Fabrício Goulart
[email protected]
Alguns nomes ilustres saltam à ponta de nossa língua todos os dias. No aplicativo de carona, no táxi ou na hora de consultar a localização de algum estabelecimento comercial na internet. Borges de Medeiros, Oswaldo Cruz ou Tiradentes. Em toda a cidade, para qualquer direção, eles estão presentes. Fazem parte da nossa vida quando recebemos alguém ou quando vamos visitar alguém. Quando temos um encontro ou um compromisso inadiável de trabalho. Mas, afinal, quem são essas pessoas, tão próximas e também tão distantes?
O Riovale Jornal selecionou histórias de alguns dos personagens que compõem o cenário de Santa Cruz do Sul. Pessoas ilustres que ajudaram a construir o município, o Estado ou, inclusive, o país. Tem cientista que deu um novo significado ao combate a doenças e gente que foi precursora na cidade. Alguns representam histórias de grandeza, outros de profundas tristezas ou mistérios vivos ainda hoje.
Para iniciar, é importante mencionar aquela que foi a precursora, a mais antiga rua do município: a Rua José Germano Frantz, antiga Estrada Velha, localizada em Linha Santa Cruz, o berço da colonização alemã. Nascido em 24 de janeiro de 1883, José Germano Frantz foi agricultor, alfaiate e agrimensor. Foi um dos primeiros habitantes de Linha Santa Cruz, onde residiu por mais de 50 anos.
Sua antiga residência segue preservada e mantém suas características originais até os dias de hoje. Destacou-se por sua participação na Diretoria da Cooperativa Agrícola de Linha Santa Cruz, tendo sido também membro das diretorias da igreja e escola locais. Faleceu em 6 de agosto de 1966.
Quem foi Marechal Floriano Peixoto?
Floriano Vieira Peixoto nasceu em Maceió, em 1839. Foi um militar e político brasileiro, primeiro vice-presidente e segundo presidente do Brasil, cujo governo abrange a maior parte do período da história brasileira conhecido como República da Espada. Nascido em família bastante pobre, mudou-se para o Rio de Janeiro aos 16 anos para completar o secundário.
Em 1858, ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro. Foi declarado segundo-tenente quando concluiu o curso, em 1861. Como membro e, posteriormente, comandante do 1° Batalhão de Voluntários da Pátria durante a Guerra do Paraguai, participou de importantes episódios do conflito.
Foi um participante ativo da Proclamação da República, recusando-se a comandar a resistência imperial ao golpe de Estado republicano. Ascendendo ao posto mais alto do Exército Brasileiro em 1890, tornou-se Ministro da Guerra no mesmo ano. Eleito vice-presidente em fevereiro de 1891, torna-se presidente do Brasil a partir da renúncia do então presidente Deodoro da Fonseca.
Quem foi Marechal Deodoro?
Manuel Deodoro da Fonseca nasceu em agosto de 1827, no Rio de Janeiro. Foi um militar e político brasileiro, primeiro presidente do Brasil e uma das figuras centrais da Proclamação da República no país. Após cursar artilharia na Escola Militar do Rio de Janeiro entre 1843 e 1847, participou de algumas campanhas militares durante o Império, dentre as quais se destacam a Revolução Praieira, o cerco de Montevidéu e a Guerra do Paraguai.
Em 1885, tornou-se vice-presidente da província de São Pedro do Rio Grande do Sul; no ano seguinte, com a renúncia do então presidente Barão de Lucena, Deodoro torna-se presidente do Rio Grande. Posteriormente, em meio a diversas crises que assolavam a monarquia brasileira, Deodoro liderou o golpe de Estado que depôs o Império e proclamou a República no país. Com a mudança de sistema de governo, Deodoro assumiu o comando do país na qualidade de chefe do Governo Provisório da República. As primeiras mudanças de seu governo envolviam a criação do Código Penal Brasileiro, a reforma do Código Comercial do Brasil e medidas que oficializavam a separação da Igreja e o Estado.
Quem foi Borges de Medeiros?
Antônio Augusto Borges de Medeiros nasceu em Caçapava do Sul em 19 de novembro de 163. Foi um advogado e político brasileiro, tendo sido presidente do Estado do Rio Grande do Sul por 25 anos, durante a República Velha, e marcado pela defesa de valores positivistas. Em 1885 bacharelou-se em direito na Faculdade de Direito do Recife, para onde foi transferido de São Paulo um ano antes.
Borges de Medeiros é representante da primeira geração republicana. Em 1903, após a morte de Júlio de Castilhos, chamado O Patriarca, assumiu a liderança do Partido Republicano Rio-grandense (PRR). Foi presidente do Estado do Rio Grande do Sul e procurou dar continuidade ao projeto político do castilhismo, do qual foi um dos maiores representantes e fiel executor do positivismo.
Manteve-se no poder de 1898 a 1928 e sua única interrupção como governante ocorreu no quinquênio de 1908 a 1913, quando, impedido de se reeleger, fez seu sucessor, Carlos Barbosa Gonçalves. Em 1923, um movimento revolucionário obriga a mudança da constituição de 1891, que permitia a reeleição dos presidentes estaduais. Impedido de se reeleger, Borges de Medeiros abre caminho em 1928 para que Getúlio Vargas seja eleito presidente do estado, mantendo assim a hegemonia política do PRR.
Quem foi Júlio de Castilhos?
Júlio Prates de Castilhos, natural de São Martinho, então distrito de Cruz, nasceu em 29 de junho de 1860. Foi um jornalista e político brasileiro, considerado o “patriarca do Rio Grande do Sul” pelos seus conterrâneos. Foi presidente do Rio Grande do Sul por duas vezes e principal autor da Constituição Estadual de 1891. Foi responsável por disseminar o ideário positivista no Brasil. Influenciou Getúlio Vargas, que procurou implementar o castilhismo no Estado Novo (1937 a 1945).
Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, atuou como jornalista e político. Foi membro do Partido Republicano Riograndense (PRR) e dirigiu o jornal A Federação, de 1884 a 1889, onde fez propaganda das ideias republicanas. Rapidamente se tornou um dos principais líderes do PRR.
Em 15 de julho de 1891, Júlio de Castilhos foi eleito presidente do estado do Rio Grande do Sul e foi deposto em novembro do mesmo ano em decorrência do Golpe de Três de Novembro. Pouco mais de um ano depois, disputa nova volta a ocupar o antigo posto. Júlio de Castilhos morreu prematuramente em 1903, vítima de câncer na garganta. A última casa em que viveu foi adquirida pelo governo do Estado em 1905 e ainda neste ano ali instalou o Museu Júlio de Castilhos, no centro de Porto Alegre.
Quem foi Senador Pinheiro Machado?
Nascido em 8 de maio de 1851, em Cruz Alta, José Gomes Pinheiro Machado foi um político brasileiro, tendo sido um dos mais influentes da República Velha (1889-1930). Pinheiro Machado estudou na Escola Militar e aos quinze anos abandonou o curso para lutar, na Guerra do Paraguai. Deixou o exército em 1868 e permaneceu durante algum tempo em uma fazenda para se recuperar do desgaste físico sofrido em batalha.
Após esse período, viajou para São Paulo, onde se formou em 1878 pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Em 1889 foi eleito senador. Com a eclosão da Revolução Federalista (1893-1895), deixou a sua cadeira para combater o movimento armado.
Pinheiro Machado atingiu a sua máxima influência quando Nilo Peçanha assumiu a presidência, após a morte de Afonso Pena, em 1909. Pinheiro Machado foi assassinado com uma punhalada pelas costas por Manso de Paiva, em 8 de setembro de 1915.
Quem foi Ramiro Barcellos?
Ramiro Fortes Barcellos foi um político, escritor, jornalista e médico brasileiro nascido em Cachoeira do Sul, em 1851. Cursou a Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro e exerceu os cargos públicos de ministro plenipotenciário no Uruguai, durante a Revolução Federalista, secretário da Fazenda, procurador do Estado do Rio Grande do Sul no Rio de Janeiro e de superintendente das Obras da Barra de Rio Grande.
Além disso, exerceu os mandatos de deputado provincial nos períodos de 1877 a 1878, 1879 a 1880 e 1881 a 1882; elegeu-se senador da República pelo Rio Grande do Sul, de 1890 a 1899, e de 1900 a 1906. Criou, em 1902, como senador, a moeda cruzeiro, que só veio a ser adotada na década de 1940, no governo de Getúlio Vargas.
O que mais literariamente notabilizou Ramiro Barcellos foi um poemeto campestre, hoje considerado uma joia da literatura gauchesca, elaborado entre 1910 e 1915, em razão de uma briga política contra seu primo Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961). O então presidente do Estado foi retratado como Antonio Chimango.
Quem foi Tenente-Coronel Brito?
Joaquim José de Brito foi o primeiro presidente da Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. O nome da atual Rua Tenente Coronel Brito é uma homenagem a ele, que era conhecido por Tenente-Coronel Brito. Como não tinha Poder Executivo, o presidente da Câmara, além da função legislativa, exercia também a função do Executivo.
Para a instalação do município, com governo próprio, havia a necessidade da realização de eleições para que pudesse ser constituída a primeira Câmara de Vereadores, na época denominada de Conselho. Em 1878, os eleitos tomaram posse. Com o ato, o município ficou oficialmente instalado.
A posse representou a emancipação política-administrativa de Santa Cruz do Sul, que pertencia a Rio Pardo. A cerimônia de posse foi presidida pelo Presidente da Câmara de Rio Pardo, Joaquim Alves de Souza.
Quem foi Tiradentes?
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, nasceu em 1746 no Rio de Janeiro. Foi o único dos envolvidos na Inconfidência Mineira a ser condenado à morte. Quando a trama foi descoberta pelas autoridades, Tiradentes foi preso, julgado e enforcado publicamente. Após a Proclamação da República, ele foi transformado em herói nacional.
Com a morte prematura dos pais, Joaquim José precisou exercer inúmeros trabalhos ao longo de sua vida, como a de dentista amador, função que lhe deu o apelido de “Tiradentes”. Ele também trabalhou na mineração, porém, foi no posto de alferes nos quadros da cavalaria imperial que Tiradentes alcançou certa estabilidade.
Em Minas Gerais, começou a pregar em Vila Rica e arredores, a favor da independência da capitania. Fez parte de um movimento aliado a integrantes do clero e da elite mineira, como Cláudio Manuel da Costa, antigo secretário de governo; Tomás Antônio Gonzaga, ex-ouvidor da comarca; e Inácio José de Alvarenga Peixoto, minerador e grande proprietário de terras na Comarca do Rio das Mortes. Pouco de conhece de fato sobre Tiradentes, não havendo ainda um retrato verdadeiro.
Quem foi Oswaldo Cruz?
Oswaldo Gonçalves Cruz nasceu em São Luiz do Paraitinga, em 5 de agosto de 1872. Foi médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro. Pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da microbiologia no Brasil, ingressou em 1900 como diretor técnico do Instituto Soroterápico Federal, no Rio de Janeiro, transformado em Instituto Oswaldo Cruz, hoje a Fundação Oswaldo Cruz.
Em 1887, aos 15 anos, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, formando-se em 1892. Interessado pela microbiologia, Oswaldo montou um pequeno laboratório no porão de sua casa onde começou seus primeiros estudos. O Brasil era assolado por diversas moléstias infecciosas na época e Oswaldo Cruz empreendeu campanhas sanitárias para enfrentar doenças como febre amarela, peste bubônica e varíola.
A população se irritou com suas medidas sanitárias quando ele tentou promover a vacinação em massa da população contra a varíola, em 1904. Em 13 de novembro estourou uma rebelião popular, conhecida como Revolta da Vacina. A rebelião foi derrotada pelo governo, que também suspendeu a vacinação obrigatória. Mas em 1907, a febre amarela foi erradicada no Rio de Janeiro e em 1908, quando eclodiu um novo surto de varíola, as pessoas procuraram os postos de vacinação mais próximos. Em 1908 Oswaldo Cruz foi celebrado como um herói nacional.
Quem foi Deputado Euclides Kliemann?
Natural de Santa Cruz do Sul, Euclides Nicolau Kliemann foi um político nascido em 15 de março de 1922. Morreu de forma trágica em 31 de agosto de 1963, em um crime que chocou o Estado. Era filho caçula do empresário de beneficiamento de fumo João Nicolau Kliemann e de Francisca Josefa Etges. Formado em Técnico em Contabilidade pelo Colégio Marista São Luis e em economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Foi um dos fundadores do Sport Club Corinthians em Santa Cruz do Sul, onde ocupou a diretoria e promoveu o basquete e o vôlei na cidade.
Foi eleito deputado estadual pelo PSD e, na Assembleia Legislativa, ocupou o cargo de 2° vice-presidente. Sua esposa, Margit Irene Mailaender, foi assassinada em 20 de junho de 1962, no mesmo dia em que completavam 18 anos de casamento. O corpo foi encontrado caído de bruços com a face desfigurada. A polícia nunca desvendou o homicídio; Kliemann foi considerado um dos principais suspeitos.
Morreu assassinado em agosto de 1963, um ano e dois meses depois da esposa, nas dependências da Rádio Santa Cruz, depois de uma briga com o vereador Floriano Peixoto Karan Menezes, do PTB. O petebista havia provocado Kliemann em uma entrevista sobre o assassinato de sua esposa.
Quem foi Thomaz Flores?
Nascido em Porto Alegre em 10 de janeiro de 1852, Tomás Thompson Flores foi deputado federal constituinte pelo Rio Grande do Sul em 1891. De ascendência inglesa, assentou praça aos 14 anos para servir na Guerra do Paraguai (1864-1870), de onde voltou com o posto de Alferes. Foi promovido a tenente em 1878 e a capitão em 1883. Cursou a Escola Militar, concluindo o curso de Infantaria e Cavalaria em 1883. Depois de proclamada a República, chegou ao posto de major, em 1890, e a tenente-coronel. Em setembro desse ano foi eleito deputado federal constituinte pelo Estado do Rio Grande do Sul, na legenda do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), então liderado por Júlio de Castilhos.
Após concluir seu mandato de deputado federal, em dezembro de 1893, continuou sua carreira militar e tornou-se comandante do 13º Batalhão de Infantaria. Integrado a essa divisão, participou da Guerra de Canudos (1896-1897), rebelião popular liderada por Antônio Conselheiro no sertão baiano, em novembro de 1896. É sobre esse evento que Euclides da Cunha escreveu a célebre obra Os Sertões.
Tomás Flores foi um dos líderes de uma das expedições e tornou-se comandante interino da Brigada de Cláudio do Amaral Savaget. Passou a liderar a 7ª Brigada e, segundo Euclides da Cunha, “era um lutador de primeira ordem. Embora lhe faltassem atributos essenciais de comando e, principalmente, a serenidade de ânimo, que permite a concepção fria das manobras dentro do afogueamento de um combate, sobravam-lhe coragem a toda prova e um quase desprezo pelo antagonista, por mais temeroso e forte, que o tornavam incomparável na ação”
Quem foi Assis Brasil?
Em 29 de julho de 1857 nasceu Joaquim Francisco de Assis Brasil, em São Gabriel, posteriormente advogado, político, orador, escritor, poeta, prosador, diplomata e estadista brasileiro. Foi fundador do Partido Libertador, deputado e membro da junta governativa gaúcha de 1891. Juntamente com o Barão do Rio Branco, assinou o Tratado de Petrópolis, que assegurou ao Brasil a posse do atual Estado do Acre onde, em sua homenagem, foi criado o município de Assis Brasil.
Em 1872, foi interno no Colégio Taveira Júnior. Em 1874 frequentou, em Porto Alegre, o Colégio Gomes, onde estudou os preparatórios. Em 1876, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, passando a integrar o grupo de estudantes rio-grandenses que ali se formara. Foi eleito deputado provincial em dois biênios: 1884-1886 e 1886-1888. Em 1889, proclamada a República, foi eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte. Promulgada a constituição, renunciou ao seu mandato.
Em consequência de golpe de Estado do Marechal Deodoro da Fosneca, o presidente do estado Júlio de Castilhos abandonou o comando do Rio Grande do Sul. Assis Brasil acabou assumindo o Governo do Estado, mas renunciou com eleição de um novo representante. Em 1907, estando então no serviço diplomático, pediu aposentadoria e fundou a granja de Pedras Altas. Em seu castelo chegou a ser assinado o Pacto de Pedras Altas, Tratado de Paz realizado no final da Revolução de 1923.