Vim, porque faz tempo que não te falo. Vim confessar que te procuro todas as noites. Encontro-te em muitos lugares, por entre as casas, nos becos, nas praças, entre as árvores, nos descampados. Provoco nosso encontro e, mesmo quando não provoco, ainda assim te encontro. Procuro-te como se procurasse a mim mesmo, e talvez seja a mim mesmo, porque me encontro quando te acho. Talvez por isso eu te procure. Quando chega a noite e penso em ti, vejo-te em todas as coisas que olho. Encontro-te em todos os lugares que vou. Durmo com a janela entreaberta na esperança de que venhas me espiar durante a noite.
Sei que tu és nova. Não me importo com isso. A graça da vida está mais em crescer do que em ser grande. Então a tua graça é enorme, e quero acompanhar teu crescimento passo a passo, degrau por degrau. Sei que teu tamanho terá limite, mas teu limite não terá tamanho. A palavra novidade tem várias faces. Quem é mais recente pode ser muito menos novo do que quem viveu mais tempo com muitas experiências de renovação. Ser novo é ter a capacidade de renovar o instante, e se renovar. Talvez por isso tu sejas nova.
Não fica bem te chamar de jovem. Adolescente também não cabe a ti. Já tens certa maturidade, e sei que ainda estás crescendo. Então te chamarei de crescente. Só tu sabes crescer assim. Quando te apequenas é por ti mesma, porque ninguém mais te diminui. Talvez te apequenas por humildade, ou pelo prazer de voltar a ser grande, ou para mostrar a todos como se cresce. Ninguém melhor do que tu para mostrar como se cresce. Talvez por isso tu cresças.
Às vezes, talvez por saber que te adoro, tu ficas “te achando”. Pareces cheia. Mesmo quando pareces cheia, tu ficas linda. Ser linda parece ser tua vocação. Então, quando cheia, ficas também cheia de luz, de beleza, de graça. Já que isso é uma declaração, estou com medo de estar forçando as palavras. Mas acho que não. A premissa de uma declaração é de que deve ser autêntica, espontânea, sincera. Acho que o mundo inteiro te acha linda. Ou seria só eu que acho, e penso ser esta a opinião de todos, quando na verdade é só minha? Não, não deve ser assim. És a tradução da beleza e da luz. És a prova de que a magia pode ser real, e não só ilusória. Quando andas, ensinas a todos como é andar no vácuo, como se não houvesse chão. Tu não precisas de chão. Nem de ar. Nem de vento. Tu caminhas como se pisasse nas nuvens. O perfume, o frescor e a bruma da noite, as noites acham que roubaram de ti. Mas ninguém rouba de ti. Mesmo assim, permites que pensem isso, se lhes convém. Permites até que te pisem, por saberes o quanto a eles é importante pensarem que te pisam.
Que outros mistérios escondes, que desconheço? Quero descobri-los aos poucos, sem esgotá-los. Por isso sou calmo, não tenho pressa. Alguns dizem que sou calmo demais, mas sou assim porque teus mistérios são demais. A contemplação aquieta a alma. Sinto-me finito diante de ti. A tua casa é o universo. Gosto de ver teu reflexo na superfície das poças, dos lagos, dos mares. Poderia não gostar da tua imagem minguando, mas até minguada te adoro. Por tanto te admirar, aprendi a identificar tuas fases: nova, crescente, cheia ou minguante. Em qualquer fase te amo inteira, tanto tua metade de escuro quanto tua metade de claro. Declaro que te amo, Lua.