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Caso Demóstenes: o poder do networking

O senador Demóstenes Torres terá que apresentar sua defesa aos líderes de seu partido (DEM) sobre os suspeitos telefonemas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Creio que há algumas alternativas neste caso, da pizza à renúncia, clássicas em se tratando de políticos, governantes e dirigentes. Mais do que o caso em si, um dentre tantos outros que ocorreram e certamente ocorrerão em nossa República, chamo a atenção para a questão dos relacionamentos, os quais são denominados como rede de contatos ou networking no mundo corporativo.
Composta por indivíduos que orbitam em nossos círculos de amizade profissional, cuja finalidade em última instância é obter algum tipo de benefício imediato ou futuro, seja uma recolocação, entrevista, informação ou simplesmente outro contato para que possamos nos aproximar de nosso objetivo. Formada por ex-colegas de faculdade, cursos de pós-graduação, empregos, feiras, eventos e happy hours, podem se tornar ferramentas efetivas quando bem gerenciadas.
Atualmente, grandes partes das vagas executivas não chegam a ser publicadas, contratos são fechados entre uma partida de golfe ou um jogo de tênis, assim como informações de mercado e tendências são trocadas entre um gole de uísque ou vinho. Figurões costumam ser contratados para conselhos, mais por suas agendas que pela capacidade gerencial ou empresarial comprovada. A recente admissão do ex-ministro Henrique Meirelles pela Friboi assim se justifica.
Apesar de sua importância, grande parte dos executivos se lembra em cultivá-la apenas em momentos de dificuldades, tais como perda de emprego ou em sua eminência. Sua eficácia nestes casos é reduzida, uma vez que a abordagem soará em muitos casos como interesseira e pouco elegante. Vejamos algumas dicas simples que podem ser utilizadas em seu dia-a-dia.
Seja digital: conheço alguns profissionais que se orgulham por possuir centenas de cartões de visita. Saberiam dizer quantas pessoas permanecem no mesmo emprego? E no mesmo cargo? E o que dizer daquelas que mal se lembra? Uma dica está em mantê-los em suas redes sociais, cujo trabalho de atualização ocorre por conta de cada profissional. Tenha por hábito convidá-los logo após conhecê-los, aproveitando a memória ainda fresca. Quanto aos cartões, esconda-os ou pare de se vangloriar.
Separe o joio do trigo: segmente seus contatos, já digitais, utilizando algumas regras, por exemplo: grau de intimidade, área de atuação, nível hierárquico, grupos a que pertencem ou empresas nas quais atuam ou já atuaram. Para ajudá-lo utilize as configurações disponíveis nos programas. Você poderá extrair estatísticas interessantes, as quais o auxiliarão na escolha de sua curva ABC, elegendo os contatos que farão parte de sua lista primária.
Qualidade x quantidade: já pensou com quantas pessoas conseguiria manter um relacionamento profissional em um ano? Considerando que não atue como assessor de imprensa ou atendente de telemarketing, talvez este número não passe de pouco mais de uma centena, no melhor dos casos. Tenha disciplina, elegendo e participando efetivamente dos eventos e grupos escolhidos. Separe um dia na semana para um almoço de negócios, assim como um telefonema por dia.
Gere conteúdo: não colabore para abarrotar ainda mais a caixa de entrada de seus contatos, caso não queira se tornar inconveniente. Uma saída interessante está na geração de conteúdo e na criação de grupos de discussão, tornando-se um ponto de referência. Desta maneira você manterá naturalmente o contato com seu networking, sendo lembrado de maneira positiva.
Enfim, construir uma rede de relacionamentos é uma tarefa de longo prazo que demanda paciência, foco, disciplina e certa dose de desprendimento, uma vez que se trata de uma via de duas mãos. Pedir ajuda e ajudar faz parte do jogo. Agora, acreditar que o senador não sabia que Cachoeira estava envolvido em atividades ilícitas é chamar os eleitores de ingênuos – no mínimo. Ou você costuma receber fogões, geladeiras e pedir favores como pagamento de passagens a pessoas que mal conhece?

*Mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ