A vida em família é uma empreitada complexa, que pode chegar a rupturas e isolamentos. Às vezes a crise acontece por brigas e desentendimentos entre o casal, outras pela discórdia entre irmãos ou pelo relacionamento entre pais e filhos estar em crise. O problema é quando ninguém quer dar “o braço a torcer” e os familiares acabam carregando, durante anos a fio, uma torrente de ressentimentos e amarguras.
Eu, por exemplo, durante anos, tive assuntos mal resolvidos com meu pai. De certa maneira estava empacado e não conseguia levar minha vida adiante. Era para meu próprio beneficio que eu tinha que pedir e liberar perdão. Precisava desse relacionamento restaurado para me tornar saudável e bem-sucedido.
Foi então que tive a ideia de fazer um filme sobre a vida do meu pai para apresentá-lo no primeiro dia do mês de janeiro do ano dois mil – dia de seu aniversário de número 62.
Percorri várias cidades e, com uma câmera de vídeo nas mãos, viajei pelo passado do meu pai, captando, secretamente, informações sobre a infância e juventude dele.
No dia tão esperado, um telão refletiu toda a admiração que os companheiros de profissão, amigos e familiares tem pelo seu José Benemidio Almeida. No fim do filme, eu dizia as seguintes palavras:
“Pai, eu resolvi fazer esta homenagem, para mostrar o quanto o senhor é importante para nossa família. E quero aproveitar este início de ano para restaurar nosso relacionamento. O senhor é como uma árvore, e nós, seus filhos, somos como ramos. Há alguns anos, um ramo caiu dessa árvore, secou e quase morreu. Eu gostaria muito de recolocá-lo de volta para que ele volte a dar frutos. Talvez o senhor não saiba, pai, mas eu cresci, tenho cérebro, e sei que penso bobagens. Porém, gostaria de contá-las ao senhor, a partir de hoje, e não para os outros que me escutam, mas não dão a mínima pra mim. Convido-o, também, se não tiver nenhum compromisso mais importante, para nos visitar um dia desses e brincar de vovô com seu neto. E aproveito para pedir perdão pelos anos que desonrei o seu nome e o sobrenome de nossa família”.
Meu pai agarrou o microfone, mas não saiu uma só palavra de sua boca. E quando subitamente lhe dei um beijo carinhoso no rosto, apenas os aplausos das pessoas ressoaram no meio das árvores.
Desde aquele dia, somos uma família feliz. A reconciliação curou as feridas de nossa alma.