A senhora idosa tinha dificuldade em atravessar a movimentada avenida. Um menino tímido, em torno de 12 anos, ofereceu-se para ajudá-la e lhe deu o braço. Como um casal feliz, passos leves foram dados para a outra direção da rua. A idosa aos poucos começou a ter um semblante mais leve. O menino vencia parte de sua timidez, e, sentia pela primeira vez uma sensação agradável, pura, dessas que deixa a alma parecida com os voos das borboletas numa manhã de sol e céu azul.
Quando colaboramos de forma despretensiosa, altruísta, voluntária e abnegados, geramos em nós enquanto unidade – corpo, mente e espírito – uma vibração nova, saudável, e que baixa o nosso nível de cortisol e também de diversas toxinas. Pessoas colaborativas são mais saudáveis segundo pesquisas e líderes em ‘Coach’ pessoal. A minha experiência em Psicoterapia Clínica tem comprovado isso.
Hoje está se tornando hábito dizer que a sociedade está adoecendo cada vez mais. O pior é que isso confere com a realidade, que é sempre mais confusa. Mas também há o perigo de focarmos demais na sombra e de menos na luz. Tem muito de beleza e leveza no mundo de hoje. Tem muito de grandeza humana apesar das novas “assombrações” que teimam em fazer morada no nosso tempo.
A colaboração entre os humanos, e dos humanos com as outras criaturas, continua viva e faz parte do princípio de vida de muita gente e de organizações antigas e recentes, que são voltadas para uma humanidade melhor. Sabemos que as inúmeras palestras motivacionais, especialmente as melhores no ‘TED Talks – Technology, Entertainment, Design’ – disponíveis no Youtube ajudam a ampliar o significado de colaboração e a beleza do altruísmo nos tempos atuais.
As sociedades que souberam investir nas associações comunitárias, cooperativas, mutirões, organizações de entre ajuda, escambo, e mais recentemente num organizado e moderno voluntariado, desenvolveram-se melhor no nível humano e na saúde emocional de seus cidadãos. Quando há uma catástrofe sabe-se que muitas pessoas passam de uma passividade ou indiferença social a um engajamento, às vezes trazendo surpresas e mostrando liderança antes inimaginável em muita gente.
Pessoalmente creio que o bem é inerente à pessoa humana desde a infância. As crianças – e aqui respeito às teorias ou estudos que teimam em afirmarem que elas são naturalmente “egoístas” -, são seres que buscam relação social e não sabem e nem querem “construir um muro” em torno de si. Uma criança quando percebe que um amiguinho de fato está numa situação difícil, ela se aproxima e deixa uma emoção florir e tenta fazer algo por ele. Crianças, quando emocionalmente saudáveis, são em grande parte colaborativas e abertas a compartilharem seus brinquedos e até a sua casa.
Nas famílias onde se desenvolve a corresponsabilidade mútua – quem coloca as coisas para a mesa de refeição, quem recolhe e quem arruma determinadas coisas, ou quem responde por tarefas domésticas bem definidas, formam seres humanos colaborativos e que mais tarde se tornam também pessoas bem proativas.
Carecemos de novas formas de colaboração. Há gestação de novas formas em algumas partes do mundo, e que tem beneficiado a vida de milhões de pessoas, como o banco dos pobres, criado por Muhammad Yunus, economista de Bangladesh e que recebeu o Prêmio Nobel da Paz. O Papa Francisco insiste que se deve investir com todo o esforço possível nos três tes: Terra, teto e trabalho, colaborando assim para que milhões de pessoas possam ter uma vida com melhor dignidade e sentido.
Colaboração é saber que uma mão vai e a outra vem. Quem ajuda é de muitas formas também ajudado. O sentimento de saber que fez algo de bom através de uma doação responsável, uma ajuda direta através da prestação de um serviço ao outro ou mesmo com um simples clique passar um pequeno recurso para quem administra uma instituição que carece de ajuda, é algo saudável e que cura em grande parte o corpo, eleva a mente e ilumina a alma. Eu já fiz algo colaborativo hoje. E você já fez sua colaboração hoje? Veja o que você pode fazer. A frase de Clarice Lispector é inspiradora neste sentido: “Um amigo me chamou pra cuidar da dor dele, guardei a minha no bolso… E fui…”.
Cyzo Assis Lima.fpm, padre e psicoterapeuta clínico, é o fundador da Fraternidade Palavra e Missão, mantenedora do Instituto Humanitas Fraternidade-IHF (www.vivares.info)