É muito bom ver de novo a gurizada na rua, o movimento na frente das escolas. É um sopro de vida na cidade, lembra-nos o que representa a educação para a vida das pessoas; muito mais que a simples transmissão de conteúdo, é vivência.
Como pais, nos cobramos muito pela presença na vida dos filhos. E realmente essa presença é alicerce, fundamento. Mas isso tem limites, não é mais o nosso tempo, é o deles. E criança tem que conviver com outras crianças, jovem tem que conviver com outros jovens.
Considero, no entanto, precipitado esse retorno às aulas, diante do que tenho lido a respeito do atual estágio da pandemia e a baixa velocidade da vacinação. Pressionadas politicamente, as autoridades estaduais e municipais decidiram pelo recomeço imediato, contra a orientação dos epidemiologistas. Mas isso já está decidido e vai trazer, evidentemente, muitos momentos legais para todos, ansiosos pela normalização de suas vidas.
Já nós, adultos, sabemos que não há nenhuma normalidade em curso. O Rio Grande do Sul vai para o seu segundo mês consecutivo de redução populacional, fato inédito. Nossos números ainda estão bem piores que no ano passado. O que está acontecendo agora é que a sociedade, através de suas autoridades legitimamente constituídas, resolveu correr esse risco. Que não é só dos frequentadores da escola, é de todos. Quem andou hoje por aí pode ver o aumento geral de circulação que isso representou na cidade. Mas trata-se da Educação, um valor tão caro para nós, e vamos todos correr esse risco, até certo ponto calculado, e fazer todo o possível para que dê certo. Que esse aumento de circulação seja responsável.
Aquele estudante que estiver acompanhando bem os estudos a distância colaborará muito com a sociedade permanecendo em casa, como recomendou a secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira. Quem tiver que frequentar as aulas presencialmente que o faça com todos os cuidados e evite circular pela cidade mais do que o estritamente necessário.
Resta saber, no entanto, até onde vai a disposição da sociedade em lutar por esse valor. Se vamos seguir aceitando a redução no orçamento federal para a Educação, um corte de 27% em relação ao ano passado, a exemplo do que aconteceu com a Saúde, Ciência e Tecnologia, enquanto sobrou dinheiro para dobrar as verbas de investimento do Ministério da Defesa e aumentar sua fatia no orçamento. Em vez de nos prepararmos para a guerra, não deveríamos estar nos preparando para encarar os desafios tecnológicos e sociais da “Indústria 4.0”? Será que vamos continuar aceitando que verbas federais da educação sejam redirecionadas, como aconteceu agora em abril, para comprar apoio parlamentar com a liberação de emendas parlamentares individuais, que nada mais são que o “seguro-reeleição” dos deputados? E vamos, finalmente, valorizar os professores, cuja presença é requisitada como essencial, já que o modelo de ensino a distância se mostrou insuficiente?
Não me recordo de ver cartazes sobre esses temas nos carros que buzinavam.