Luciana Mandler
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Nicole Schiavi Kaufmann, tem 9 anos e está no 3º ano do Ensino Fundamental do Colégio Mauá. Incentivada pelos pais para praticar o hábito da leitura, a menina costuma ler livros de literatura infantil em geral, desde os clássicos a livros de aventuras, fadas e detetives. Até o início da pandemia, ela costumava ler uma média de oito livro por mês. Após, passou a ler de 10 a 12 livros, conforme conta a mãe Cristine.
JOVENS LEITORES
Nesta semana, mais especificamente no dia 29 de outubro, quinta-feira, é comemorado o Dia Nacional do Livro. Aproveitamos esta data para fazer uma reflexão sobre leitura. Embora diminuiu de 56% para 52% o número de leitores no Brasil, por outro lado, a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, revela que aumentou o número de crianças leitoras, com idades entre 5 e 10 anos. A única faixa etária que teve um desempenho melhor em 2019.
Entre elas, 48% disseram que leem por gosto, porcentagem que vai diminuindo gradativamente. Nas duas pesquisas anteriores, de 2011 e 2015, houve uma manutenção no porcentual de leitores dos 11 aos 17 anos. Entre crianças de 11 a 13 anos, o percentual é de 33% que leem por gosto e entre os 14 a 17 anos é de apenas 24%. Apesar da queda a partir dos 11 anos, a coordenadora da pesquisa, Zoara Failla, acredita que o aumento da leitura entre as crianças menores pode ter impacto positivo na faixa etária seguinte na próxima pesquisa.
Para Cristine, mãe de Nicole, a leitura proporciona muitos aprendizados, seja pelo conteúdo dos livros, muitas vezes fazendo refletir e aprimorar o modo de pensar e de agir, seja pela evolução na capacidade de escrever e de se expressar e se comunicar adequadamente. “No caso da Nicole, percebemos que a leitura, além de melhorar o raciocínio lógico, também auxilia no desempenho da escrita, melhorando a grafia das palavras, pontuação, formação de frases e períodos, interpretação e maior facilidade na produção de textos”, finaliza.
O ESTÍMULO
A mãe da menina revela que sempre gostou muito de literatura. “Desde a idade escolar tive o hábito de ler bastante”, recorda. “E por entender que a leitura nos torna pessoas melhores, eu e meu marido procuramos estimular desde cedo esse hábito as nossas duas filhas, a Nicole, de 9 anos e Natália, de cinco”, acrescenta.
Cristine diz que na casa da família existem alguns combinados em relação à leitura e procura-se estabelecer uma rotina. “No caso da Nicole, passou de ser de 30 minutos diários desde que as aulas presenciais foram suspensas em razão da pandemia”, aponta. “Sempre que possível, antes de dormir eu e ela costumamos sentar juntas e ler, cada uma com seu livro, pelo tempo combinado”, explica. Quando sabe que não vai conseguir ler com a filha, Cristine deixa combinado que durante o dia Nicole irá se organizar e fazer a leitura diária sozinha. “Depois ela me conta com entusiasmo o quanto conseguiu ler, detalhes das histórias e se terminou ou iniciou um novo livro”, orgulha-se.
Algumas vezes, Nicole senta para fazer a leitura e diz que está com vontade de brincar, olhar televisão ou fazer outra coisa, mas depois que começa a ler se empolga e acaba lendo por tempo até maior do que o combinado, descreve Cristine.
VONTADE DE LER
Quem também tem fascínio pela leitura é Guilherme Bugs, de oito anos, que também está no 3º ano do Ensino Fundamental do Colégio Mauá. Segundo a mãe Luana, desde bebê, ela e o marido liam e contavam histórias ao filho, assim como para o primogênito Gustavo, que hoje está no 8º ano.
Luana diz que Guilherme sempre demonstrou muita vontade de ler e aprendeu a ler com cinco anos. “Seu primeiro livro foi ‘O Menino que Aprendeu a Ver”, da Ruth Roth, que fala sobre as descobertas de um menino que, aos poucos começa a decifrar a escrita e aprende a ler e então passa a ver tudo de modo diferente. “O Gui se inspirou tanto no livro, que, no primeiro ano fez questão de ler a história para seus colegas que também estavam ‘aprendendo a ver’, comenta.
Hoje, maiorzinho, o garoto gosta de livros que tenham ação, zumbis, dinossauros, mistérios, coleções como Bat Pat, Goosebumps, Minecraft, entre outros. “Fico imensamente feliz que meus filhos possam e gostem de ler, e tenham acesso a este universo tão grande e maravilhoso”, enaltece. “O Colégio Mauá tem um papel fundamental neste sentido, despertando, encorajando, instigando e proporcionando momentos, como por exemplo, encontro com autores de obras que as crianças trabalham durante o ano. Isso é demais”, sublinha Luana admirada.
Para a mãe de Guilherme, a leitura abre caminhos, abre possibilidades, não trata-se apenas de imaginar, sonhar e fantasiar. Trata-se de perceber e enxergar as coisas e os fatos sob outros olhares, outras perspectivas”, reflete.
PANDEMIA
Com a pandemia de Covid-19, desde março, as crianças têm estado fisicamente distantes da escola e para a diretora da Catapulta Editores no Brasil, Carmen Pareras, o livro infantil pode ter ganho um espaço nas atividades em casa, entre pais e filhos. As medidas para conter o novo coronavírus envolveram o isolamento social e com isso, lojas de diferentes áreas do comércio se mantiveram fechadas e distantes do público, principalmente entre os meses de março e julho deste ano.
Sendo assim, foi preciso acelerar o processo de comercialização através de canais eletrônicos, conforme Carmen, o que fez com que as mídias online aproximassem o público. “Receber itens de compra em casa se tornou mais comum no período da pandemia e isso foi um dos fatores que aproximou toda a família dos livros infantis”, avalia.
Ainda de acordo com Carmen, antes, as crianças se isolavam e ficavam concentradas em jogos eletrônicos. Com a facilidade de receber livros em casa, muitos mais e filhos se aproximaram e melhoraram a interação.
PESQUISA
Esta é a 5ª Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, coordenada pelo Instituto
Pró-Livro em parceria, pela primeira vez, com o Itaú Cultural e realizada pelo
Ibope.
Um universo de possibilidades
Braulio Vogt é proprietário da Livraria Iluminura, em Santa Cruz do Sul. Além de livros adultos, também conta com infantis e infanto-juvenil. Ou seja, há opções para todos os gostos e idades. No mundo infantil, são vários os títulos que as crianças gostam, não tem uma preferida, segundo ele. “O que tem sido mais procurado são as coleções como Harry Potter, Casa na Árvore, Diário de um Banana”, exemplifica. “Vendemos um pouco de todas as idades”, reforça.
Questionado se os pais têm tido o hábito de levar os filhos para a livraria, Braulio destaca que há pais, clientes que levam seus filhos desde muito pequenos e que transformaram em hábito frequentar a loja. “Alguns já são adolescentes e continuam vindo com ou sem os pais. Vem para tomar um café ou para comprar um livro. É muito bacana ver que os pais conseguem tornar seus filhos leitores, o que hoje em dia está bem difícil”, avalia.