Viviane Scherer Fetzer
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Não é sempre que se vê cabides pendurados em pontos da cidade para que as pessoas por livre e espontânea vontade doem suas roupas para aqueles que vão passar ali e que precisam de uma blusa mais quente, um cachecol, uma calça. Santa Cruz do Sul nesta semana foi tomada por uma onda de solidariedade e preocupação com o próximo. Uma das iniciativas partiu do secretário municipal de Meio Ambiente, Anderson Mainardi, que instalou em frente à secretaria, na rua Galvão Costa, uma plataforma com cabides para que as roupas sejam depositadas ali. A outra iniciativa partiu do Movimento Canto Livre, que distribuiu cabideiros em pontos estratégicos do município, sempre em espaços cobertos.
A ideia de Anderson surgiu a partir das notícias de que o frio nesta semana seria rigoroso e ele lembrou de uma ação realizada na Igreja perto de sua casa quando residia em Brasília. “A Igreja lá tinha essa plataforma com cabides e reparei que sempre funcionou muito bem, havia grande rotatividade, aí pensei em colocar um aqui na frente da Secretaria para ver como seria e em menos de 20 minutos algumas peças já tinham sido levadas”, comentou Anderson. A equipe da Secretaria fez doações para iniciar a campanha na segunda-feira e outras pessoas da comunidade que passaram por ali também deixaram sua contribuição.
O movimento Canto Livre iniciou no mês de maio distribuindo cabideiros em alguns lugares da cidade, com o chamado Cabide Livre. O primeiro local a receber foi a Igreja Evangélica Gustavo Adolfo, a segunda foi o Palacinho, também foram colocados na Estação Rodoviária de Santa Cruz e no Hospitalzinho, no Bairro Santa Vitória. A ideia dos cinco amigos é realizar ações e eventos independentes que valorizem a música autoral, produções locais, sustentabilidade, colaboratividade, solidariedade, arte e cultura, sempre trazendo algo novo para a realidade santa-cruzense e regional. Um dos integrantes do movimento, o Leonardo Peixoto, lembrou de um projeto que ele participou em Porto Alegre, que era chamado Amor no Cabide, com a mesma ideia que foi aplicada aqui. Resolveram, então, tentar trazer isso pra cá. Pensaram em vários lugares da cidade que poderiam receber esse cabide e foram atrás de materiais para fazê-los. “Lembro que logo de início tive medo de que fosse ter um fim tipo outros projetos sociais que rolaram aqui na cidade, tendo as coisas roubadas ou depredadas. Mas depois percebi que a ideia era mesmo que as pessoas roubassem o que estava lá pendurado. Quem tem roupa sobrando deixa lá e quem precisa de roupa vai lá e rouba ela para se aquecer. Não tem mistério, não tem burocracia nenhuma e ajuda nas horas que as pessoas mais precisam, afinal na madrugada não existe campanha do agasalho”, contou um dos integrantes do Movimento, Rodrigo Lucchese Kämpf.
Quanto a circulação das roupas, Anderson contou que um homem chegou de manga curta na terça-feira, dia mais frio da semana, pegou um sobretudo, vestiu e analisou no reflexo dos vidros da Secretaria se tinha dado certo e saiu com um sorriso no rosto e seu novo companheiro. “Não tem burocracia nenhuma, chega e larga a roupa ali, assim como quem vai pegar, não precisa falar com ninguém”, explicou Anderson. Os integrantes do Canto Livre: Rodrigo Lucchese Kampf, jornalista, Leonardo Neves Peixoto, psicólogo, Frédéric Helfer, estudante de produção musical, Fábio Leipelt, estudante de engenharia de bioprocessos e Diana Arend, estudante de design gráfico, fizeram tudo com materiais recicláveis. “Para nossa surpresa, o funcionamento deles pareceu ser instantâneo, principalmente na igreja. Percebemos que o pessoal da Gustavo Adolfo abraçou a ideia, mesmo sem termos pedido nada pra eles. Todos os dias tinha roupas novas lá e todas as noites as roupas eram levadas por quem estava precisando”, contou Rodrigo.