Alyne Motta – [email protected]
Na antiguidade, o fogo era considerado sagrado por muitos povos, incluindo os gregos que tinham uma lenda onde o fogo teria sido entregue aos mortais por Prometeu, que o roubara a Zeus. Devido à sua importância em muitos templos eram mantidas chamas permanentemente, como o de Hestia, na cidade de Olímpia.
Segundo se sabe, a tradição de manter um fogo aceso durante os Jogos Olímpicos remonta à antiguidade, quando se efetuavam sacrifícios a Zeus. Nessas cerimônias, os sacerdotes acendiam uma tocha e o atleta que vencesse uma corrida teria o previlégio de transportar a tocha, prestando uma homenagem a Zeus.
TRADICIONALISMO
No Rio Grande do Sul, esse fogo simbólico é representado pela Chama Crioula. Num ambiente em que a sociedade negava hábitos, costumes e tradições gauchescas, ressurge o sentimento de orgulho das coisas tradicionais, que só tinham destaque quando a Brigada Militar reverenciava o General Bento Gonçalves da Silva.
No mês de agosto de 1947, alguns estudantes do Colégio Júlio de Castilhos de Porto Alegre, liderados por João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, fundaram um Departamento de Tradições Gaúchas, junto ao Grêmio Estudantil, e destinava-se a estimular o desenvolvimento cultural, por meio de reuniões sociais recreativas.
Era um movimento estudantil com alunos de diversas camadas sociais e segmentos étnicos, que se levantava em favor das tradições. O objetivo era achar uma trilha diante da perda da fisionomia regional; combater a descaracterização; reagauchar o Rio Grande. Em suma: procuravam a identidade da terra gaúcha.
No Departamento de Tradições Gaúchas do Grêmio Estudantil Júlio de Castilhos, decidiram realizar a “1ª Ronda Gaúcha”, que logo passaria a ser chamada de Ronda Crioula. Esta iniciou no dia 7 de setembro, com uma programação que se estendeu até o dia 20 daquele ano de 1947.
À beira do fogo-de-chão, mateando e tomando café-de-chaleira, Barbosa Lessa ventilou a ideia de fundar uma agremiação gauchesca. Iniciava-se o tradicionalismo como força popular. A ronda foi precursora da Semana Farroupilha, oficializada 17 anos mais tarde, através da Lei Estadual 4.850, de 11 de dezembro de 1964.
CHAMA CRIOULA
Paixão Côrtes, que dirigia o Departamento, foi procurar o presidente da Liga de Defesa Nacional e disse-lhe que gostaria de retirar uma centelha do Fogo Simbólico da Pátria no momento da sua extinção no dia 7 de setembro e transportá-la até o Colégio Júlio de Castilhos.
Lá acenderia um candeeiro típico, num altar cívico, no que foi autorizado. Próximo da meia-noite do dia 7 de setembro de 1947, os jovens, João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, Cyro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, devidamente montados, aguardavam junto à Pira.
Chegando o momento da extinção do Fogo Simbólico da Pátria, foram chamados para a retirada da centelha. Paixão Côrtes subiu ao topo da Pira com um archote improvisado, feito de estopa embebida em querosene presa à ponta de um cabo de vassoura e solenemente acendeu a primeira Chama Crioula.
Dali, os três cavaleiros, conduziram a galopito a centelha até o “Julinho”, onde acenderam o Candeeiro Crioulo. Esta centelha é o fogo que simboliza fertilidade, calor, claridade, ardor, paixão, hospitalidade e coragem. Enfim, a Tradição Gaúcha, a qual representa o gaúcho idealizado no espírito heróico dos Farroupilhas.
ACENDIMENTO
Ontem, 17 de agosto, o ato de acender a Chama Crioula se repetiu pela 65ª vez, na vizinha cidade de Venâncio Aires, também conhecida como Capital Nacional do Chimarrão. Tradicionalistas dos quatro cantos do Rio Grande do Sul estiveram reunidos num momento mágico.
As delegações, vindas de todas as Regiões Tradicionalistas (RT), recebem a centelha oficial hoje a partir das 10h, no Parque Municipal do Chimarrão. Antes, acontecem apresentações artísticas, contando a história do processo da erva-mate, finalizando com a dança da música “Roda, roda essa cuia”.
Na parte da tarde acontece o Seminário Estadual da Juventude Gaúcha, no Auditório do Parque do Chimarrão. Bruno Fernandes ministra a palestra “A juventude e o Tradicionalismo Organizado”, seguida da palestra “Orgulho de ser gaúcho” com Airto Timm.
Curiosidades
Sítios históricos do Rio Grande do Sul que sediaram o Acendimento da Chama Crioula
2001 – Guaíba, na fazenda de Gomes Jardim
2002 – Santa Maria, no centro do estado
2003 – Camaquã, no sítio das Água Grande, de Barbosa Lessa
2004 – Erechim, no Recanto dos Tauras
2005 – Viamão, cidade fundamental na história do RS
2006 – São Gabriel, na Sanga da Bica, onde tombou Sepé Tiarayú
2007 – São Nicolau, 1ª redução e um dos 7 povos das missões
2008 – São Leopoldo, Terra de Colonização Alemã
2009 – São Lourenço, no casarão de Ana, irmã de Bento Gonçalves
2010 – Itaqui, o acendimento volta para a fronteira
2011 – Taquara, cinquentenário da Carta de Princípios
2012 – Venâncio Aires – Capital Nacional do Chimarrão