A Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul realizou sessão solene em homenagem a Semana da Consciência Negra. A proposta foi do vereador do Republicanos, Jéferson Redondo. Foram homenageados o bispo Dom Gílio Felicio, o primeiro vereador negro José Osmar Ipê da Silva, e a professora Marta Regina dos Santos Nunes. A solenidade, conduzida pelo presidente Ilário Keller, contou ainda com a presença da prefeita Helena Hermany.
Participaram da solenidade ainda entidades ligadas ao afro, que fizeram apresentações, como o Grupo de capoeira Oxosse e além de uma apresentação da mini bateria Nota 10 da Associação das Entidades Carnavalescas. Em seu pronunciamento, o vereador Jéferson Redondo destacou a data da Consciência Negra.
“Pela primeira vez, resultado de uma lei de nossa autoria, o poder público dedica toda a semana a celebrar a história, a cultura e às origens de negros e negras que vivem em nossa cidade, no nosso estado e no nosso país. Não que apenas uma semana seja suficiente para celebrar nossa grandeza, mas para um povo que foi arrancado a força da África, e que até hoje tem dificuldade para descobrir datas relevantes na construção de sua história, ter uma data no calendário já é um grande avanço”
Ele salientou as dificuldades que os africanos enfrentaram ao atravessar o oceano a partir do século XVI. ‘Aqui chegaram amarrados, açoitados, acorrentados para servir de escravos desde o começo. Não sabemos o nome do primeiro negro ou negra que pisou este país livremente para construir uma nova história, não que não tenhamos memória, mas por que não é desta forma que as coisas ocorreram”. Redondo destacou ainda que o Brasil foi o último país do mundo a acabar com escravidão, recebendo durante todo este período 5 milhões de escravos.
Ele apontou que existem avanços legais e comportamentais no combate ao racismo. “Mas ainda temos muito que avançar, em especial para trabalhar a questão no ambiente das escolas municipais e demais educandários da rede, pois trabalhando na formação passaremos a trabalhar a base do pensamento humano”, observou Redondo.
Os homenageados
Dom Gilio Felicio – Nasceu em Sério (RS) em 11 de novembro de 1949. É o primeiro de seis filhos de Doralino Felício e Maria Francisca Gomes Felício. Cursou o Ginásio no Seminário Menor de Arroio do Meio e Seminário Maior Filosófico no Seminário em Santa Cruz do Sul, nos anos de 1972 a 1974; fez estudos filosóficos no Seminário de Viamão e formou-se em Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC RS).
Entre 2003 e 2018 foi bispo da Diocese de Bagé, e atualmente é emérito residente em Santa Cruz, no bairro Bom Jesus. Em 1978, no dia 11 de novembro, ordenou-se como sacerdote. Lecionou como professor e diretor espiritual no Seminário São João Batista, em Santa Cruz do Sul. Trabalhou como vigário da paróquia de Nossa Senhora do Rosário, em Rio Pardo; foi assistente diocesano da Pastoral Afro-brasileira. Ainda atuou como pároco da Paróquia Nossa Senhora do Rosário em Passo do Sobrado e reitor do Seminário São João Batista, além de assistente dos seminaristas Propedêutico. Atuou ainda como vigário geral da Diocese de Santa Cruz do Sul. Em 21 de janeiro de 1998, foi nomeado bispo pelo Papa João Paulo II como bispo auxiliar da Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Em 3 de maio de 1998, na Catedral de São João Batista foi ordenado Bispo pelo cardeal Dom Lucas Moreira Neves, em Santa Cruz do Sul; trabalhou no cargo de vice-presidente da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE). Foi representante do Ecumenismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), também foi membro do Instituto Mariana (IMA); esteve envolvido nacionalmente na fundamentação do movimento da Igreja Católica dos Agentes de Pastoral Negros, foi um dos responsáveis pela Pastoral Afro-brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); foi o primeiro negro a participar do governo episcopal em Salvador, trabalhou como evangelizador das Pastorais Sociais da Arquidiocese (São Salvador da Bahia) e defensor do povo afrodescendentes; foi responsável pelo programa radiofônico “A Voz da Negritude”, na Rádio Excelsior, e também membro do Conselho Econômico e Social do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
José Osmar Ipe da Silva – José Osmar Ipe da Silva, 63 anos, natural de Vera Cruz. Em 1971 ingressou no Seminário Sagrado Coração de Jesus, de Arroio do Meio onde permaneceu por quatro anos. Após, ingressou no Seminário São João Batista em Santa Cruz do Sul, onde estudou ate a Faculdade de Filosofia. Em 1978, desistiu do Seminário sendo imediatamente contratado pelo Futebol Clube Santa Cruz como jogador profissional, onde permaneceu por uma temporada. Em 1980, fez concurso para Policia Civil. Enquanto policial, cursou a faculdade de Estudos Sociais e Direito pela Unisc. Em 1982, ingressou na Corporação Civil, sendo sido aposentado em 2009, onde assumiu a diretoria para assuntos de Segurança e Coordenador da Defesa Civil. Na Legislatura de 1992 foi eleito vereador pelo PTB. Na administração de 2009, foi nomeado Secretário da Secretaria de Desenvolvimento Social. Após esse período, exerceu advocacia. Em 2018, nomeado Agente de Desenvolvimento Social da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social. Em agosto de 2020, foi nomeado Secretário da Secretaria de Segurança, Esporte e Lazer até o término do governo da ultima gestão municipal. Atualmente exerce advocacia e reside na cidade de Vera Cruz.
Marta Regina dos Santos Nunes – Dra. Marta Regina dos Santos Nunes, 50 anos, professora universitária adjunta nas áreas de Ciências (Química) na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) possuindo 15 anos de experiência no ensino superior. Bacharel em Química Industrial pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), licenciada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mestra pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutora em Química Orgânica pela Universidade de São Paulo (USP). Realizou consultorias técnicas para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD/ONU) durante um ano e atuou como Química na Prefeitura Municipal na Secretaria de Proteção Ambiental entre 2011 e 2013. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) fez um pós-doutorado durante um ano. Ativista do movimento negro, trabalha com produção cultural a mais de 10 anos junto a ONGs, coletivos e movimentos sociais. Foi diretora cultural do clube social negro centenário de Santa Cruz do Sul (Sociedade Cultural e Beneficente União), local onde formatou, coordenou e executou um total vários projetos socioculturais e educacionais. Entre 2009 e 2020 obteve aprovação em projetos vinculados a questão étnico-racial nos campos da educação e cultura (teatro, dança, arte urbana e audiovisual). Atuou também em projetos de extensão para o ensino e divulgação de ciências (biologia, química e engenharia) para alunos da rede pública estadual e municipal, bem como na formação de professores nos campos das ciência. Nos últimos anos, tendo em vista a experiência adquirida no trabalho junto à comunidade negra e nas questões de gênero e raça, tem trabalhado em palestras, seminários e pesquisa envolvendo mulheres negras nas Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) aceitou uma proposta de trabalho, como colaboradora (visiting scholar) na Universidade da Califórnia em Davis/CA/EUA em janeiro de 2018. Atualmente também é Membro do Comitê Gestor da Política Estadual de Cultura Viva do RS (2020), membro da Comissão Estadual dos 50 anos do 20 de novembro (2020), atual vice-presidenta do Conselho Municipal de Cultura de Santa Cruz do Sul e Presidenta da Sociedade Cultural e Beneficiente União, um dos clubes sociais negros mais antigos do interior do Rio Grande do Sul.