Marque no seu relógio: em 45 minutos, ao menos um brasileiro terá tirado a própria vida. O frio girar de ponteiros esconde uma epidemia silenciosa que aumenta ano após ano. Tabus e receios envolvidos dão certa invisibilidade ao tema, especialmente quando tratamos da morte de crianças e adolescentes. Não podemos mais deixar para lá, nem desviar o olhar.
Os dados sobre o suicídio no Brasil são impressionantes – talvez ainda mais porque sequer são discutidos abertamente. Segundo o Ministério da Saúde, 11 mil pessoas cometem este ato extremo anualmente. Na última década, a taxa entre crianças de 10 a 14 anos aumentou 40%. Já entre jovens de 15 a 19 anos, cresceu 33,5%.
Tão alarmante quanto as estatísticas é a forma displicente como boa parte das famílias, governos e instituições vem tratando do assunto. Especialistas apontam que até 90% dos casos dos suicídios poderiam ser evitados. Não é o caso de buscar culpados, muito pelo contrário. Trata-se alertar uma sociedade que precisa acordar e valorizar a vida. Ou tudo ficará como está.
Na Câmara dos Deputados, formamos a Frente Parlamentar de Combate ao Suicídio e Automutilação, da qual sou secretária-executiva. No Rio Grande do Sul, a deputada Franciane Bayer capitaneia uma iniciativa estadual semelhante. Lá e aqui, de forma articulada, buscamos mobilização e união de esforços para desenvolver políticas públicas de enfrentamento a esse grave problema.
Estamos, é claro, diante de uma situação extremamente complexa, que envolve questões médicas e sociais. Mas isso não pode servir de desculpa para a inércia ou para a leniência. A cor amarela, escolhida para simbolizar o mês de setembro, não poderia ser mais adequada: é justamente um sinal de alerta para todos nós.
Se o relógio não está a nosso favor, precisamos agir – e o quanto antes! É hora de os pais falaram com seus filhos. De as escolas debaterem com a comunidade escolar. De os amigos cuidarem dos seus. De as igrejas orientarem seus fiéis. De os governos agirem. De a sociedade se dar conta e reagir. É hora de você fazer algo. Afinal, pelos meus cálculos, só temos mais 40 minutos até outra vida ser perdida.
Liziane Bayer – [email protected]
Deputada federal (PSB)