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Conde D

O diário que estamos falando – “Viagem militar ao Rio Grande do Sul” (Itatiaia/USP, 1981) – é mesmo muito interessante. O autor, o famoso “nome de rua” Conde d’Eu, era letrado, ligado nas atualidades mundiais, manjava de história e ciências da época, como muitos das nobrezas europeias do século XIX, fascinado por vestimentas militares e outros “trajos”, caso do poncho, que conheceu “ao vivo” e usou-os em Porto Alegre durante a sua passagem pelas bandas, antes de subir de barco pelo Jacuí até Rio Pardo, seu próximo destino em direção a Caçapava, onde iria encontrar o sogro e o concunhado (Augusto), que estavam rumando à fronteira invadida pelos paraguaios. Ele anota no diário no dia 08 de agosto de 1865:
“A maior parte das ruas de Porto Alegre são em rampa, como é também aquela praça [onde estão quatro palmeiras, cujos enfezados ramos parecem gemer de frio, curvados sobre a violência do vento pampeiro]; mas são largas e alinhadas. Há muitas lojas e em quase todas se vê o famoso poncho, trajo condicional da região, que não é o poncho da infantaria espanhola nem mesmo o poncho comprido dos mexicanos. O daqui é simplesmente uma capa de pregas muito largas, cortadas uniformemente em círculo à altura dos joelhos e que não tem outra abertura senão a do centro, por onde se enfia a cabeça. Às veze tem uma enorme gola, que se pode levantar para abrigar a nuca. Quanto aos braços, ficam dentro: para usar deles é preciso levantar e sustentar um dos lados da capa: é o inconveniente do trajo. A maior parte dos ponchos são de pano azul-escuro ou preto, forrados de vermelho. Assim é o que eu trago. Mas também se veem de várias cores, entrando o amarelo-escuro, o verde e outras, com vários desenhos, nos cavaleiros que passam pelas ruas de Porto Alegre. […] A pedido do fotógrafo, um italiano, fui-me retratar de poncho e chapéu mole.”
Passados exato um mês, em 8 de outubro, Conde d’Eu vai voltar a falar em poncho, dessa vez a partir de um “modelito” envergado pelo seu já referido concunhado, o Príncipe de Saxe-Coburgo-Gota ou, na intimidade, simplesmente Augusto, marido da Princesa Leopoldina, a outra filha de Dom Pedro II:
“Augusto aparece com um poncho de verão, branco com risquinhas azul-celeste. Fica definido este trajo pelo seu nome: quando começa a fazer muito calor para que se possa usar o poncho de lã, o gaúcho elegante substitui-o por outro, feito de uma fazenda leve de algodão e seda. Há os inteiramente brancos, e outros amarelos; mas a maior parte tem listas, sempre de cores claras e vivas. São muito pitorescos quando entram a flutuar à mercê do vento sobre o cavalo a galope, com os arreios muito enfeitados de prata; mas parecem-me ter pouca utilidade prática na viagem.”
O conde poderia hoje ser um refinado estilista de moda. Mas foi bem mais que isso em seus 80 anos de vida.

Iuri J. Azeredo – Professor