Início Opinião Cultura santa-cruzense: qual caminho seguir?

Cultura santa-cruzense: qual caminho seguir?

“Qual caminho seguir?” A frase segue a todos que estabelecem para si próprios um ideal, meta, objetivo. O mesmo pode-se dizer de uma administração pública. Como ela trabalha com orçamento, seu planejamento é feito com base em receitas e despesas. Mas o que fazer em Cultura, cujo orçamento gira em torno de 0 a 2 por cento? De imediato, surgem algumas questões que merecem uma atenção especial, bem como reflexão por parte dos entes culturais de nossa cidade. Peço licença para tomar como base uma das poucas publicações em cultura, das que julgo interessantes e de fácil compreensão. Trata-se do artigo escrito pelo professor José Carlos Garcia Durant, da FGV, intitulado “Profissionalizar a administração da cultura”.

A primeira interrogação que surge é sobre qual a grande questão da cultura. A resposta precisa nos dá clareza, mas não significa nada se não houver práxis, ou seja, avançar a racionalidade administrativa para garantir o engajamento do poder público, empresas, artistas e produtores. Para que tudo isso ocorra, se faz mister clareza, coerência e eficácia na formulação de objetivos, programas e projetos correlatos em matéria de cultura, possibilitando assegurar um fluxo de bens e atividades culturais de qualidade, pois somente assim se estará conseguindo promover a diversidade para as reais opções de consumo cultural entre os segmentos artísticos, e em cada um destes. Também que a cultura seja o território em que se afirmem e reafirmem identidades particulares, em contraposição à força globalizadora da indústria cultural internacional ou outra cerceadora das diferenças. E principalmente que sejam dados significados a valores reconhecidos como positivos. Para que isso ocorra, é evidente a adoção dos princípios da gestão cultural, ou seja, qualidade, diversidade, preservação de identidades e disseminação de valores positivos. 

Sabemos que para tudo funcionar é preciso recursos financeiros, só que a capacidade de inovação não custa dinheiro. Esta capacidade só tem eficácia se respeitada a especificidade cultural, ou seja, implementação de políticas culturais através das instituições culturais nas suas mais diversas manifestações. Essas políticas passam pela discussão sobre cultura erudita, cultura popular e cultura de massas, além da ação das indústrias culturais como o cinema, as casas de festas, as rádios e as televisões.

Preservar a diversidade cultural é assegurar, em primeiro lugar, o reconhecimento, respeito e garantia dos direitos culturais, isto é, o direito à própria cultura, o direito à produção cultural e o direito ao acesso à cultura. Se Cultura representa um sistema de pensamentos, valores, hábitos e crenças próprias de um grupo humano, seu modo de conceber a vida e o mundo, os meios de expressão desse sistema e os produtos que dele decorrem, ela é a base essencial para a aplicação de qualquer critério de governança e governabilidade. Isso só é possível se houver uma prática de ação cultural, ou seja, preservação e restauração de prédios, monumentos e documentos históricos, levantamento, análise e promoção de manifestações populares dos mais diversos tipos, fomento regrado das indústrias culturais e a edição de livros, museus e coleções, teatros, música, dança, artesanato, fotografia, literatura, artes plásticas, são – permanentemente – objetivos da administração cultural.

Como definir política cultural e dispêndio público em cultura, quando a meta básica do Município é reduzir gastos? A resposta é dada com uma constatação: já existe aqui um estoque de pessoas com escolarização elevada, para formar mercado para gêneros culturais mais sofisticados. As empresas começam a apoiar iniciativas culturais, com atenção para os dividendos (sobre a imagem da empresa e seus produtos), com perspectiva do lucro e melhorado pelo uso de técnicas modernas de administração.

Há um caminho, que é fazer a definição de prioridades, desenho e acompanhamento de projetos culturais, em contato simultâneo com autores e artistas, com outros intermediários (eventualmente com patrocinadores privados) e também com o destinatário final da cultura. Ajuda em muito conhecer a lógica da cultura em sociedades complexas, ou seja, em sociedades nas quais coexistam cultura de elite, indústria cultural e cultura popular. Daí a importância de conhecer “diagnósticos setoriais” – por exemplo, o estado geral das artes plásticas, das artes cênicas, da música. Com certeza o melhor caminho é reunir e dialogar, mas é preciso que os entes culturais sigam este caminho a um único encontro, para que então, todos juntos, possam responder com clareza, qual caminho seguir? Afinal, em “Alice no país das maravilhas”, a personagem que dá nome à história pergunta ao coelho “qual caminho seguir? ” O animal não titubeou em responder:

– Não importa o caminho, desde que você caminhe bastante e saiba muito bem onde quer chegar!

Rodrigo Ribeiro
Artista santa-cruzense