Luísa Ziemann
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Desde a proclamação feita por Dom Pedro I às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, no dia 7 de setembro de 1822, são 200 anos de independência do Brasil. O acontecimento marcou o fim do controle da corte portuguesa sobre o país e o início da elaboração e organização do Estado brasileiro. Mas, mesmo com a declaração de autonomia política, o período que a sucedeu foi conturbado e marcado por conflitos em busca de direitos e ideais de liberdade.
Para tornar o país mais desenvolvido e de fato livre do controle português, o Brasil passou por inúmeras disputas de poder. Desde então, é claro, muita coisa se transformou. A cultura foi se tornando amplamente diversificada e cada região passou a mostrar suas próprias particularidades. Vocabulário, religiosidade, músicas, danças e festas, culinária, belezas naturais, artes em geral. Tudo se expandiu e, pouco a pouco, ganhou a cara do Brasil e o mundialmente famoso “jeitinho brasileiro”.
O Brasil tornou-se um país rico culturalmente, proporcionando um leque de entretenimentos completo tanto para a própria população quanto ao público exterior. Porém, a nação que tinha tudo para ser igualmente forte economicamente, acabou se tornando uma promessa não cumprida. Com imensas áreas férteis, milhares de rios, a maior floresta tropical do mundo, quase 11 mil quilômetros de litoral e abundantes recursos naturais, o potencial de desenvolvimento do país era gigantesco. Isso sem falar na população extremante diversificada, que combina influências, experiências e aptidões de cinco continentes.
Mas, mesmo com tantos atributos, hoje o Brasil vive uma realidade muito aquém do que se esperava e apresenta dados alarmantes sobre pobreza e desemprego. “O Brasil é independente política, jurídica e administrativamente desde 1822, portanto há 200 anos, conforme consta nas datas oficiais.
Entretanto, não houve, digamos, independência social”, salienta o professor do curso de História e do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), José Antônio Moraes do Nascimento.
O historiador explica que, mesmo após a proclamação da independência, o apossamento de terras, formando latifúndios, continuou. “A estrutura agrária e a produção monocultora para exportação foi uma das características principais do Brasil. Entretanto, essa produção agrícola sempre foi dependente dos recursos do Estado, que o financiou e financia até hoje”, afirma. “O saque às terras indígenas, que vinha desde 1500, seguiu acontecendo; a destruição florestal iniciada com a extração do pau-brasil se acelerou; e a escravidão permaneceu com a independência, assim como a exclusão do negro livre do mercado de trabalho foi constante com a república.”
De acordo com o professor de História, até hoje não houve independência em relação à economia. “O país deixou de ser dependente economicamente de Portugal e passou a depender da Inglaterra, até o início da república. Depois, passou para a dependência econômica dos Estados Unidos, do qual continua até hoje”, destaca. Por isso a maior luta dos brasileiros continua sendo conquistar independência social, cultural e econômica.
“Primeiro, é preciso mudar a forma como lidamos com o ambiente. Os vários incidentes climáticos que vivenciamos no cotidiano são alertas. Também é preciso mudar a matriz produtiva agrícola do latifúndio, que faz uso de agrotóxico, polui o ambiente, gera riqueza individualizada e pobreza social. E ainda buscar uma independência cultural com valorização dos grupos marginalizados, como é o caso dos indígenas e dos negros”, aponta Nascimento.
As fases do Brasil independente
| Primeiro Reinado
O primeiro período após a independência vai de 1822 até 1831. É o momento do governo de D. Pedro I, caracterizado pela imposição da independência e o surgimento de vários movimentos de resistência a ele, o que vai ocasionar sua abdicação ao trono, em 1831.
| Período Regencial
Aconteceu de 1831 até 1840, em que o país passou a ser governado pela primeira vez por brasileiros. “Costumo dizer que a independência política do Brasil foi um processo que iniciou em 1808, com a chegada da família real, e concluiu em 1831, com o governo regencial”, explica o historiador José Antônio Moraes do Nascimento. Com a saída de D. Pedro I, que preferiu ser rei de Portugal em vez de imperador do Brasil, e por seu herdeiro ainda ser uma criança, o país passou a ser governado por regentes até 1840, quando D. Pedro II assumiu o trono.
| Segundo Reinado
Ocorreu de 1840 a 1889, quando D. Pedro II assumiu o trono em meio a inúmeros conflitos, em que elites regionais disputavam o poder. “É nesse contexto, por exemplo, que se insere a Revolta dos Farrapos, uma luta de parte da elite econômica e política do Rio Grande do Sul contra o pagamento de impostos. Assim como outras, foi derrotada pelo exército imperial. Dom Pedro II, ao derrotar essas revoltas regionais, consolida o poder por quase 50 anos”, relembra Nascimento. Nesse momento há a ascensão do café no sudeste brasileiro, a chegada maior de imigrantes, a luta abolicionista, a Guerra do Paraguai e o fim da escravidão, em 1888, após grandes mobilizações populares.
| Período Republicano
Se inicia em 1889, quando o imperador é retirado do poder e o país passa a ter seu governante máximo escolhido pelo voto. “Apesar de alguns conflitos e revoltas, a república é instituída e se mantém até a atualidade. É o momento em que se constrói uma ideia de identidade nacional e também passa a ocorrer maior participação popular nas políticas e práticas governamentais”, explica Nascimento.