Luciana Mandler
[email protected]
A Comunidade Terapêutica Recomeçar é um centro de reabilitação que oferece tratamento para auxiliar dependentes do álcool e de químicos a livrar-se dos vícios. Foi graças à comunidade terapêutica que Mário Kist conseguiu se recuperar e está há 23 anos sem ingerir bebida alcóolica.
Antigamente, chamada como Unidade de Tratamento de Alcoolismo do Vale do Rio Pardo (Utravarp) realizou cerca de 4 mil internações. Hoje, como Comunidade Terapêutica soma 1.620 internações. Lembrando que este é o número de internações e não de pessoas internadas, pois vários deles passaram pelo local mais de uma vez.
Inicialmente, mais especificamente em 1994, o espaço começou a funcionar como unidade de tratamento de alcoolismo. Em outubro de 2009, deixou de ser a Utravarp e passou a ser comunidade terapêutica, com novo estatuto e novas normas, passando a atender também dependentes químicos, embora em 1997, a Utravarp tivesse recebido o primeiro dependente químico.
Hoje, a CTRecomeçar conta com cerca de 25 residentes, sendo dependentes de álcool e de químicos. São três mulheres e os demais homens, na faixa etária dos 30 aos 40 anos. Para o psicólogo da comunidade terapêutica, Antonio João Weber, a dependência não escolhe raça, religião, credo, nem gênero.
A procura por internação ocorre quando as pessoas são empurradas pelos problemas ou a família que não suporta mais resolve que vai internar por bem ou por mal. Pela legislação, o psicólogo Antonio explica que a internação deveria ocorrer de forma voluntária e o residente estar desintoxicado. Porém, se estes critérios fossem levados ao pé da letra, não haveria quase internações.
Atualmente, a Comunidade Terapêutica Recomeçar dispõe uma média de 22 vagas mês para a Prefeitura, onde os residentes ficam internados 90 dias. Já os residentes particulares ficam 45 dias, sujeitos a ficarem 60 ou 90 dias. No espaço há pessoas sendo atendidas do próprio Município como também de Santa Maria, Porto Alegre, Campo Bom, enfim, diversos lugares.
O PROGRAMA
Para aqueles que optam pela internação ou familiares decidiram que o melhor é a internação, a comunidade terapêutica tem um programa. Todos os dias tem uma programação que se repete de 45 em 45 dias. Segundo Antonio, a programação começa pela manhã e vai até a noite.
Às 7h, todos os residentes levantam, tomam café, tomam medicação e após, começam o mutirão de limpeza. “Cada um tem uma tarefa, pois a casa é deles, então precisam cuidar e manter”, salienta Antonio. Quando terminar, têm um intervalo, onde podem tomar chimarrão, fumar. Às 9h, os residentes participam do grupo de sentimentos. Às 10h15, dependendo da atividades da tarde, têm a autobiografia. 11h participam de seminário e meio-dia almoçam e então estão livres para tirar uma soneca. À tarde, a partir das 14h, ocorre o grupo de sinalização e às 15h30 é hora do lanche. Às 16h mais um seminário. Após, ficam livres até o jantar, que ocorre às 19h. Por fim, às 20h participam de mais uma atividade.
Depois do seminário, o psicólogo Antonio conta que os residentes estão livres até a hora do jantar. Neste meio tempo podem fazer uma atividade física ou lavar suas roupas, já que a tarefa é competência de cada um, individualmente.
Todas as terças e sextas-feiras de noite ocorrem reunião de AA. Devido à pandemia de Covid-19 não estavam autorizadas participações de pessoas de fora. Há três semanas haviam aberto novamente para estas participações, mas com os novos casos, as participações foram suspensas novamente.
Antonio salienta que o trabalho realizado está apoiado num tripé, que prima pela disciplina, espiritualidade e conscientização. “O terceiro é o mais importante, pois eles precisam estar conscientes da doença, do que podem e devem fazer pela recuperação. É uma doença que não tem cura, mas precisa permanecer estacionada, eles precisam se manter sóbrios”, avalia.
A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA
Na Comunidade Terapêutica Recomeçar havia a cada duas semanas, sempre nas quartas-feiras, o Programa de Família, que iniciava às 9h e se estendia até as 16h. “Eles tinham reuniões, seminários, um momento que podia ficar com o familiar, conversar, almoçar e no domingo seguinte à tarde, ocorria a visita”, conta Antonio. Também devido à pandemia, precisou ser remodelado. “Retornamos o Programa de Família somente na parte da manhã, das 9h às 11h30. E as visitas de domingo retornamos domingo retrasado, ocorrendo uma vez por mês”, explica.
Para que os residentes não se sentissem sozinhos, a comunidade aumentou os números de ligações telefônicas. Antes, ocorriam duas ligações ao mês, passando a ser duas por semana. Já os familiares podem ligar todos os dias se preferirem.
Entendendo como forma importante do processo, os familiares participam de seminários, onde dialogam e perguntam. “Temos que trabalhar a família também, pois senão ela pode ser um fator de recaída”, reflete o psicólogo.
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
As pessoas mais próximas dos residentes são os consultores. Estes consultores são pessoas alcoolistas e dependentes químicos que fizeram tratamento, fizeram curso e se prepararam para estarem ali, acompanhando todos os dias. Além disso, há os monitores, que ficam à noite ou fim de semana. Também são alcoolistas e dependentes químicos em recuperação que receberam preparação para este acompanhamento.
O local conta ainda com uma equipe composta por assistente social, psicólogo, enfermeira, técnico de enfermagem, nutricionista, médico psiquiatra – que vai até o local uma ver por semana. Também conta com equipe administrativa, secretária e cozinheira.
ESTRUTURA
A Comunidade Terapêutica Recomeçar conta com ampla estrutura. Os residentes têm acesso à sala para assistir TV, dormitórios coletivos, com no máximo, seis camas e que estão divididos em ala masculina e ala feminina. Há banheiros, área de serviço com tanque e máquina para lavar roupas, refeitório, cozinha, salas para reuniões e seminários, além de um amplo pátio.