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Da enganação à falência

Ei, psiu, venham cá. Vocês ainda acreditam no futebol? Bem, no jogo talvez sim, mas nos seus dirigentes e cartolas… que lamentável. Depois de inúmeras acusações contra o todo poderoso da CBF, Ricardo Teixeira, parecia que o homem “soltaria o osso”, após mais de 23 anos à frente da entidade, mas resiste à renúncia diante de denúncias irrefutáveis contra ele. E olha que não são poucas. Basta acompanhar as revelações e o discurso coeso de Andrew Jennings, repórter da BBC, que investiga o enriquecimento de Teixeira e da matriarca, dona FIFA. E ai, inclui-se, também, Joseph Blatter, o presidente “mor”. Na conta de Teixeira pesam denúncias de cheques de R$ 10 mil emitidos por Vanessa Precht, uma das sócias da Ailanto – empresa suspeita de ter superfaturado um amistoso da seleção contra Portugal em 2008 –, foram encontrados pela Polícia Civil em Brasília.
Não é a toa que a presença de Ronaldo (fenômeno) e Bebeto, agora, mais recente convocado para compor o COL (Comitê Organizador Local da Copa de 2014), servem apenas como marionetes para despistar e tirar Teixeira dos holofotes. Diga-se de passagem, não acredito que Ronaldo e Bebeto não sejam mais do que meros coadjuvantes.
Para Blatter, “mui amigo” de Teixeira, ficam os anéis, porque faz parte da alta e intocável cúpula da FIFA. Entretanto, denúncias de compra de votos na escolha da sede da Copa de 2022, que será no Catar, e também suspeitas sobre a derrota da Inglaterra para a Rússia como sede de 2018, fazem parte do legado do cartola. Anéis que João Havelange não pode desfrutar como queria. Saiu “de fininho” pelas portas do fundo do COI (Comitê Olímpico internacional), para evitar ser expulso da organização por causa, também, adivinhem do quê? Acusações de corrupção, lógico. Denúncias dão conta de seis milhões de libras esterlinas recebidas como propina da empresa ISL, que vendia os direitos de TV para a FIFA. Nossa, uma sensação de déjà vu.
Fato é que as falcatruas da CBF revelam a deterioração do futebol nacional. Um esporte de tantas tradições, resume-se hoje em ser a sétima seleção no ranking da FIFA, pelo menos até a publicação deste artigo. Ranking que não serve para nada. Inclusive, acho mesmo que o Brasil não é o melhor no futebol há muito tempo e não preciso da dona Fifa para saber disso. Um país que se acostumou a grandes seleções e vitórias, uma história de sucesso e que foi protagonista, hoje é plateia.
Um país em que sua população sempre teve como amparo e motivos de felicidade a seleção canarinho, hoje amarga uma seleção de acordos, politicagem e demagogia. Tudo orquestrado pela CBF, que privilegia tão somente este time, porque os campeonatos nacionais são esquecidos pela entidade, que é insuficiente.
Vejam as condições de muitos times das séries “B”, “C”, “D” e “E” e, mesmo na principal divisão, muitos times estão à deriva. Condições dos estádios, cuidados com os torcedores e valores de ingressos são ignorados pela CBF. Não é por menos que o jornalista Mauro Cezar Pereira, da ESPN Brasil, acertadamente reclassificou a seleção brasileira de “seleção da CBF”, a única prioridade. Haja vista que os amistosos da amarelinha são garantia de grandes negócios. Verdadeiras celebrações do pão e circo.
A verdade é que hoje não temos nenhum jogador brasileiro em destaque no exterior, que esteja à frente de um time, uma vez que eram desejados e idolatrados pelo mundo afora. Vivemos uma escassez de heróis no futebol, porque, mesmo diante de tantas mazelas, são eles que nos confortam e entusiasmam. Hoje mendigamos empates, jogadores de medianos a péssimos, estádios esburacados e arruinados, e por aí vai. Infelizmente, o futebol tornou-se um esporte enriquecedor para alguns e alienador para a maioria, e ao que me parece, os vampiros continuarão na escuridão.

*Professor de Psicologia da Faculdade Santa Marcelina