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Como fica o cenário político em Santa Cruz

Professor João Pedro Schmidt analisa resultado do pleito no Município

Tiago Mairo Garcia
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O resultado da eleição municipal realizada no último domingo, 15, formatou um novo cenário político para os próximos quatro anos, em Santa Cruz do Sul. Ao analisar o resultado do pleito, o professor de Ciência Política e Filosofia da Unisc, João Pedro Schmidt, destaca como pontos principais o fortalecimento do Partido Progressistas no Município e a derrota da coligação apoiada pelo prefeito Telmo Kirst.

João Pedro Schmidt avalia que santa-cruzenses votaram pela continuidade ao eleger Helena Hermany para a Prefeitura. Foto: Divulgação


Ao analisar o resultado, Schmidt frisa que, considerando conjuntamente a votação para o Executivo e o Legislativo, o Progressistas foi o partido que mais se fortaleceu ao vencer a eleição à Prefeitura e aumentar de dois para três o número de vereadores na Câmara. Por outro lado, ele cita que a maior derrota foi do atual governo em coligação formada por partidos que anteriormente estiveram juntos com o PP. “Esta cisão das forças conservadoras, herdeiras da antiga Arena, da época da ditadura militar de 1964, foi a principal novidade desta eleição, pois geralmente é um bloco que vinha mantendo sua unidade nas últimas décadas”, frisa ele. No Legislativo, Schmidt salienta que o PTB se fortaleceu ao passar de dois para três vereadores, assim como o Republicanos, que passou de um para dois, e o DEM, que voltou a ter uma vaga na Câmara. O Novo cresceu ao obter uma razoável votação para prefeito e conquistar sua primeira cadeira no Legislativo, e três partidos mantiveram a sua presença na Câmara de Vereadores no mesmo patamar: MDB (1), PT (1) e PSD (2). Três partidos perderam espaço: PSDB (quatro para dois), PL e Cidadania (tinham um e deixaram de ter representação).

VITÓRIA DE HELENA

Sobre a vitória de Helena Hermany nas urnas, o professor entende que o principal fator foram as manobras, de algum modo, incompreensíveis e pouco inteligentes do atual prefeito Telmo Kirst no seu segundo mandato. “Quando se esperava uma discussão interna no bloco governista que resultasse na escolha de um representante único, eis que os movimentos do prefeito produziram fissuras, depois rachas abertos no bloco governista. Estas manobras ficarão registradas na história de Santa Cruz como um desastre provocado por um estilo autoritário de conduzir as relações políticas entre aliados. Um governo bem avaliado pelos setores conservadores não produziu senão uma chapa absolutamente frágil para disputar as eleições”, disse Schmidt.


Ele salienta que Helena Hermany teve a seu favor três fatores principais: seu prestígio pessoal construído ao longo de décadas de atuação pública; uma máquina partidária (PP) bem azeitada e a disputa ferrenha das chapas lideradas pelo PTB e MDB. “Ao conseguir angariando a maioria dos votos conservadores do Município, ela obteve o suficiente para vencer”, lembrando que os herdeiros da Arena costumam partir de um patamar de 25% a 30% nas eleições. “Helena capitalizou os votos deste eleitorado e a disputa ferrenha do PTB e MDB evitou que alguma dessas forças alcançasse percentuais maiores”.

CANDIDATOS DERROTADOS

Sobre os candidatos derrotados na eleição majoritária, Schmidt frisou que PTB e MDB saem razoavelmente fortes com a votação obtida para o Executivo. “Mathias Bertram foi impulsionado pela força da família Moraes, com dois deputados e um ex-deputado, o que revela que o PTB e a família Moraes continuam sendo uma força municipal e regional importante. O MDB passa a ter em Alex Knak uma liderança que provavelmente buscará um espaço regional para crescer”, destacou.


Sobre Carlos Eurico Pereira, candidato do Novo, Schmidt cita um bom desempenho para a Prefeitura. “Será a principal voz do pensamento neoliberal no Município, uma visão que faz certo sucesso em ambientes da classe média, da mídia e de alguns espaços acadêmicos”. Sobre Jaqueline Marques, candidata do governo, o professor avalia que ela teve um desempenho fraco. “Já era esperado na véspera das eleições, depois do acidentado percurso da construção da sua candidatura”.


Sexto colocado no pleito, Frederico de Barros e Manu Mantovani, do PT e PCdoB, que são iniciantes na política local, tiveram uma performance acima do esperado e saíram bem maiores do que entraram. “Mais que seus votos, significam a renovação dos quadros da esquerda e credenciam-se para crescer enquanto lideranças nesse campo”. Sétimo colocado, Irton Marx foi apenas um coadjuvante na disputa. “Irton Marx entrou e saiu como personagem folclórico da política local”, disse Schmidt.


Questionado sobre qual o recado que a população santa-cruzense procurou passar através das urnas, ele destaca que eleição sempre é momento de esperança, de que o novo governo fará o que os anteriores não fizeram, mas frisa que o voto em Helena Hermany é um voto mais na continuidade do que na mudança, salientando que as urnas não trouxeram nenhum recado significativo. “A imagem da prefeita condiz com o apreço da população local de que o governo deve zelar por uma cidade bonita, com serviços de boa qualidade, de oportunidades de negócios e de lazer. A população local tem uma visão afinada no geral com a visão conservadora dos nossos principais partidos, que perpassa não só o PP, mas também o MDB, o PTB e partidos aliados. As urnas não trouxeram nenhum recado forte neste sentido. Infelizmente”, finalizou.

Arquivo/RJ