de se encontrar, de transformar, de acreditar que um mundo melhor é possível. Confio nas minhas criações, mas não sou músico e nem cantor profissional. Por isso preciso de parceiros.

Alguma mensagem, para quem trabalha com composições autorais?
Acredite na arte. Jamais deixe de se expressar, mesmo que seu público seja pequeno. Escute menos a voz do mercado. Deixe falar a voz do seu coração.

Links das músicas, em português e em inglês:
https://youtu.be/VNDXr5OV56A e https://youtu.be/qDq_J6CqFck

André Felipe Dreher

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