Eles são numerosos, mas ainda assim invisíveis. Nos grandes centros urbanos se contam aos milhares, nas cidades pequenas e médias estão em menor número, mas ainda assim existem. São pessoas em situação de vulnerabilidade social, alguns moradores de rua devido à extrema pobreza ou à perda de vínculos familiares, índigenas, albergados, usuários de drogas, enfim, gente que muita vezes não tem endereço fixo, nem paradeiro certo.
Devido ao preconceito, vergonha, constrangimento e até mesmo falta de informação, essas pessoas deixam de buscar auxílio junto à rede de atenção básica e acabam muitas vezes adoecendo gravemente ou até morrendo por falta de simples cuidados. E foi para alcançar essas pessoas que a Secretaria Municipal de Saúde criou há pouco mais de um mês, o Consultório na Rua, uma equipe formada por médica, enfermeiro, técnico de enfermagem, assistente social, monitor social e redutor de danos.
Uma vez por semana, sempre ao final da tarde, os profissionais saem rumo a locais já mapeados dentro do município pelo Programa de Redução de Danos. Durante as visitas são feitos procedimentos de clínica ambulatorial como verificação de pressão arterial, testagem rápida de HIV, coleta de amostras para tuberculose e hepatites, teste de glicose e outros. Distribuição de preservativos, encaminhamento para exames e orientações gerais também fazem parte do atendimento.
Na última semana, o casal M.S.G; 30 anos, e A.M. da S; 22, recebeu a visita do consultório. Eles estão juntos há um ano, ambos têm filhos de relações anteriores, mas praticamente perderam o contato com as crianças. Ele, usuário de drogas, conta que rompeu com a família e deixou a casa onde residia e ela alega que perdeu a casa e teve que ir para a rua junto com a mãe.
Há cerca de oito meses “morando” em um prédio desocupado, na área nobre da cidade, ambos estão desempregados, vivem de fazer bicos e contam com a boa vontade da vizinhança que vez ou outra repassa algum alimento ou item pessoal. Junto com eles vive a mãe de A.M. da S; Dona Maria, 59 anos, que consegue ganhar algum dinheiro fazendo faxinas, mas precisa lutar contra a pressão alta e o diabetes.
Nesse dia a equipe precisou estender o atendimento devido ao estado de saúde da idosa, que estava com pressão arterial elevada. Além de verificar os sinais vitais e o estado geral da paciente, a médica forneceu orientações, acompanhou o tratamento que já vinha ministrando, conversou, deu atenção à paciente e receitou uma nova prescrição de medicamentos para retirada gratuita na Farmácia Municipal.
O trabalho do consultório não termina por aí, Dona Maria vai continuar sendo acompanhada pela equipe, mesmo que esteja morando em outro local. Devido à locação do prédio para um novo inquilino, nos próximos dias ela, a filha e o genro terão que desocupar o imóvel. “Vamos continuar acompanhando para ver se ela está usando a medicação corretamente e se os remédios estão fazendo o efeito esperado”, disse a clínica geral Cecyra Collares.
De acordo com o secretário de Saúde, Henrique Hermany, o Consultório na Rua é uma iniciativa que, somada ao trabalho dos redutores de danos, visa à promoção da saúde e à prevenção de doenças. “É mais um instrumento que a Administração Municipal está adotando no cuidados com as pessoas em situação de vulnerabilidade social e drogadição. Por enquanto é um projeto piloto, mas no futuro a ideia é ampliá-lo”, explicou.