A carta enviada pelo vice-presidente Michel Temer a presidenta Dilma Rousseff provocou reações dentro do PMDB. Para a ala do partido contrária ao governo, as declarações de descontentamento do vice irão provocar rearranjo de forças dentro da legenda e até mesmo fortalecer o pedido de impeachment de Dilma, que tramita na Câmara dos Deputados. Outros integrantes avaliam que a carta não significa rompimento com o governo.
Uma das mudanças apontada por peemedebistas, que se posicionam contrários ao governo, ouvidos pela Agência Brasil, é na composição do partido, como a substituição de Leonardo Picciani (RJ) da liderança do partido na Câmara. O nome mais cotado, por enquanto, é o do deputado federal Leonardo Quintão (MG). O estopim foi a lista de nomes do PMDB para compor a comissão especial que vai analisar o pedido de impeachment. As vagas são disputadas por aliados do governo e nomes ligados ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que desde o fim do primeiro semestre anunciou rompimento pessoal com o Palácio do Planalto.
Peemedebistas insatisfeitos com as indicações apresentadas por Picciani afirmam que o líder descumpriu um compromisso firmado com a bancada. “Foi uma chapa vinda do Planalto. O líder tinha feito um acordo de dividir [as vagas]. Das oito vagas de titulares do PMDB, quatro seriam de parlamentares a favor do impeachment e quatro, de afinados com o governo. No final, chamado ao Palácio, o Palácio disse que não poderia ceder e teria que indicar nomes aliados”, disse o deputado Lúcio Vieira Lima (BA), responsável por organizar chapa alternativa do partido para comissão especial que vai analisar o pedido de impeachment de Dilma.
Na carta enviada a Dilma, Temer menciona o descontentamento do acordo. “De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me, chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido”.
Segundo Lúcio Vieira Lima, foi a “indignação” com esse episódio que impulsionou conversas de peemedebistas com a oposição e aliados insatisfeitos, como deputados do PR e PP, sobre uma nova chapa para a comissão.
“Não é chapa alternativa. É uma chapa. A deles [governistas] está sendo chamada de chapa branca e não foram nomes escolhidos pelos partidos, mas pelo Planalto”, disse Vieira Lima.
Impeachment
Outra avaliação dos parlamentares é de que a divulgação do texto mostra o que ocorre nos bastidores políticos, “que foi o desprezo total”. “Isto vai forçar mudanças de posição, mas não será algo imediato. Além de presidente do PMDB, o Michel Temer é uma grande liderança, então, na hora que levou sua insatisfação, logicamente que ele vai ter a solidariedade dos amigos”, disse o deputado Lúcio Vieira Lima.
Sobre os efeitos da carta, o peemedebista Darcísio Perondi (RS), também contrário ao governo, afirmou que o gesto do vice-presidente vai ampliar o apoio pelo impeachment. Segundo ele, a carta “dura, mas “respeitosa” sinaliza o rompimento do vice com a presidenta Dilma Rousseff. “Favorece a posição do PMDB a favor do impeachment e posiciona outros partidos também. Nossa chance de chegar aos 342 votos [mínimo de votos necessários para aprovar o pedido na Câmara] para mandar o projeto para o Senado cresce substancialmente com esta decisão corajosa do Michel Temer em romper com a presidenta Dilma.”
Entre os senadores, Ricardo Ferraço (ES) diz que o partido parece estar se aproximando de Temer e desembarcar do governo. “Esse desabafo do vice-presidente Michel Temer me parece sinalizar com muita clareza aquilo que eu considero um afastamento, se não definitivo, muito próximo do definitivo do vice-presidente. Ele relata ali só ser mobilizado para apagar incêndio e que ele teria chegado ao esgotamento.”
Caráter pessoal
Em evento no Rio de Janeiro, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, que é do PMDB, avaliou que a carta é de “caráter pessoal” e não significa um rompimento do partido com o governo.
“Eu acho que é uma carta de caráter pessoal. Ele diz isso, que foi um desabafo pessoal da relação dele com a presidenta da República. Acho que devemos nos limitar a respeitar o posicionamento dele, uma vez que só ele pode externar e só ele pode ser possuidor dessas mágoas que ele relata que as possui”.
Para Castro, não há motivo para que o PMDB repense a relação com o PT. “O PMDB participa do governo, tem papel importante no governo, na execução das políticas, e não vejo nenhum fato novo, relevante, que fizesse com que o PMDB pudesse fazer uma reflexão para mudar de opinião”, disse.
O ministro afirmou que se sente “absolutamente confortável” para continuar à frente da pasta. “Tenho tido todo o apoio do governo federal e da presidenta Dilma e me sinto bastante confortavel. E é assim que vamos continuar à frente do Ministério da Saúde”.
Fonte: Agência Brasil