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Já pensou se alguem souber que não assisto ao Big Brother Brasil (BBB)? Ai, que vergonha! Será que serei excluído dos grupos de amigos? Será que serei cumprimentado nas ruas? E terá gente atravessando a rua para não passar por mim quando me ver? Serei eu um mutante da espécie humana, tendo desenvolvido anticorpos anti-BBB no meu sistema imunológico? Eis um bom tema para uma tese. Como diria uma amiga minha, um bom nome para uma banda: “BBB – antigenouanticorpo”. Assim mesmo, tudo junto, mas remetendo à pergunta: antígeno (corpo estranho) ou anticorpo? Banda de rock, mas com pandeiro, cuíca e tamborim. Na boa: é pra brasileiro ter assunto, esquecer os problemas do dia-a-dia. Coisa leve. “Pesar pra quê? Pensar pra quê?” Tem mais: se a Globo faz é porque tem quem pague. E não são só os grandes patrocinadores institucionais. Quem banca é o povo. São milhões de ligações telefônicas em dia de paredão. E mais: no outro dia vão ao super-mercado e às lojas comprar os produtos anunciados no BBB. Algo errado nisso? Não.
Há milênios a humanidade convive e tenta repudiar o desrespeito. Desrespeito na discriminação racial, na discriminação sexual, profissional, religiosa, social. Tenho visto agora uma discriminação cultural. Você é contra o BBB? Perfeito. Defendo teu direito de sê-lo. Mas não desrespeita quem curte. Não gosta? Troca de canal. Não liga pra Globo pra votar em quem vai ou fica no paredão ou sei lá no quê.
O mundo já tem intolerância demais. As novelas e o BBB são o teatro do povo. Não são todos que conseguem assistir a uma grande peça de teatro em um grande teatro. Ou assistir a uma apresentação de uma grande companhia de dança, a uma ópera ou a um recital de uma orquestra, frequentar museus, ler um clássico da literatura. Acredito que a grande maioria das pessoas quer cultura e gostaria de ter mais, mas nem todos foram orientados, educados, lapidados para a cultura. O verbo querer já guarda em si um certo valor. Quem quer, percorre uma trajetória que não pode e não deve, absolutamente não deve nunca ser desrespeitada, qualquer que seja o degrau em que pisa. Há pessoas que se consideram cultas, como se fosse possível dizer: “- agora estou pronto, sou culto(a)”. Cultura é uma palavra ampla, e pode ser também entendida como o senso de observação do comportamento de pessoas de diferentes perfis, e tentar entender como elas se relacionam, livres nas ruas ou confinadas em uma casa.
Pedro Bial, o apresentador do BBB na Rede Globo, é autor de um conhecido texto que diz: “… Use fio dental. Não perca tempo com inveja. Às vezes se está por cima, às vezes por baixo. A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo…” Em vista do BBB que Bial apresenta, não se tem certeza de que, nesse texto, fio dental expressa um utensílio de higiene bucal, ou uma peça íntima feminina. Da mesma forma, ele dizendo que às vezes se está por cima e às vezes por baixo, empresta reticências a qualquer interpretação. A peleja ser longa e, no fim, ser só você contra você mesmo, parece querer dizer ao vencedor, que o BBB não termina quando acaba. O vencedor que liderou o grupo terá agora que ser líder de si próprio. Parece que no fim de qualquer longa peleja ficamos sozinhos, como quando começamos.