Tiago Mairo Garcia
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Uma conquista que marcou o fim de um ciclo e o início de uma nova história para o futebol amador de Linha João Alves, no interior de Santa Cruz do Sul. Fundado em 12 de março de 1959, o Cruzeiro, de Linha João Alves, atingiu o ápice de sua trajetória ao se tornar o quinto clube campeão do Cinturão Verde em 1999 ao derrotar o Linha Sete em uma das raras finais do certame sem a presença de Juventude de Seival, Linha Santa Cruz ou Boa Vista na decisão. O título também marcou o fim de uma trajetória de 40 anos de atividades do clube azul e branco, que no ano seguinte se uniu com o Oriental, principal rival da localidade, para fundar o Esporte Clube João Alves.
O comerciante aposentado Inácio Assmann, proprietário do Salão Assmann, 61 anos, foi presidente do Cruzeiro e acompanhou a trajetória do clube. Ele conta que no início, o time foi fundado por 11 jogadores que se reuniram para disputar um amistoso de futebol em Linha Andrade Neves e não tinham uniforme. “O Rosemiro Bender perguntou como iriam jogar sem camisa? Compraram 11 camisetas sem números e a partir daí iniciou o Cruzeiro”, conta o comerciante. Nos primeiros anos, o time disputava amistosos e torneios. Conforme Assmann, a primeira conquista expressiva foi o torneio-início do Cinturão Verde realizado em Linha Santa Cruz no ano de 1977. “O Roque Vogt fez o gol da vitória nesse torneio”, lembra.
Principal rival do Cruzeiro, o Oriental, de Linha João Alves, surge anos depois. Conforme Reinaldo Limberger, 65 anos, que era dirigente da equipe, o clube também disputou o Cinturão Verde e lembra com saudosismo dos clássicos na localidade. “Cruzeiro e Oriental era Gre-Nal aqui. Os campos eram próximos e quando se enfrentavam, movimentava as torcidas dos times. As pessoas vinham de tudo que é lugar e as duas rádios sempre transmitiam o jogo”, conta Limberger. No Cinturão Verde, o Cruzeiro chegou nas semifinais em 82 e o Oriental alcançou a semifinal de 91, sendo ambos eliminados pelo União.
João Hickmann forma time campeão
Campeão do Cinturão Verde com o Linha Santa Cruz, o treinador João Hickmann (já falecido) assumiu o comando do Cruzeiro em 1998. Membro da diretoria na época, Astor Agnes, 52 anos, lembra que o treinador não mediu esforços para montar uma equipe competitiva para a disputa da competição. “O João deu uma chacoalhada no time. Ele buscou jogadores de fora e montou times competitivos”, lembra. Em 98, o Cruzeiro foi vice-campeão ao perder a final do Cinturão Verde para o Boa Vista. Os dirigentes lembram que o treinador escolheu mandar a final no Estádio dos Plátanos pela qualidade do time. “O nosso campo era pequeno e o João achou que nos Plátanos o time iria render mais, mas não aconteceu”, disse Agnes.
Em 99, a história foi diferente. João Hickmann era presidente do Cruzeiro com Claudio Baier como treinador e ambos montaram uma equipe ainda mais competitiva que foi superando os adversários. Na semifinal, o Cruzeiro eliminou o Linha Santa Cruz e se habilitou para decidir o certame contra o Linha Sete, que chegou na final pela primeira vez.
No primeiro jogo, disputado no Estádio dos Plátanos, o Cruzeiro venceu por 1 a 0. No jogo da volta, disputado em Linha Sete de Setembro, o Linha Sete venceu no tempo normal por 2 a 1, resultado que levou a decisão para a prorrogação. Inácio Assmann recorda do lance no tempo extra que decretou a vitória por 1 a 0 e o primeiro título do Cruzeiro. “Foi um gol de falta da intermediária que Mauricio chutou da meia-esquerda na intermediária e acertou o ângulo direito do goleiro Sono. Foi um balaço na goleira dos fundos”, lembra Inácio. Astor frisa que Mauricio era um coringa do time. “O Mauricio jogava de zagueiro, no meio e de centroavante. Ele fazia bem todas as posições”, conta.
O time do Cruzeiro, campeão em 1999, foi formado com Geovane, Alfinete (Xandão), Jonas, Clóvis e Coquinho (Bingo). Maurício, Piá e Sérgio Rangel. Gelson (Isi), Clóvis Morsch e Silvinho, time treinado por Claudio Baier. Já o Linha Sete foi vice-campeão com Sono, Márcio, Pelé, Edson e Riva. Duda, Kiko, Elson e Alemão. Vini e Jefinho (Marquinhos), time treinado por Nilsomar Schroeder. A arbitragem da decisão em Linha Sete foi realizada por Clóvis Jacobs auxiliado por Fernando Spall e Renato Albers. “O João Hickmann fez de tudo e foi o principal nome dessa conquista”, frisou Astor.
Após o título do Cinturão Verde e da disputa do Municipal, Cruzeiro e Oriental decidiram encerrar as atividades e iniciaram o processo de fusão que culminou na criação do Esporte Clube João Alves e na construção do Estádio Nascer do Sol, que foi concluído em 2001. Inácio Assmann destaca que João Hickmann foi importante nesse processo. “Ele era neutro e a ideia da fusão casou com ele e o Reinaldo que conseguiram unir a turma”, salienta. Os três dirigentes relatam que o clube teve apoio do poder público e doações da comunidade para concluir a estrutura. Ao finalizarem, os dirigentes lembram de João Hickmann como um grande mentor do João Alves. “Ele era teimoso e fazia do jeito dele, mas tinha um coração bom”, disse Inácio. “Era sincero e uma pessoa fora de série”, acrescenta Astor. “O João deixou sua marca ao investir no campo e na fusão ajudou a unir a comunidade através do futebol”, finalizou Reinaldo.
Linha conquista nono título em 2000
Após quatro anos sem títulos, o Linha Santa Cruz voltou a soltar o grito de campeão em 2000. Já com o Estádio do Imigrante construído, a equipe decidiu o certame com o Seival. No primeiro jogo, em Linha Seival, empate em 3 a 3. Os gols do Linha foram marcados por Roxo (2) e Traíra. Na decisão, disputada em Linha Santa Cruz, o Linha goleou o Seival por 4 a 0, gols de Alex (2), Valdir e Elson. O time do Linha, campeão do Cinturão Verde pela nona vez, foi formado com PG, Marquinhos, Roxo, Dárley e Luciano. Fabiano, Eldor, Élson e Daniel (Traíra). Valdir (Sandro) e Alex Keller, time treinado por Nilsomar Schoreder. A arbitragem do jogo final foi realizada por Clóvis Jacobs auxiliado por Fernando Spall e Renato Albers.