Ricardo Gais
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Para que um hospital funcione da melhor maneira e preste um bom atendimento ao paciente, além de médicos qualificados e toda estrutura, as refeições diárias são muito importantes para uma boa e rápida recuperação dos internados. No entanto, poucos conhecem a cozinha hospitalar, e se engana quem acredita que o cardápio só é formado por sopas.
A nutricionista do Hospital Santa Cruz (HSC), Cinara dos Santos, explica que o trabalho na cozinha inicia às 6 horas, com uma equipe preparando o café dos pacientes. “É pela manhã que tudo acontece, a maior parte da produção das refeições é feita nesse período”, disse. No primeiro turno são quatro cozinheiros e duas auxiliares de cozinha. Já na parte da tarde são duas cozinheiras e uma auxiliar.
O cardápio de cada paciente é elaborado pelas nutricionistas através da prescrição médica. Elas também realizam as compras e a gestão da equipe. “Temos que ter esse olhar para os diversos tipos de dieta/paciente que a gente tem, além disso servimos médicos e acompanhantes que estão junto no hospital”, explicou a nutricionista.
No hospital são seis refeições diárias, iniciando pelo café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia. “Temos copeiros durante 24h que atendem eventuais chamadas para lanches extras”, sublinha Cinara. Ela conta que o cardápio é caseiro e tradicional da região, para que o paciente se sinta próximo da alimentação que tinha em casa, como arroz, feijão, carne de panela, aipim, verduras, omelete, purê de batata, frango grelhado e outros. “A grande maioria é refeição normal, mas há as dietas brandas, pastosas, para diabéticos, sem sal, então é uma grande variedade e temos que cuidar sempre para que chegue no paciente direitinho”, ressaltou.
Atualmente são preparados cerca de 170 almoços diários e há dois anos, o almoço dos funcionários do HSC é realizado de forma terceirizada. Conforme Cinara, antes da terceirização eram em torno de 400 almoços/dia, além da equipe ter diminuído. “Agora conseguimos focar mais na alimentação do paciente”, destaca.
PANDEMIA
A chegada da pandemia de Covid-19 fez com que o trabalho na cozinha aumentasse devido ao alto número de internações. “Muitos pacientes faziam o uso da sonda, então a alimentação mudava muito, isso sim foi a maior mudança e demanda nesta pandemia em pacientes mais graves”, relatou Cinara. Esse tipo de alimentação já era comum, mas em menor escala. Conforme a nutricionista, o mês de março foi o que mais registrou esse tipo de alimentação, além da dieta pastosa por ser mais fácil de mastigar.
Outra questão que já vinha sendo seguida à risca e que foi redobrada, é o cuidado higiênico na cozinha. “O paciente não pode comer algo que não esteja seguro, por isso não reaproveitamos nada e priorizamos alimentos fresquinhos, além dos cuidados que temos com nossos fornecedores”, enfatiza Cinara.
DENTRO DA COZINHA
A equipe da cozinha é formada por 12 cozinheiras, mais 28 pessoas que atuam nas copas espalhadas pelo hospital. Josiane Dias Vargas, 48 anos, já atua na área há 13 anos e conta que quando começou a trabalhar na cozinha hospitalar foi muito gratificante por estar fazendo o que gosta. “Pra mim é um prazer trabalhar aqui, e quando a equipe está completa o serviço é bem tranquilo. Claro que de vez em quando ocorrerem contratempos, mas conseguimos superar”, contou.
Josiane explica que durante a tarde, o trabalho é mais tranquilo e que a rotina diária é semelhante, pois já há um cardápio estipulado para cada dia da semana, o que vai facilitando o trabalho de preparo dos alimentos. “Com a pandemia, a rotina é corrida, mas conseguimos contornar a situação. Quando tem muita produção, já deixamos coisas elaboradas para que tudo ocorra bem no dia seguinte”, sublinhou.
A nutricionista conta que para haver uma quantidade certa de alimentos no próximo dia, ela confere no final de seu expediente a quantidade de pacientes e pessoas no hospital, para ver qual será a demanda no dia seguinte. “Quando é muita gente não conseguimos fazer algo mais elaborado, mas sempre preparamos uma boa refeição”, finalizou Cinara.
HSC movimenta indústria alimentícia local
Um levantamento feito pelo Setor de Nutrição e Dietética do Hospital Santa Cruz (HSC) apontou que a Instituição movimenta, em média, R$ 94.395,71 ao mês em gêneros alimentícios na indústria regional. Desse total, R$ 43.301,96 são de produtos adquiridos em empresas, de cooperativas ou de produtores de Santa Cruz do Sul. Os dados indicam ainda que R$ 29.997,63 é a média mensal de insumos de origem animal e hortifrutigranjeira adquiridos pela casa de saúde com fornecedores do Município.
No total são mais de R$ 1,1 milhão inseridos anualmente pelo Hospital na indústria alimentícia da região, sendo mais de meio milhão de reais ao ano em Santa Cruz do Sul.