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Autismo | Abril Azul: o mês da conscientização

Neuropsicóloga Andressa Sehn traz informações sobre o transtorno do espectro autista, o TEA

Andressa Sehn auxilia pacientes com TEA
Divulgação

Guilherme Athayde
jornalismo@riovalejornal.com.br

Estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), abril é o mês utilizado para conscientizar a população mundial sobre o transtorno do aspecto autista (TEA), uma condição que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), afeta cerca de dois milhões de brasileiros. Com o surgimento de mais estudos sobre o tema, o número de diagnósticos tem crescido a cada ano.

Segundo números da OMS, apenas nos Estados Unidos, o número de crianças de até oito anos diagnosticadas com autismo saltou de uma a cada 160 na década dos anos 2000, para uma a cada 36 em 2020. Um dos poucos estudos sobre autismo no Brasil foi feito pela Universidade de Passo Fundo (UPF). O levantamento realizado no município de Norte do Estado com todas as crianças com idades entre 2 e 12 anos concluiu que uma a cada 30 avaliadas apresentavam autismo.

Mesmo com o aumento de informações sobre o tema nos últimos anos, o TEA ainda não é amplamente conhecido pela maioria da população. Sancionada pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), em setembro de 2019, a Lei 15.322 instituiu a Política de Atendimento Integrado à Pessoa com Transtornos do Espectro Autista. Ela tem como base a Lei Federal 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

Para saber mais sobre o assunto, a reportagem do Riovale Jornal entrou em contato com a psicóloga Andressa Sehn, especializada em Neuropsicologia. Confira a entrevista a seguir.

Riovale Jornal – O que é o autismo? Como ele é diagnosticado e quais suas causas?

Andressa Sehn – O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades na comunicação social e por comportamentos repetitivos ou restritos. Ele se manifesta de formas variadas, podendo ir desde quadros mais leves até aqueles que exigem maior suporte. O diagnóstico do TEA é clínico e baseado nos critérios do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) ou da CID-11 (Classificação Internacional de Doenças). O diagnóstico pode ser realizado por médicos psiquiatras, neurologistas e, geralmente, envolve equipes multidisciplinares, incluindo neuropsicólogos.
As causas do autismo ainda não são completamente compreendidas, mas há um forte componente genético envolvido. Fatores ambientais também podem influenciar, mas não há uma única causa identificada. O que se sabe com certeza é que o TEA não é causado por vacinas, estilo de criação ou qualquer fator isolado, sendo uma condição complexa que exige compreensão e suporte especializado.

RJ – Qual o tratamento do TEA? Ele é acessível para todos?

Andressa – O tratamento do TEA é multidisciplinar e individualizado, adaptado às necessidades de cada pessoa. Algumas abordagens fundamentais incluem:
•Intervenção Comportamental: A Análise do Comportamento Aplicada (ABA), também minha especialidade, é uma das principais terapias para o autismo, ajudando a desenvolver habilidades e reduzir comportamentos desafiadores;
•Terapia Ocupacional: Focada no desenvolvimento da autonomia e na regulação sensorial;
•Fonoaudiologia: Essencial para melhorar a comunicação verbal e não verbal;
•Psicoterapia e Neuropsicologia: Auxiliam no desenvolvimento emocional e cognitivo;
•Medicação: Em alguns casos, pode ser indicada para tratar sintomas associados, como ansiedade, hiperatividade ou dificuldades de sono.
Apesar da importância dessas intervenções, o acesso ainda é um desafio. Muitos serviços especializados não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) ou são oferecidos de forma limitada. O custo das terapias particulares também pode ser um obstáculo para muitas famílias. Embora haja avanços em políticas públicas, a demanda ainda é maior que a oferta, tornando essencial a luta por mais inclusão e acessibilidade nos tratamentos.

RJ – Qual é a sua opinião sobre a importância de campanhas de conscientização sobre o TEA, como o Abril Azul? Ainda há muito desconhecimento sobre a questão?

Andressa – As campanhas de conscientização, como o Abril Azul, desempenham um papel fundamental na disseminação de informações sobre o TEA e na redução do estigma e preconceito. Ainda há muito desconhecimento sobre o autismo, e essa falta de informação pode levar a dificuldades no diagnóstico precoce, barreiras na inclusão escolar e no mercado de trabalho, além da escassez de políticas públicas efetivas. Essas campanhas ajudam a dar visibilidade às necessidades das pessoas autistas e suas famílias, promovendo debates sobre inclusão, acessibilidade e suporte adequado. Além disso, possibilitam que a sociedade compreenda melhor o TEA, incentivando uma postura mais empática e acolhedora.

RJ – Como você avalia a estrutura do Estado para lidar com o autismo?

Andressa – O Rio Grande do Sul tem avançado na estruturação de políticas públicas voltadas ao atendimento de pessoas com TEA. O Programa TEAcolhe, por exemplo, tem sido um marco na ampliação da oferta de serviços especializados, fortalecendo a rede de suporte às pessoas autistas e suas famílias. Aqui em Santa Cruz do Sul, tive a oportunidade de fazer parte do início desse processo, contribuindo para a implementação dos serviços voltados ao TEA. Esse envolvimento reforçou minha percepção da importância de políticas públicas bem estruturadas e acessíveis.

Apesar dos avanços, ainda há desafios, como a necessidade de ampliar a capacitação de profissionais, garantir maior alcance dos serviços e fortalecer a inclusão educacional. No entanto, iniciativas como essas demonstram um compromisso crescente com o suporte às pessoas autistas e suas famílias, promovendo maior acesso a intervenções especializadas e à informação.

RJ – O que é a neuropsicologia? Há quanto tempo você trabalha com essa especialização e com pessoas com o TEA?

Andressa – A Neuropsicologia é uma especialidade da Psicologia que investiga a relação entre o cérebro e o comportamento, auxiliando no diagnóstico e intervenção de transtornos do neurodesenvolvimento, como o transtorno do espectro autista (TEA). Sou psicóloga há 19 anos e trabalho com autismo há 12 anos. Meu envolvimento com o TEA se intensificou quando meu filho recebeu o diagnóstico aos três anos de idade, o que transformou minha trajetória profissional e pessoal. Minha formação de base é Psicologia, com especializações em Neuropsicologia, Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e outras áreas da saúde. Atualmente, curso um mestrado em Psicologia, aprofundando ainda mais meus estudos na área. Atuo desde a avaliação neuropsicológica de crianças, adolescentes e adultos, auxiliando no psicodiagnóstico do TEA e comorbidades, até a intervenção baseada em ABA, com foco no desenvolvimento de habilidades sociais, regulação emocional e autonomia. Também realizo psicoterapia para autistas e orientação parental, promovendo suporte especializado e baseado em evidências científicas.

Nas redes sociais

Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho da psicóloga Andressa Sehn pode acessar o perfil @andressasehn_neuropsicokids no Instagram, que tem diversas informações sobre o transtorno do espectro autista (TEA), infância e adolescência, entre outros assuntos interessantes e muito importantes. Em Santa Cruz do Sul, o atendimento com hora marcada ocorre na Rua 28 de Setembro, 221, sala 302, Centro.

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