Vestir a fantasia e cair no samba. É isso que uma multidão de brasileiros está prestes a fazer a partir deste sábado, quando terá início a maior festa popular do país, o carnaval. Mas para que essa alegria toda não termine na quarta-feira de cinzas é preciso estar atento e não descuidar da saúde. Por ser esse um dos períodos de maior consumo de álcool, as pessoas acabam cometendo excessos de toda ordem, dentre os quais está o sexo sem proteção.
Segundo dados do Ministério da Saúde, hoje 734 mil pessoas não sabem que são portadoras do HIV e esse número só cresce. No Rio Grande do Sul, estado com o maior número de soropositivos, Santa Cruz do Sul e região acompanham essa realidade. Porém, conforme a coordenadora do Centro Municipal de Atendimento à Sorologia (Cemas), enfermeira Daiana Raddatz, apesar da informação estar amplamente disseminada, as pessoas acreditam que “com elas não vai acontecer”.
O ano mal começou e até a última quarta-feira, dia 22, 16 pessoas já foram diagnosticadas com o vírus na região. Em 2015 foram registrados 122 novos casos e em 2016 o número saltou para 139. Quando a doença tornou-se uma epidemia, na década de 80, falava-se na existência dos chamados grupos de risco, que incluíam homossexuais, travestis, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo. “Hoje toda a população está vulnerável e qualquer relação sexual sem o uso de preservativo é considerada situação de risco”, alerta Daiana.
Atualmente estão em acompanhamento no Cemas 1.100 pacientes portadores de HIV. Desses 800 fazem uso de medicamento antirretroviral. A coordenadora municipal de Aids e ISTs, Tiane Lopes Reis, chama a atenção para o fato de que nesse contingente estão donas de casa, adolescentes, homens heterossexuais, enfim, pessoas que décadas atrás estavam “fora” dos considerados grupos de risco. “Ainda existe muito estigma e preconceito com relação à Aids, mas a verdade é que qualquer pessoa pode contrair o vírus se não se prevenir”, observa ela.
Dentro desse novo contexto causa preocupação o aumento de jovens e idosos que estão contraindo o vírus. “Os idosos hoje levam uma vida bem diferente da que tinham décadas atrás, eles têm uma vida social intensa, vão a bailes, namoram, trocam mais frequentemente de parceiros e assim como o restante da população também esquecem de usar o preservativo”, disse Daiana. Atualmente mais de uma centena de pacientes acima de 60 anos fazem acompanhamento no Cemas.
Com relação aos jovens, a situação é crítica, ressalta a coordenadora do Cemas. Conforme relatório da Unaids, órgão das Nações Unidas, a cada três pessoas infectadas no mundo, uma tem entre 15 e 24 anos. No Brasil o quadro é altamente preocupante na faixa etária entre 15 e 19 anos. O número de casos nesse grupo aumentou 53% entre 2004 e 2013.
Nos últimos anos também mudou a forma de contágio. “Hoje praticamente a contaminação se dá através da relação sexual”, disse. Ela destaca que o uso de drogas injetáveis caiu muito com os programas de Redução de Danos e também que até 1993 não era feita a testagem nos bancos de sangue e dessa forma muitas pessoas acabavam se contaminando por transfusão, o que hoje é muito raro.
Já os casos de transmissão vertical, quando o vírus passa da mãe gestante para o bebê, também reduziram significativamente com o adequado acompanhamento pré-natal. Hoje 18 crianças e adolescentes soropositivas estão em tratamento no Cemas, porém nos últimos cinco anos nenhum outro caso foi registrado no município e região por contaminação vertical.
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Diagnóstico é rápido e está ao alcance de todos
O Centro Municipal de Atendimento à Sorologia (Cemas) é referência para nove municípios da 13ª CRS no tratamento de HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Uma equipe multidisciplinar, composta por infectologista, clínico geral, psicóloga, ginecologista, monitora social, técnicos de enfermagem, enfermeiros, dentistas, nutricionista, assistente social e farmacêutica, atua no local e realiza todo o acompanhamento e tratamento especializado dos pacientes, via SUS.
Para descobrir se é portador do vírus basta ir a qualquer um dos 35 locais habilitados para fazer o procedimento, que além do HIV detecta também sífilis e hepatites B e C. Nesse rol estão todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e as Estratégias de Saúde da Família (ESFs). Em caso de diagnóstico positivo, os médicos estão capacitados a prescrever medicações específicas para um posterior encaminhamento ao Cemas.
“Quanto antes a pessoa descobrir que é portadora do vírus, mais cedo ela inicia o acompanhamento”, disse a coordenadora municipal de Aids e ISTs, Tiane Lopes Reis. Esse comportamento é determinante para a qualidade de vida que o paciente terá ao longo da vida. Ela afirma que hoje a medicação para tratamento da Aids evoluiu muito em comparação ao que era anos atrás. Ao invés de vários comprimidos, existe a possibilidade de o paciente ingerir um comprimido diário.
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Ações de prevenção ganham reforço no período de carnaval
Cinco campanhas anuais para prevenção da Aids são realizadas pelo Cemas: Carnaval, Dia Internacional da Mulher, Dia dos Namorados, Oktoberfest e Dia Mundial de Prevenção à Aids, em 1º de dezembro. Durante todo o ano um projeto intitulado Flores da Noite leva orientações para os profissionais do sexo. Ações educativas acontecem nas escolas municipais e estaduais com adolescentes e também em empresas e grupos comunitários, além das feiras de saúde em diversos bairros.
A distribuição de preservativos masculinos e femininos faz parte do conjunto de ações, porém o foco é o cuidado e a prevenção da população com relação à Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Com apoio de materiais didáticos específicos, os profissionais abordam aspectos relacionados à transmissão das doenças, como se prevenir, onde buscar o diagnóstico e outras questões relacionadas.
Neste carnaval, as ações de prevenção ganharam reforço. Nesta sexta-feira, dia 24, profissionais do Cemas percorreram a Rua Marechal Floriano em um grande arrastão pré-folia, levando esclarecimento à população. As camisinhas também podem ser retiradas gratuitamente nos dispensers instalados nos prédios públicos da prefeitura, especialmente nos postos de saúde.
Já durante as quatro noites de folia no Parque da Oktoberfest, a equipe do Cemas se fará presente lembrando os foliões que se o carnaval é uma grande brincadeira, a Aids é coisa séria.
Onde procurar ajuda?
O Centro Municipal de Atendimento à Sorologia (Cemas) é referência para nove municípios da 13ª CRS no tratamento de HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). O serviço está situado na Rua Thomaz Flores, nº 806. O atendimento ocorre de segunda a sexta-feira, das 7h45min às 11h45min e das 13h às 17h. A partir de março, também terças-feiras à noite, no horário das 17h30min às 20h30min. O telefone é (51) 3715-6368.