Descobrir-se portador do vírus HIV pode ser um choque e tanto, mas o que muita gente não sabe, é que ter o vírus não significa estar doente de Aids. Por causa de um número significativo de pessoas que ao descobrirem-se portadoras do vírus não aderem ao tratamento, abandonando-o ou não seguindo as orientações corretamente, é que o número de doentes vem aumentando significativamente.
Santa Cruz do Sul já é o 41º colocado entre os municípios brasileiros com maior número de casos notificados de Aids. Se por um lado este número é alarmante, em um universo de 5.564 municípios, por outro ele pode não refletir a realidade, uma vez que muitos municípios não têm o controle sobre os registros e poderiam estar com números subestimados ou até bem acima dessa posição.
Ainda assim, o quadro é preocupante porque, conforme explica a coordenadora do Cemas/SAE, a assistente social Maria Cristina Afonso, denota a ocorrência de um diagnóstico tardio, ou seja, quando as pessoas vão realizar a testagem, pelo fato de o fazerem tardiamente, descobrem não apenas a presença do vírus no organismo, mas o desenvolvimento da doença, o que poderia ser evitado. “Quanto mais cedo diagnosticado o vírus, mais eficiente a medicação antirretroviral para retardar os sintomas da doença e garantir mais qualidade de vida para o paciente”, explica ela.
O grande desafio hoje enfrentado pelos profissionais que trabalham no Cemas é conseguir reverter os casos de abandono de acompanhamento e tratamento por parte dos pacientes, após o diagnóstico positivo. “Muitas vezes é uma questão de aceitação, vergonha, preconceito e até medo de perder o emprego”, avalia a coordenadora municipal de Aids, psicóloga Alzira Vaz da Silva. “Outras vezes tomar o remédio é se deparar com a doença. Por isso é tão difícil”.
Luiz Fernando Bertuol
Maria Cristina e Alzira Vaz trabalham no Cemas, em Santa Cruz do Sul
Atualmente 874 portadores de HIV/Aids são atendidos no Cemas, e desses 430 fazem uso da medicação antirretroviral, porque a partir de algum momento desenvolveram a doença. A estimativa, no entanto, é que o número de infectados pelo vírus seja de três a quatro vezes maior. Em 2010, 72 novos casos foram detectados; em 2011 o número caiu para 64 e em 2012 saltou para 87. Nesse último ano 1375 pessoas compareceram ao centro para efetuar a testagem. A maior vulnerabilidade está entre mulheres na faixa etária de 15 a 34 anos, jovens e homens com idade acima dos 50 anos.
Um aspecto importante para o qual Alzira chama a atenção é o fato de que o número de mulheres infectadas vem aumentando consideravelmente em relação ao número de homens. Hoje a incidência do vírus é de uma mulher para cada homem, enquanto na década de 80 era de 15 homens para uma mulher. “Infelizmente a mulher alcançou independência em muitos setores da vida social, mas continua submissa em relação a sua própria saúde, deixando a prevenção nas mãos do parceiro”, avalia.
Prevenção positiva
Este ano o Cemas volta um olhar especial para a prevenção positiva. O foco é trazer mais pessoas para a coleta e assim poder diagnosticar casos recentes, com chances de responder melhor ao acompanhamento. “Vamos elaborar um plano para quem tem o vírus, mas não adere ao tratamento. Quanto mais o tempo passa, mais diminuem as células de defesa e menos eficaz é a resposta aos medicamentos”, diz Maria Cristina.
A coordenadora ressalta que de uns quatro anos para cá surgem mais casos de Aids e menos de HIV. “As pessoas estão chegando doentes, só testam quando o médico pede pelo aparecimento de alguma doença que revele a baixa imunidade”. Nesses casos, ela diz, que é muito mais difícil, tanto o tratamento quanto a aceitação. “Não queremos descobrir o portador já enfermo, mas acompanhá-lo no início, para que ele não desenvolva doenças oportunistas, como câncer, tuberculose, toxoplasmose e outras. A Aids não tem cura, mas podemos evitar as doenças oportunistas”.
Para realizar a testagem, não é necessário requisição médica. O exame é gratuito e feito sob agendamento. Os telefones para contato são 3715-6368, 3711-8485 e 08000516114. O endereço é rua Thomaz Flores, 806.